Dados de ensaios clínicos que mostram que interações medicamentosas podem aumentar o risco de progressão tumoral em pacientes com câncer colorretal - Oncologia Brasil

Dados de ensaios clínicos que mostram que interações medicamentosas podem aumentar o risco de progressão tumoral em pacientes com câncer colorretal

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Estudo sobre interações medicamentosas potencialmente deletérias em pacientes oncológicos foi apresentado pela Dra. Rachel Riechelmann, diretora da Oncologia Clínica do A.C.Camargo Cancer Center, durante a ESMO 2020

Dra. Rachel Riechelmann, diretora da Oncologia Clínica do A.C.Camargo Cancer Center e presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG), apresentou na ESMO 2020 os dados de ensaios clínicos que mostram que interações medicamentosas podem aumentar o risco de progressão tumoral em pacientes com câncer colorretal tratados com capecitabina mais oxaliplatina (CAPOX) ou fluorouracil, leucovorin e oxaliplatina (FOLFOX) no cenário adjuvante.

Dados do estudo LOGIC mostram, por exemplo, que os inibidores de bomba de prótons (IBPs) têm um efeito significativo na sobrevida livre de progressão (SLP) e na sobrevida global (SG) em pacientes com câncer gástrico HER2+ em tratamento com CAPOX com ou sem lapatinibe. Os pacientes tratados com IBP apresentaram SLP mediana mais baixa, 4,2 versus 5,7 meses (HR 1,55; IC 95%, 1,29-1,81, p < 0,001); SG de 9,2 versus 11,3 meses (HR 1,34; IC 95% 1,06-1,62; p = 0,04); e taxa de controle da doença inferior (72% versus 83%; p = 0,02) versus pacientes não tratados com IBP. Na análise multivariada, considerando idade, raça, estadio da doença e sexo, os pacientes tratados com IBP apresentaram pior SLP (HR 1,68; IC95% 1,42-1,94; p < 0,001) e SG (HR 1,41; IC95%, 1,11-1,71; p = 0,001).

Estudos anteriores, incluindo muitos do grupo da Dra. Riechelmann, indicaram que possíveis interações medicamentosas ocorrem em cerca de 2/3 dos pacientes internados e em aproximadamente 1/3 dos pacientes ambulatoriais. Outro, também realizado pela equipe da oncologista, sugeriu que 2% das internações não-seletivas entre pacientes oncológicos eram para interações medicamentosas. Há ainda mais um estudo que sugeriu que 4% das mortes oncológicas nos hospitais ocorriam após reações adversas a medicamentos ou interações.

As interações medicamentosas mais comuns em oncologia envolvem o uso de aspirina, varfarina, betabloqueadores e corticosteroides. Dra. Rachel destacou o olaparibe como um caso interessante: a administração concomitante de medicamentos que atuam como inibidores ou indutores da CYP3A4 pode afetar a exposição a esse medicamento; o itraconazol aumenta significativamente a exposição e a rifampicina a reduz significativamente.

A orientação, portanto, é que seja evitada a polifarmácia, sendo necessário acompanhar pacientes com comorbidades e rastreá-los quanto a possíveis interações medicamentosas.

Saiba mais:
Chu MP, Hecht JR, Slamon D, et al. Association of Proton Pump Inhibitors and Capecitabine Efficacy in Advanced Gastroesophageal Cancer: Secondary Analysis of the TRIO-013/LOGiC Randomized Clinical Trial. JAMA Oncol. 2017;3(6):767–773. doi:10.1001/jamaoncol.2016.3358

Miranda V, Fede A, Nobuo M, Ayres V, Giglio A, Miranda M, Riechelmann RP. Adverse drug reactions and drug interactions as causes of hospital admission in oncology. Journal of pain and symptom management. 2011 Sep 1;42(3):342-53.