Neste vídeo, Dr. Edvan Crusoé, médico hematologista e chefe do Serviço de Hematologia e Hemoterapia do Hospital Universitário da UFBA, comenta sobre dois importantes estudos apresentados no congresso da European Hematology Association -EHA ® 2023, que trazem atualizações do ensaio clínico MajesTEC-1 e mostram sustentação da resposta após redução de dose e follow-up estendido. Confira o conteúdo completo.
Teclistamabe é um anticorpo biespecífico que tem como alvo a molécula CD3, expressa em receptores de célula T (TCR) e o antígeno BCMA, expresso na superfície de células malignas de mieloma múltiplo (MM) promovendo, assim, a lise de células por linfócitos T. Esse anticorpo foi aprovado para o tratamento de mieloma múltiplo recidivado/refratário após a publicação dos resultados do ensaio clínico de fase 1/2 MajesTEC-1 que, em um acompanhamento de 14,1 meses, demonstrou uma taxa de resposta global de 63% (sendo 39% de resposta completa ou melhor) com uma mediana de duração de resposta de 18,4 meses e mediana de sobrevida livre de progressão de 11,3 meses
Nesse ensaio clínico, foram recrutados 165 pacientes com mieloma múltiplo recidivados ou refratários após pelo menos três linhas de tratamentos anteriores, incluindo uma droga imunomoduladora (IMID), um inibidor de proteassoma (IP) e anticorpo monoclonal anti-CD38, além de não ter recebido nenhum tratamento anterior com terapias anti-BCMA. A dose de teclistamabe estabelecida após a fase I do estudo foi de 1,5 mg/kg, subcutâneo, uma vez por semana. Entretanto, pacientes que atingiram resposta parcial após ao menos 4 ciclos ou resposta completa após 6 meses de tratamento na fase 2, tiveram a opção de mudar para regime quinzenal (1 dose a cada duas semanas).
No congresso da Associação Europeia de Hematologia (EHA) 2023, dois estudos trazem atualizações desse ensaio clínico: Sidana e colaboradores1 discorre sobre os dados de eficácia e segurança do teclistamabe com um seguimento mais longo (22 meses), enquanto Bhutani e colaboradores2 discutem a sustentação da resposta entre pacientes que mudaram o regime de tratamento (de semanal para quinzenal).
Considerando a coorte total no tempo de seguimento mediano de 23 meses, 45,5% dos pacientes atingiram resposta completa ou melhor, a duração de resposta mediana foi de 21,6 meses, a sobrevida livre de progressão mediana foi de 11,3 meses e a sobrevida global mediana foi de 21,9 meses. Dentre os pacientes menos tratados, que receberam entre 2 e 3 linhas de tratamentos anteriores a eficácia foi ainda melhor, com uma taxa de resposta global de 74,4% e sobrevida livre de progressão de 18,1 meses, quando comparado com pacientes mais tratados (mais de três linha anteriores) que tiveram uma taxa de resposta global de 59% e sobrevida livre de progressão de 9,7 meses.
Efeitos adversos hematológicos observados incluíram: neutropenia (71,5%, grau 3/4: 65,5%), anemia (54,5%, grau 3/4: 37,6%), trombocitopenia (42,4%, grau 3/4:22,4%) e linfopenia (36,4%, grau 3/4: 34,5%). Infecções ocorreram em 80% (grau 3/4: 55,2%), sendo representadas principalmente por infecções respiratórias e outras infecções virais, seguidas de infecções gastrointestinais. Síndrome de liberação de citocinas foi observada em 72% dos pacientes, entretanto apenas 0,6% foram de grau 3 e não houve reações de grau 4 ou 5. Apenas 5 pacientes (3%) reportaram 9 episódios de ICANS (síndrome de neurotoxicidade associada a células imunes efetoras), todos de grau 1 ou 2 e resolvidos. A redução da dose foi necessária em apenas 1 paciente devido a efeitos adversos e foram observadas 6 mortes relacionadas ao tratamento (sendo 3 devido a COVID-19).
A segunda análise recrutou 165 pacientes, com 104 respondedores e, dentre eles, 63 migraram para o regime quinzenal. Desses, 54 haviam atingido os critérios para a mudança, 3 migraram devido a efeitos adversos e 6 devido a outras razões. No momento da mudança, 54 pacientes (85,7%) haviam atingido resposta completa ou melhor e o restante havia atingido uma resposta parcial muito boa. O tempo mediano para a migração foi de 11,3 meses. O tempo mediano de seguimento após a mudança foi de 12,6 meses, a duração mediana da resposta ainda não foi atingida (68,7% dos pacientes ainda em remissão e recebendo tratamento até o final do tempo de seguimento). Além disso, registrou-se um menor número de infecções graves (grau 3 ou maior) em pacientes que migraram para o regime quinzenal quando comparado com semanal.
Assim, os resultados atestam a eficácia e segurança do uso de teclistamabe para o tratamento de mieloma múltiplo recidivado e refratário a outros tratamentos, e indicam que a alteração do regime de semanal para quinzenal em respondedores mantém a taxa de resposta ao tratamento diminuindo a incidência de novas infecções graves.
No vídeo, o especialista detalhe os resultados desse estudo e aborda como esses resultados alteram a prática clínica. Vale a pena conferir o conteúdo completo.
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