Nesta edição de sua coluna, Dr. Tiago Biachi, oncologista clínico e membro associado no Departamento de Oncologia Gastrointestinal do Moffitt Cancer Center, apresenta e discute sobre a chegada da terapia anti-HER2 para o tratamento do câncer colorretal. O especialista se baseia em dados de um estudo publicado recentemente que levou a aprovação de tucatinibe associado à trastuzumabe pela U.S. Food and Drug Administration (FDA) neste cenário.
Human epidermal growth factor receptor 2 (HER2), também conhecido como ERRB2 ou HER2/neu, é um proto-oncogene que codifica uma glicoproteína transmembrana com atividade de tirosina-quinase. Este oncogene desempenha papel fundamental proliferação celular, diferenciação e migração, culminando em progressão tumoral (1). Amplamente utilizadas em câncer de mama, as terapias anti-HER2 vem se tornando uma opção cada vez mais explorada em câncer colorretal (CCR) levando à recente aprovação de tucatinibe associado à trastuzumabe pelo U.S. Food and Drug Administration (FDA).
Amplificação ou superexpressão do HER2 esta presente em aproximadamente 2% de todos os CCR e am aproximadamente 6% daqueles com doença metastática e RAS selvagem. Inicialmente associado a um pior prognostico e um marcador de resistência à terapia anti-EGFR, esse biomarcador tem se tornado foco de diversos estudos de fase 2 utilizando como alvo terapêutico nessa população selecionada (tabela) (2,3).
Study | N | Tratamento | ORR (%) | PFS (meses) | OS (meses) |
HERACLES A | 27 | trastuzumabe e lapatinibe | 30% | 5,3 | 11,5 |
MyPathway | 37 | trastuzumabe e pertuzumabe | 38% | 4,6 | 10,3 |
HERACLES B | 31 | pertuzumabe e TDM-1 | 10% | 4,1 | NA |
TAPUR | 28 | trastuzumabe e pertuzumabe | 14% | 17,2 sem. | NA |
TRIUMPH | 19 | trastuzumabe e pertuzumabe | 35% | 4 | NA |
DESTINY CRC01 | 78 | trastuzumabe deruxtecano | 45% | 6,3 | 15,5 |
MOUNTAINEER (A e B) | 84 | trastuzumabe e tucatinibe | 38% | 7 | 24,1 |
Tucatinibe e inibidor de tirosina-quinase altamente seletivo para HER2, com mínimo efeito inibitório no EGFR e a sua combinação com trastuzumabe demonstrou forte atividade em modelos pré-clínicos. MOUNTAINEER foi um estudo de fase 2 não-randomizado que avaliou o uso de tucatinibe associado a trastuzumabe (coortes A e B) ou em monoterapia (coorte C). O endpoint primário desse estudo foi taxa de resposta entre os casos incluídos nas coortes A e B (tratamento combinado) (4).
Entre agosto de 2017 e setembro de 2021, 84 pacientes foram alocados nas coortes A e B e uma taxa de resposta de 38,1% foi vista nessa população, incluindo 29 respostas parciais e 3 respostas completas. Assim como foi visto anteriormente com inibidores de BRAF sem uso de anti-EGFR em CRC, o uso de tucatinibe monoterapia não demonstrou atividade significativa e seu isolado nesse cenário deve ser desencorajado.
Em relação à toxicidade, diarreia foi vista em 64% dos casos, sendo apenas 3% deles graus 3-4. O evento adverso graus 3-4 mais comum foi hipertensão, visto em 7% dos casos. Nenhuma morte foi atribuída ao tratamento.
Ainda que tenhamos a aprovação do FDA para o uso de tucatinibe e trastuzumabe, este ainda é um terreno inóspito a ser explorado. Diversas dúvidas sobre o melhor sequenciamento, os diversos critérios de positividade utilizado em diferentes estudos e, principalmente, a ausência de dados randomizados comparando essas diversas estratégias fazem deste um dos temas mais controversos em CRC na atualidade.
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