Trabalho apresentado no 62º Congresso Anual da ASH avaliou a incorporação precoce do blinatumomabe em pacientes com leucemia linfoblástica aguda (LLA) de células B Ph-negativo recém-diagnosticada, levando em conta a hipótese de diminuição da necessidade de quimioterapia intensiva, uma vez que o uso de blinatumomabe resultaria em respostas mais profundas e duradouras, com consequente ganho de sobrevida.
É sabido que a quimioterapia combinada alcança taxas de remissão completa de 80-90% no tratamento da LLA cromossomo Filadélfia (Ph) negativo. Muitos pacientes, no entanto, apresentam recidiva, levando a uma taxa de cura de apenas 40-50%. O blinatumomabe, por sua vez, é altamente eficaz tanto no cenário de recidiva/refratariedade quanto na erradicação da doença residual mensurável (DRM).
Neste estudo, eram elegíveis pacientes entre 14 e 59 anos de idade com pré-LLA-B Ph-negativo recém-diagnosticados, incluindo indivíduos que não receberam mais de um ciclo anterior de quimioterapia. Os pacientes recrutados tinham um status de desempenho ≤ 3, bilirrubina total ≤ 2 mg/dL e creatinina ≤ 2 mg/dL.
Eles receberam hiper-CVAD alternando com metotrexato em alta dose e citarabina por até quatro ciclos, seguido por quatro ciclos de blinatumomabe em dose padrão. Pacientes com doença CD20+ (≥ 1% células) receberam oito doses de ofatumumabe (2000 mg) ou rituximabe (375 mg/m²). Oito administrações de quimioterapia profilática intratecal foram dadas nos primeiros quatro ciclos. A manutenção foi com blocos alternados de POMP (administrado nos ciclos de manutenção 1-3, 5-7, 9-11 e 13-15) e blinatumomabe (administrado nos ciclos de manutenção 4, 8 e 12). Após dois pacientes com características de alto risco apresentarem recidiva precoce antes da administração de blinatumomabe, o protocolo foi alterado para pacientes #10+ a fim de que os indivíduos com características de doença de alto risco (por exemplo, CRLF2 + por citometria de fluxo, cariótipo complexo, rearranjo de KMT2A, baixa hipodiploidia/próximo à triploidia, mutação TP53 ou DRM persistente) iniciassem blinatumomabe após dois ciclos de hiper-CVAD.
Ao todo, 39 pacientes foram tratados, 34 dos quais foram avaliados quanto à eficácia. Seis pacientes estavam em remissão completa (RC) no momento da inscrição e não tiveram valor para a resposta morfológica. A idade média foi de 36 anos. Pelo menos uma característica de alto risco estava presente em 19 pacientes (56%), incluindo mutação TP53 em 27%, CRLF2+ em 20% e um cariótipo de risco adverso em 26%. 82% dos pacientes receberam ofatumumabe ou rituximabe.
Entre 28 pacientes com doença ativa no início do estudo, 100% alcançaram RC, com 82% alcançando RC após o primeiro ciclo. A negatividade DRM por citometria de fluxo de seis cores foi alcançada em 20/23 respondedores (87%) após um ciclo e 33/34 pacientes (97%) no geral. Não houve mortes precoces e a taxa de mortalidade em 60 dias foi de 0%.
Com um acompanhamento médio de 22 meses, as taxas de remissão contínua e SG em dois anos foram 79% e 86%, respectivamente. No geral, cinco pacientes (15%) recidivaram, 12 (35%) foram submetidos ao transplante alogênico na primeira remissão e 17 (50%) permanecem em remissão contínua, estando em tratamento ou pós conclusão da terapia de manutenção. Todas as recaídas ocorreram em pacientes com características de baixo risco estabelecidas, incluindo dois indivíduos com rearranjo KMT2A, dois pacientes com mutação TP53 (um dos quais era hipodiplóide baixo) e um com contagem de leucócitos basal de 32 x 109/L. Duas dessas recaídas ocorreram durante os ciclos de hiper-CVAD antes da emenda que permite a integração mais precoce do blinatumomabe para pacientes com doenças de alto risco.
O tratamento foi globalmente bem tolerado. Quatro pacientes desenvolveram síndrome de liberação de citocina de grau 2-3 (grau 2, n = 3; grau 3, n = 1) que se resolveu com corticosteroides e interrupção do blinatumomabe. No geral, 14 (41%) tiveram um EA neurológico de qualquer grau devido ao blinatumomabe. Apenas um paciente descontinuou blinatumumabe devido a evento adverso relacionado (encefalopatia de grau 2 e disfasia).
Os autores concluem que a combinação sequencial de hiper-CVAD e blinatumomabe é altamente eficaz como tratamento de primeira linha de LLA de células B Ph-negativo, apresentando taxa de RC de 100% e negatividade MRD em 97%. Os dados de sobrevida são promissores, com uma sobrevida global estimada em dois anos de 86%, o que se compara favoravelmente aos controles históricos.
Referência:
Short NJ, et al. Hyper-CVAD and Sequential Blinatumomab in Adults with Newly Diagnosed Philadelphia Chromosome-Negative B-Cell Acute Lymphoblastic Leukemia: Results from a Phase II Study. Abstract 464. Presented at: 62nd ASH Annual Meeting and Exposition, 2020.
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