Estudo MONUMENTAL-1: análise da eficácia e segurança do uso de talquetemabe (TAL) no tratamento do mieloma múltiplo - Oncologia Brasil

Estudo MONUMENTAL-1: análise da eficácia e segurança do uso de talquetemabe (TAL) no tratamento do mieloma múltiplo

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Avaliação dos resultados do ensaio clínico MONUMENTAL-1, um estudo de fase 2 apresentado na conferência anual da European Hematology Association – EHA 2023® que avalia a terapia em pacientes refratários ou com recorrência de mieloma múltiplo com o anticorpo biespecífico talquetamabe (TAL)

 

O uso de anticorpos monoclonais é uma opção terapêutica relativamente nova que tem apresentado resultados satisfatórios no tratamento de diversos tipos de tumores sólidos e neoplasias hematológicas. O uso na medicina apresenta algumas vantagens tecnológicas como a possibilidade de realizar manipulações genéticas e torná-los biespecíficos (BsAb), ou seja, proporcionar a capacidade de reconhecimento de dois antígenos diferentes, como o anticorpo IgG4 biespecífico talquetamabe (TAL), que tem sido amplamente utilizado no tratamento do mieloma múltiplo recidivante ou refratário devido a sua capacidade de reconhecimento dos receptores GPRC5D e CD3. 

O estudo de fase 2 MONUMENTAL-1 incluiu 288 pacientes que apresentaram intolerância ou progressão da doença quando submetidos ao tratamento padrão (fase 1) ou ≥ 3 linhas de tratamento anterior (LOT, mediana 5-6), incluindo resistência ao ≥1 inibidor de proteassoma, ≥1 medicamento imunomodulador e ≥1 anticorpo anti-CD38 (fase 2). Os pacientes foram separados nos grupos que receberam RP2Ds de SC em doses: 0,4 mg/kg QW (n=143) ou 0,8 mg/kg Q2W (n=145) e pacientes previamente tratados com terapia CAR-T receberam qualquer uma das doses (n=51). Nesses grupos, 74%, 69% e 84% eram refratários à tripla classe, assim como 29%, 23% e 41% eram refratários à penta-droga e 15%, 11% e 12% receberam belantamabe previamente, respectivamente. Do total, 71% receberam terapia com CAR-T, 35% receberam um BsAb e 6% receberam ambos os tratamentos. O cut-off dos dados de eficácia foi em 12 de setembro de 2022 e 19 de outubro de 2022 para os resultados de segurança. 

Os resultados demonstraram que a taxa de resposta global (ORR) foi de 74% (QW, acompanhamento por 14.9 meses ,mF/U) e 73% (Q2W, 8.6 meses, mF/U), com resposta parcial muito boa ou melhor (≥VGPR) em 59 % (QW) e 57% (Q2W). A ORR foi consistente entre os subgrupos, incluindo a doença em estágio III, risco citogenético, número de LOT anterior e exposição a belantamabe. Em pacientes com plasmocitomas basais, a ORR foi de 49% em ambas as coortes principais e, na coorte CAR-T, a ORR observada foi de 63% (53% ≥VGPR, 11.8 meses, mF/U). A mediana da sobrevida livre de progressão foi de 7,5, 11,9 (61% censurado) e 5,1 meses nas coortes T-CAR, QW e Q2W, respectivamente. Os efeitos adversos (EAs) comuns incluíram síndrome de liberação de citocinas (79%, 75%, 77%, respectivamente), ocorrências dermatológicas (56%, 71%, 69%), relacionados às unhas (54%, 53%, 61%) e disgeusia (50%, 48%, 61%); a maioria dos EA’s era de grau 1/2 e clinicamente manejável. A síndrome de neurotoxicidade associada a células efetoras imunes ocorreu em 11%, 11% e 3% dos participantes, respectivamente. As infecções ocorreram em 58%, 65% e 71%, sendo de grau ¾ em 22%, 16%, 26%) dos pacientes, com baixas taxas de infecções oportunistas. Os EA’s resultaram em reduções de dose em 15%, 8% e 10% dos pacientes e descontinuação em 5%, 8% e 6%. Não houve mortes relacionadas ao TAL. Os respondedores ao TAL apresentaram contagens de células T mais altas e menor frequência do esgotamento de células T e Tregs CD38+ quando comparados aos pacientes não respondedores. 

    Dessa forma, os dados demonstram que o uso de TAL apresenta uma ORR maior que 70% em pacientes com refratários ou recorrentes de mieloma múltiplo, além de altas taxas na população que recebeu terapia prévia com CAR-T. Além disso, os resultados apresentaram um perfil de segurança clinicamente manejável, com baixas taxas de infecções de alto grau e descontinuações totais, demonstrando o enorme potencial do uso de TAL para o tratamento dessa população. 

 

Referência: 

TOUZEAU C. Et al. Pivotal phase 2 MONUMENTAL-1 results of talquetamab (TAL), a GPRC5DXCD3 biespecific antibody (BsAb), for relapsed/refractory multiple myeloma (RRMM) European Hematology Association: Open Access Library, 387891, abstract S191, 2023.