Destaques da ASCO® 2024: Isatuximabe na linha de frente do tratamento de mieloma múltiplo recém diagnosticado inelegível a transplante - Oncologia Brasil

Destaques da ASCO® 2024: Isatuximabe na linha de frente do tratamento de mieloma múltiplo recém diagnosticado inelegível a transplante

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Durante ASCO 2024 estudos robustos e pioneiros, IMROZ e BENEFIT, avaliam a eficácia e segurança da adição de Isatuximabe em standards-of-care, sugerindo uma mudança de paradigma no manejo de mieloma múltiplo inelegíveis a transplante autólogo

 

Entre 31 de maio e 4 de junho de 2024, ocorre o Congresso Anual da ASCO®, um evento importante na oncologia global. Com o tema “A Arte e a Ciência dos Cuidados Oncológicos: Do Conforto à Cura”, o congresso visa promover aprendizado contínuo, networking global e fornecer informações vitais para pacientes oncológicos. Este ano, destacam-se as Malignidades Hematológicas, com mais de 250 abstracts aceitos, refletindo o crescimento significativo dessa especialidade e o impacto das pesquisas, incluindo grandes trials sobre mieloma múltiplo. ¹-³

Durante a ASCO® 2024, os estudos clínicos de fase III IMROZ e BENEFIT, destacaram-se por abordarem o tratamento do mieloma múltiplo recém-diagnosticado em pacientes inelegíveis ao transplante autólogo de células-tronco (NDMM-TI), uma população com uma nececessidade médica ainda não atendida. Para esses pacientes, o atual standard-of-care (SOC) é a combinação de bortezomibe, lenalidomida e dexametasona (VRd). No entanto, mesmo com a chegada de novas opções terapêuticas promissoras, ainda não há estudos que as comparem diretamente com as opções SOC.⁴

A primeira linha terapêutica para pacientes diagnosticados NDMM-TI é de extrema importância, já que os desfechos tendem a ser menos favoráveis em linhas subsequentes de terapia, muitas vezes sem possibilidade de opções adicionais. Portanto, a busca por combinações que possam potencializar o tratamento logo na primeira linha representa ao mesmo tempo um desafio e uma necessidade clínica urgente. O isatuximabe, um anticorpo monoclonal anti-CD38, que possui a capacidade de desencadear a morte celular do mieloma múltiplo, está aprovado no Brasil para o tratamento de pacientes com mieloma múltiplo recidivado/refratário. O potencial dessa opção terapêutica em NDMM TI é o foco do estudo IMROZ.

O estudo IMROZ avalia a eficácia e segurança da combinação de isatuximabe com VRd (Isa-VRd; n=265) head-to-head com o standard-of-care, VRd (n=181). O endpoint primário do estudo foi a sobrevida livre de progressão (SLP). Após uma mediana de follow-up de 59,7 meses, a mediana de SLP não foi atingida no braço Isa-VRd, enquanto foi de 54,3 meses no braço VRd. O que caracteriza como a melhor SLP já vista em um estudo de fase 3 em combinação ao VRd nessa combinação*. Resultados apresentados representam uma redução de 40,4% no risco de progressão ou óbito em pacientes tratados com Isa-VRd (HR = 0,596; 98,5% CI: 0,406-0,876), com uma estimativa de que a mediana de SLP possa alcançar cerca de 90 meses.⁶

O resultado apresentado de fato é bastante animador e, segundo o principal investigador do estudo, Thierry Facon, o IMROZ trouxe “Um benefício significativo de SLP observada na combinação IsaVRd em MM”, e, portanto, “demonstram a promessa do Isa-VRd como a espinha dorsal para o tratamento dessa população, o que pode melhorar os resultados de longo prazo de NDMM-TI”.

