SABCS 2020: principais atualizações sobre inibidores CDK4/6 - Oncologia Brasil

SABCS 2020: principais atualizações sobre inibidores CDK4/6

4 min. de leitura

Dr. José Bines, oncologista clínico do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e membro do GBECAM, resume as principais atualizações apresentadas no 2020 San Antonio Breast Cancer Symposium sobre o uso de inibidores de ciclina em câncer de mama inicial com receptor hormonal positivo (RH+) e HER2 negativo (HER2-).

MonarchE

O estudo envolveu 5.637 pacientes que foram aleatoriamente randomizadas na proporção 1:1 para receber terapia endócrina sozinha por 5 a 10 anos ou abemaciclibe 150 mg 2x/dia ao dia por até dois anos combinada à terapia endócrina.

Após um acompanhamento médio de aproximadamente 19 meses, a análise interina planejada demonstrou uma redução de risco de 29% para doença invasiva às pacientes tratadas com abemaciclibe em comparação à terapia endócrina isolada (HR 0,713; P = 0,0009). Aos dois anos, a taxa sobrevida livre de doença invasiva foi de 92,3% para o braço abemaciclibe versus 89,3% para terapia endócrina isolada, benefício que foi observado para todos os subgrupos.

Mesmo no subgrupo de pacientes com Ki-67 alto, um marcador de doença mais agressiva, o risco de doença invasiva diminuiu 31% naquelas tratadas com abemaciclibe na comparação com terapia endócrina isolada (HR 0,691; P = 0,0111).

Os eventos adversos emergentes do tratamento mais comuns no braço do abemaciclibe foram diarreia (83%), neutropenia (45%) e fadiga (39%).

PALLAS 

Trata-se de um estudo global projetado para determinar se a adição de palbociclibe à terapia endócrina adjuvante melhora os resultados em relação à terapia endócrina sozinha no câncer de mama estadio inicial.

Ao todo, 5.760 pacientes com doença RH+/HER2- estadio II-III foram randomizadas para receber dois anos de palbociclibe (dose inicial 125 mg por dia, 3 semanas sim, 1 semana não) em combinação com terapia endócrina adjuvante (Braço A) ou terapia endócrina sozinha (Braço B). 

O desfecho principal, sobrevida livre de doença invasiva (SLDi), não apresentou diferença estatisticamente significativa entre os braços de acordo com a análise interina baseada em um acompanhamento médio de 23,7 meses (SLDi de 3 anos de 87,9% versus 88,4%, HR 0,93, IC 95% 0,76-1,15). Consequentemente, os pacientes no Braço A interromperam o palbociclibe e todos passaram para um acompanhamento de longo prazo.

Um total de 27% dos pacientes do Braço A (770 de 2.840) interromperam a terapia devido a eventos adversos, principalmente neutropenia (16%) e fadiga (71, 3%). Entre aqueles que interromperam devido aos eventos adverso, o nível de dose no momento da interrupção foi de 75 mg para apenas 62% dos pacientes, sugerindo que algumas interrupções ocorreram sem alcançar a redução máxima permitida.

PENELOPE-B 

Embora a adição de um ano de palbociclibe à terapia endócrina adjuvante padrão inicialmente tivesse atrasado o aparecimento de doença invasiva nas pacientes com câncer de mama inicial RH+/HER2- com alto risco de recidiva, o benefício desapareceu quando realizado um acompanhamento mais longo.

O ensaio envolveu 1.250 pacientes que não tiveram resposta patológica completa após quimioterapia neoadjuvante à base de taxano. Elas foram randomizadas para terapia endócrina adjuvante padrão mais placebo por um ano ou terapia endócrina mais palbociclibe também por um ano.

Após um acompanhamento médio de 43 meses, nenhuma diferença na sobrevida livre de doença invasiva foi observada entre os braços (H 0,93; P = 0,525), um achado consistente entre os subgrupos.

Embora uma diferença absoluta de 4,3% tenha sido observada em dois anos para sobrevida livre de doença entre o braço palbociclibe e o de terapia endócrina (88,3% versus 84%, respectivamente), a diferença absoluta diminuiu para 0,6% em quatro anos (73% versus 72,4%). Da mesma forma, nenhuma diferença na sobrevida global foi observada (HR 0,87; P = 0,420).

Pacientes no braço palbociclibe apresentaram significativamente mais eventos adversos de grau 3/4 (80% vs 20%; P <0,001), especialmente eventos adversos hematológicos de grau 3/4 (73% vs 1%; P <0,001) em comparação com pacientes no braço de terapia endócrina isolada. 

Dr. José Bines observa que algumas hipóteses podem justificar os diferentes resultados entre os estudos, considerando os vieses: seleção de pacientes, taxas de redução de dose ou descontinuação do tratamento, duração da terapia, tempos distintos de seguimento e as diferenças entre os inibidores de CDK4/6. O oncologista ressalta que é importante manter o acompanhamento dos ensaios, uma vez que não há evidências no presente momento de que a positividade dos dados irá se traduzir em ganho de sobrevida no futuro. Além disso, o uso dessas drogas no cenário da doença inicial não está, até o momento, aprovado pelas agências reguladoras.  

 

Referências:  

O’Shaughnessy JA, Johnston S, Harbeck N, et al. Primary outcome analysis of invasive disease-free survival for monarchE: abemaciclib combined with adjuvant endocrine therapy for high risk early breast cancer. Presented at: 2020 Virtual San Antonio Breast Cancer Symposium (SABCS). 

Mayer EL, et al. Treatment exposure and discontinuation in the PALLAS trial: PALbociclib CoLlaborative Adjuvant Study of palbociclib with adjuvant endocrine therapy for HR+/HER2- early breast cancer. Abstract PD2-03. Presented at: 2020 Virtual San Antonio Breast Cancer Symposium; December 8-11, 2020. Abstract GS3-00 

Loibl S, Marmé F, Martin M, et al. Phase III study of palbociclib combined with endocrine therapy (ET) in patients with hormone-receptor-positive (HR+), HER2-negative primary breast cancer and with high relapse risk after neoadjuvant chemotherapy (NACT): First results from PENELOPE-B. Presented at: 2020 Virtual San Antonio Breast Cancer Symposium; December 8-11, 2020. Abstract GS1-02.

 

 

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