O número de infeções pela varíola dos macacos vem crescendo exponencialmente, e ainda, pouco se sabe sobre a transmissão, os fatores de risco, apresentação clínica e resultados da infecção. Neste sentido, um trabalho publicado recentemente no NEJM descreve as principais características desta doença
O vírus da varíola dos macacos (Monkeypox) é um membro da família de vírus Poxviridae chamado orthopoxvirus e é um vírus de DNA de fita dupla. O vírus da varíola dos macacos foi descrito pela primeira vez em humanos em 1970 na República Democrática do Congo (antigo Zaire), e até recentemente, apenas surtos esporádicos de infecção foram relatados na África, que normalmente eram originados do contato com animais selvagens reservatórios do vírus (particularmente roedores).
Porém, desde o início de maio de 2022, mais de 31.000 infecções pelo vírus da varíola dos macacos foram relatadas em cerca de 89 países (dados do dia 10 de agosto de 2022), levando a Organização Mundial da Saúde a declarar a varíola dos macacos uma “ameaça em evolução de preocupação moderada de saúde pública” em 23 de junho de 2022.
A transmissão do vírus da varíola dos macacos ocorre por meio de grandes gotículas respiratórias, contato próximo ou direto com lesões cutâneas e, possivelmente, por fômites contaminados. Não há evidências claras de transmissão sexual por meio de fluidos seminais ou vaginais, entretanto a transmissão vertical e óbitos fetais foram já foram descritos. Todavia, a transmissão, os fatores de risco, a apresentação clínica e os resultados da infecção são mal definidos.
Em 21 de julho de 2022, uma importante série de casos foi publicada no New England Journal of Medicine descrevendo as principais características clínicas da varíola dos macacos. Os pesquisadores reportaram 528 casos diagnosticados entre 27 de abril e 24 de junho de 2022, em 43 locais em 16 países. Destes pacientes, 98% eram homens gays ou bissexuais, 75% eram brancos e 41% tinham HIV; a idade mediana foi de 38 anos. Os pesquisadores suspeitam que a transmissão tenha ocorrido através da atividade sexual em 95% das pessoas com infecção.
Dentre os principais sinais e sintomas da doença, lesões cutâneas foram observadas em 95% dos indivíduos, sendo os sítios anatômicos mais comuns a região anogenital (73%); o tronco, braços ou pernas (55%); o rosto (25%); e as palmas e plantas dos pés (10%). Um amplo espectro de lesões cutâneas foi observado, incluindo lesões maculares (planas), pustulosas, vesiculares (bolhas) e crostosas, e lesões em várias fases estavam presentes simultaneamente.
Lesões mucosas foram relatadas em 41% dos indivíduos, ainda, sintomas orofaríngeos foram relatados como sintomas iniciais em 5% da série de casos, com sintomas que incluíram faringite, odinofagia (dor ao engolir), epiglotite e lesões orais ou tonsilares. As características sistêmicas comuns incluíram febre (em 62%), letargia (41%), mialgia (31%), dor de cabeça (27%) e linfadenopatia (56%), sintomas que frequentemente precedem a erupção cutânea. O importante é que a apresentação clínica foi semelhante entre pessoas com infecção pelo HIV e aquelas sem infecção pelo HIV.
A maioria dos indivíduos não necessita de tratamento, a menos que as lesões sejam muito dolorosas ou disseminadas. Mas é essencial destacar que os profissionais de saúde precisam ser educados para reconhecer e gerenciar casos de varíola dos macacos. É necessária uma promoção da saúde direcionada que apoie sensivelmente a testagem e a educação aprimoradas para as populações em
A duração potencial da disseminação viral infecciosa após a eliminação das lesões permanece incerta. As diretrizes da UKHSA aconselham o uso de preservativo por 8 semanas após a infecção, mas a duração potencial e a infecciosidade da disseminação viral no sêmen requerem estudo. O potencial papel das vacinas na profilaxia pré-exposição também requer estudo. Atualmente, as vacinas estão sendo oferecidas a pessoas com alto risco de infecção no Reino Unido, na cidade de Nova York e no Canadá. O principal tratamento disponível para a varíola disseminada neste momento (com lesões múltiplas) é o tecovirimate – um antiviral oral que trata ortopoxvírus, que está disponível nos Estados Unidos, e deve chegar em breve ao Brasil.
Confira o trabalho do NEJM na íntegra: John P. Thornhill, M.D et al., NEJM July 21, 2022. DOI: 10.1056/NEJMoa2207323. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2207323?query=recirc_mostViewed_railB_article
Centers for Disease Control and Prevention, National Center for Emerging and Zoonotic Infectious Diseases (NCEZID), Division of High-Consequence Pathogens and Pathology (DHCPP). Monkeypox. Acesso em 10/08/2022 https://www.cdc.gov/poxvirus/monkeypox/index.html
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