No presente estudo, os autores investigaram a eficiência da combinação atezolizumabe com bevacizumabe mais quimioterapia no tratamento do câncer cervical metastático, persistente ou recorrente. O estudo foi publicado na renomada revista: The Lancet (DOI:https://doi.org/10.1016/S0140-6736(23)02405-4)
A vacinação contra o HPV (em inglês, human papilomavírus) resultou em reduções substanciais na incidência, morbidade e mortalidade do câncer cervical, mas ainda há muitos casos e mortes anuais em todo o mundo. Pacientes com câncer cervical metastático, recorrente ou persistente têm um prognóstico ruim e necessitam de terapia sistêmica. Estudos clínicos recentes mostraram que a adição de pembrolizumabe à quimioterapia de primeira linha melhorou significativamente a sobrevida global. O ensaio clínico internacional BEATcc investiga se a combinação de atezolizumabe com bevacizumabe mais quimioterapia pode aumentar a eficácia no tratamento do câncer cervical metastático, persistente ou recorrente. A importância do estudo reside no fato de fornecer informações valiosas sobre a eficácia dessa combinação de tratamentos em comparação com as terapias padrão atualmente disponíveis, potencialmente orientando futuras estratégias de tratamento para melhorar os resultados e a qualidade de vida das pacientes.
O presente estudo trata-se de um ensaio clínico de fase 3, multicêntrico e randomizado, que incluiu 404 pacientes. Nesse estudo, se investigou a eficácia do bevacizumabe e quimioterapia padrão com ou sem atezolizumabe em pacientes com câncer cervical metastático, persistente ou recorrente. As pacientes foram designadas aleatoriamente em uma proporção de 1:1 e tratadas conforme protocolo. Os desfechos primários foram sobrevida livre de progressão e sobrevida global, com um erro alfa de 5%. Os resultados das análises primárias e secundárias serão relatados separadamente. O estudo está registrado no ClinicalTrials.gov como NCT03556839.
No presente estudo, um total de 519 pacientes foram inicialmente avaliadas para elegibilidade, das quais 410 foram randomicamente designados: 206 para receber terapia experimental e 204 para terapia padrão. A análise primária, conduzida até 17 de julho de 2023, revelou que a mediana da sobrevida livre de progressão (em inglês, Progression-Free Survival – PFS) foi de 13,7 meses (IC95% 12,3–16,6) no grupo experimental e 10,4 meses (IC95% 9,7–11,7) no grupo padrão, com uma Razão de Risco (em inglês, Hazard Ratio – HR) de 0,62 (IC95% 0,49–0,78). A análise da sobrevida global mostrou uma mediana de 32,1 meses (IC95% 25,3–36,8) no grupo experimental e 22,8 meses (IC95% 20,3–28,0) no grupo padrão, com uma HR de 0,68 (IC95% 0,52–0,88). Além disso, a taxa de sobrevida em 2 anos foi de 61% (IC95% 53–67) com a terapia experimental e 49% (IC95% 41–56) com a terapia padrão.
Os resultados mostraramm que durante o acompanhamento, houve um total de 234 óbitos entre os 410 pacientes incluídas, com 105 (51%) no grupo experimental e 129 (63%) no grupo padrão. Após a progressão da doença durante o estudo, 75 pacientes (54%) no grupo experimental e 97 pacientes (58%) no grupo padrão receberam pelo menos uma terapia subsequente. No entanto, apenas quatro pacientes (3%) no grupo experimental e 55 pacientes (33%) no grupo padrão receberam um inibidor de checkpoint imunológico após a progressão. O grupo experimental recebeu terapia composta por platina intravenosa (cisplatina 50 mg/m² ou carboplatina área sob a curva de 5), paclitaxel intravenoso 175 mg/m², bevacizumabe intravenoso 15 mg/kg no dia 1 de cada ciclo de 3 semanas, e atezolizumabe intravenoso 1200 mg no dia 1 de cada ciclo de 3 semanas. Por outro lado, o grupo padrão recebeu apenas a terapia composta por platina intravenosa (cisplatina 50 mg/m² ou carboplatina área sob a curva de 5) e paclitaxel intravenoso 175 mg/m² no dia 1 de cada ciclo de 3 semanas.
O desfecho desses resultados sugeriu que a terapia experimental proporcionou uma melhoria significativa na PFS e na sobrevida global em comparação com a terapia padrão. Além disso, a taxa de sobrevida em 2 anos foi mais alta no grupo experimental em comparação com o grupo padrão. No entanto, eventos adversos foram relatados em ambos os grupos, com algumas diferenças na incidência e tipo de eventos entre os dois tratamentos. Os principais eventos adversos encontrados incluíram neuropatia periférica, astenia, náusea, alopecia, neutropenia e anemia. Além disso, houve incidências de diarreia, artralgia, febre, erupção cutânea, hipotireoidismo, constipação e mialgia, que foram numericamente mais altas no grupo experimental em comparação com o grupo padrão. Eventos adversos graves, como hipertensão, eventos hematológicos e astenia, foram relatados em ambos os grupos, embora tenham sido mais frequentes no grupo experimental.
Ademais, no estudo clínico de fase 3 BEATcc os autores avaliaram a adição do inibidor de PD-L1 atezolizumabe ao tratamento padrão estabelecido no estudo clínico do GOG240, que estabeleceu o tratamento padrão para o câncer cervical metastático, persistente ou recorrente. Os resultados do BEATcc mostraram melhorias significativas e clinicamente relevantes na sobrevida livre de progressão e na sobrevida global com a adição de atezolizumabe. A análise da sobrevida global demonstrou um aumento na mediana da sobrevida de quase 10 meses, com uma mediana de sobrevida global que ultrapassou 2,5 anos, representando um marco no tratamento de primeira linha para o câncer cervical avançado. Essa melhoria foi observada apesar do desempenho melhor do que o esperado da terapia padrão. Além disso, a taxa de resposta ao tratamento contendo atezolizumabe foi alta, com 84% dos pacientes respondendo ao tratamento. Os desfechos secundários também mostraram resultados consistentemente favoráveis no grupo experimental. As conclusões do estudo sugerem que o atezolizumabe, quando combinado com bevacizumabe e quimioterapia, deve ser considerado uma nova opção de tratamento de primeira linha para pacientes com câncer cervical metastático, persistente ou recorrente.
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