Além do endpoint primário, a avaliação de outros parâmetros permite concluir que não só o Isa-VRd prolonga a sobrevida livre de progressão, mas também induz respostas mais duradouras, com taxas de resposta completa e MRD negativa de 55,5% em Isa-VRd e 40,9% em VRd, respectivamente. Além disso, observou-se uma taxa de MRD negativa sustentada por 12 meses em 46,8% e 24,3%, respectivamente. Adicionalmente à sua eficácia, a adição de isatuximabe mostrou-se bem tolerada, com toxicidades de grau 5 ajustadas pelo tempo de exposição de 0,03 (Isa-VRd) vs. 0,02 (VRd), e taxas de descontinuação devido a toxicidades de 22,8% e 26%, respectivamente. 6 Ressalta-se também que o estudo foi publicado na íntegra no The New England Journal of Medicine (NEJM), em 03 de junho de 2024.⁷

De fato, à luz dos resultados apresentados até o momento, a adição de isatuximabe ao VRd emerge como um potencial padrão de cuidado em pacientes com mieloma múltiplo recém-diagnosticado e inelegíveis ao transplante. A robustez dessa estratégia terapêutica também foi investigada no estudo BENEFIT, também divulgado durante a ASCO® 2024, investigou a combinação de Isa-VRd (n=135), comparativamente à IsaRd (n=135), com a adição de 18 meses de bortezomibe ao regime IsaRd. ⁸

Neste ensaio, a taxa de MRD negativa de 10⁵ aos 18 meses foram significativamente mais altas no braço Isa-VRd em comparação com o braço IsaRd (47% vs 24%, OR para MRD negativa = 2,96 [IC95%. 1,73 – 5,07, p<0,001]. Corroborando o estudo IMROZ, no BENEFIT, o emprego de Isa-VRd também proporcionou respostas mais profundas com taxas de resposta completa e MRD negativo em 18 meses de 29% vs. 16%. ⁸

Portanto, diante das evidências robustas e pioneiras provenientes do estudo IMROZ, fortalecidas pelo complemento oferecido pelo estudo BENEFIT, a combinação de Isa-VRd emerge como uma estratégia terapêutica promissora na linha de frente do

tratamento para pacientes recém-diagnosticados com mieloma múltiplo inelegíveis ao transplante. Esta abordagem não apenas aprofunda as respostas terapêuticas, mas também demonstra uma redução significativa no risco de progressão da doença, representando um avanço notável capaz de preencher uma lacuna crucial no manejo do mieloma múltiplo.

A apresentação e discussão desses resultados em renomados congressos como a ASCO® 2024 fortalece a atualização global de especialistas, contribuindo para a contínua melhoria dos cuidados oferecidos aos pacientes oncohematológicos.

Fique atento pois em breve teremos mais novidades de Isatuximabe que serão apresentadas no EHA 2024 em Madrid!

 

Referências:

1. ASCO® Overview. Disponível em: https://society.asco.org/about-asco/asco-overview. Acesso em 03 Jun 2024.

2. Programação científica – ASCO® 2024. Disponível em: https://conferences.asco.org/am/program. Acesso em 03 Jun 2024.

3. Access 2024 ASCO Annual Meeting Proceedings – Hematologic Malignancies Abstract. Disponível em: https://ascopubs.org/jco/abstracts-hematologic-malignancies-24. Acesso em 03 Jun 2024.

4. Facon T, San-Miguel J, Dimopoulos MA, et al. Treatment Regimens for Transplant-Ineligible Patients With Newly Diagnosed Multiple Myeloma: A Systematic Literature Review and Network Meta-analysis. Adv Ther 2022.

5. Frampton JE. Isatuximab: A Review of Its Use in Multiple Myeloma. Target Oncol. 2021.

6. Facon T, Dimopoulos MA, Leleu XP, et al. Phase 3 study results of isatuximab, bortezomib, lenalidomide, and dexamethasone (Isa-VRd) versus VRd for transplant-ineligible patients with newly diagnosed multiple myeloma (IMROZ). ASCO 2024.

7. Facon T, Dimopoulos MA, Leleu XP, et al. Isatuximab, Bortezomib, Lenalidomide, and Dexamethasone for Multiple Myeloma. N Engl J Med. DOI: 10.1056/NEJMoa2400712

8. Leleu XP, Hulin C, Lambert J, et al. Phase 3 randomized study of isatuximab (Isa) plus lenalidomide and dexamethasone (Rd) with bortezomib versus isard in patients with newly diagnosed transplant ineligible multiple myeloma (NDMM TI). ASCO 2024.

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