Efeito das dietas não-restritivas em pacientes com neutropenia pós-transplante de células-tronco hematopoiéticas - Oncologia Brasil

Efeito das dietas não-restritivas em pacientes com neutropenia pós-transplante de células-tronco hematopoiéticas

3 min. de leitura

Um ensaio clínico randomizado investigou a influência de dois tipos de dieta na incidência de infecções e doença do enxerto contra o hospedeiro entre pacientes receptores de transplante de células-tronco hematopoiéticas durante o período de neutropenia. 

Infecções são uma das principais causas de mortalidade entre pacientes com neutropenia, especialmente no período seguinte aos transplantes de células-tronco hematopoiéticas (HSCT). Múltiplas medidas preventivas foram adotadas para reduzir tais complicações, incluindo a indicação da dieta do tipo “low microbial”. No entanto, além de haver falta de dados baseados em evidências, o efeito de uma dieta protetora (PD) no contexto específico do período pós-transplante nunca foi explorado de forma prospectiva. Em contraste, há evidências de que a PD possa afetar negativamente a qualidade de vida do paciente, e que o jejum prolongado possa aumentar a incidência de sintomas gastrointestinais da doença do enxerto contra o hospedeiro aguda (aGVHD) em pacientes receptores de transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas. 

A fim de determinar como dietas afetam as taxas de aGVHD após o HSCT, pesquisadores fizeram uma comparação entre a dieta não-restritiva (NRD) e a dieta protetora. Para tanto, no início de julho de 2016 iniciou-se um estudo intervencionista randomizado multicêntrico comparando o efeito das duas dietas em pacientes adultos com doenças hematológicas que foram hospitalizados para receber o HSCT alogênico ou autólogo. As dietas foram dadas durante todo o período de neutropenia. Para a PD, alimentos cozidos a 80°C ou mais e/ou frutas de cascas grossas (ex: frutas cítricas) foram considerados específicos da dieta. Para a NRD, frutas e vegetais crus, higienizados de acordo com o padrão do hospital, foram considerados específicos da dieta. 

O objetivo principal do estudo foi demonstrar a falta de diferença significativa na incidência de morte ou de infecções de grau 2 ou maior (avaliada de acordo com o CTCAE 4.0) entre os dois grupos, durante a fase de neutropenia. Os desfechos secundários incluíram a avaliação da incidência de infecções gastrointestinais e eventos de febre de origem indeterminada, alterações no peso corporal, tempo de hospitalização, sobrevida global estimada em trinta dias, e incidência cumulativa de aGVHD dentro de cem dias após o transplante alogênico. 

O estudo incluiu um total de 162 pacientes na análise prévia, sendo 80 no grupo PD e 82 no NRD. Ambos os grupos foram equilibrados em termos de sexo, idade, tipo de doença, número de terapias prévias, status da doença no recrutamento, profilaxia antimicrobiana, e motivo da hospitalização. Dentre os 162 pacientes, 32 receberam HSCT alogênico, sendo 17 no grupo PD e 15 no NRD.  

O estudo não encontrou diferença significativa em termos de incidência de infecções nos dois grupos avaliados. Infecções de grau 2 ou maior foram reportadas em 35 (43,7%) dos pacientes no grupo PD e 34 (41,5%) no grupo NRD, revelando um Risco relativo (RR) de 1,05 (IC 95% = 0,76-1,4). O número de pacientes que desenvolveram infecções gastrointestinais e febre de origem indeterminada durante a hospitalização foi de 8 (10%) contra 8 (9,8%) nos grupos PD e NRD, respectivamente. Não foram observadas diferenças significativas em termos de variação de peso corporal da hospitalização à alta hospitalar nos dois grupos (média de 4,15kg no grupo PD contra 3,66kg no grupo NRD; p = 0,3). O tempo médio de hospitalização nos dois grupos foi, em média, de 20,6 dias no grupo PD e 21,5 dias no grupo NRD (p = 0,4). Além disso, nenhuma morte foi reportada até o trigésimo dia de avaliação. Para os 32 pacientes receptores de transplante de células hematopoiéticas alogênico, a taxa de eventos de aGVHD de grau 2 ou maior no dia cem foi de 5% no grupo PD contra 1,2% no grupo NRD (RR = 1,65; IC95% = 0,77-2,19). 

Portanto, os resultados desse estudo prospectivo multicêntrico demonstraram taxas similares de infecções e mortes entre pacientes que receberam a dieta protetora ou a dieta não-restritiva durante o período de neutropenia pós-transplante de células hematopoiéticas. Isso sugere que a dieta não-restritiva pode ser indicada para pacientes recém-transplantados sem que isso resulte em um risco maior de infecções. 

 

Referência:

Stella et. al. NON-RESTRICTIVE DIET DOES NOT INCREASE GASTROINTESTINAL INFECTIONS AND FEBRILE NEUTROPENIA IN PATIENTS WITH NEUTROPENIA AFTER STEM CELL TRANSPLANTATION: DATA FROM A MULTICENTRE, RANDOMIZED TRIAL. European Hematologic Association Congress, 2022. EHA Library. Stella F. 06/12/22; 357105; S241. 

© 2020 Oncologia Brasil
A Oncologia Brasil é uma empresa do Grupo MDHealth. Não provemos prescrições, consultas ou conselhos médicos, assim como não realizamos diagnósticos ou tratamentos.

Veja mais informações em nosso Aviso Legal