Neste estudo, os autores apresentam os resultados do RADICALS-HD, um ensaio clínico randomizado de Fase III, que comparou a eficácia da terapia de privação androgênica (ADT) de curta duração (6 meses) versus longa duração (24 meses) em combinação com radioterapia pós-operatória em pacientes com câncer de próstata.
O estudo RADICALS-HD é um ensaio clínico randomizado de fase 3 que investiga a duração ideal da terapia de privação androgênica (ADT) em combinação com radioterapia pós-operatória para pacientes com câncer de próstata. O câncer de próstata abordado é de risco intermediário a alto, e os pacientes já haviam passado por uma prostatectomia radical. O objetivo principal do estudo foi comparar os efeitos de um curso curto (6 meses) versus um curso longo (24 meses) de ADT em termos de sobrevida livre de metástases (MFS) e outros desfechos clínicos importantes.
O estudo incluiu 1523 pacientes, com idade média de 65 anos, recrutados de 138 centros no Canadá, Dinamarca, Irlanda e Reino Unido. Os pacientes eram elegíveis se tivessem indicação para radioterapia após a prostatectomia radical, PSA inferior a 5 ng/mL, e ausência de doença metastática. Foram randomizados em proporção de 1:1 para receber 6 meses (curso curto) ou 24 meses (curso longo) de ADT, além de radioterapia. O tratamento com ADT foi administrado através de um análogo do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), com injeções mensais no grupo de curso curto e injeções trimestrais no grupo de curso longo.
Os critérios de exclusão incluíam radioterapia pélvica prévia, terapia hormonal pós-operatória, e outras malignidades ativas. O endpoint primário foi a sobrevida livre de metástases, enquanto endpoints secundários incluíam sobrevida global (OS), sobrevida livre de metástases à distância, progressão clínica, tempo até ADT fora do protocolo, e toxicidade. Com um seguimento mediano de 8,9 anos, o estudo relatou 313 eventos de sobrevida livre de metástases, sendo 174 no grupo de ADT curto e 139 no grupo de ADT longo. A sobrevida livre de metástases em 10 anos foi de 71,9% no grupo de curso curto e 78,1% no grupo de curso longo, com uma razão de risco (HR) de 0,773 (IC 95% 0,612–0,975; p=0,029), indicando um benefício significativo para o curso longo.
Em termos de sobrevida global, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos (HR 0,880; p=0,38). A sobrevida livre de metástases à distância foi melhor no grupo de ADT longo (HR 0,634; p=0,0024), assim como a progressão clínica e o tempo até ADT fora do protocolo, ambos favorecendo o tratamento prolongado. Eventos adversos de grau 3 ou superior foram mais frequentes no grupo de ADT longo (19% vs. 14% no grupo de curso curto, p=0,025), com os eventos mais comuns sendo estenose uretral e hematúria. Não houve mortes relacionadas ao tratamento.
O estudo conclui que, embora a ADT de 24 meses ofereça uma melhora significativa na sobrevida livre de metástases em comparação com 6 meses, essa vantagem vem acompanhada de maior toxicidade. Para pacientes que podem tolerar os efeitos adversos adicionais, a terapia de longa duração deve ser considerada como parte do tratamento pós-operatório com radioterapia. No entanto, a decisão deve ser individualizada, levando em consideração o risco basal de progressão da doença, as características clínicas dos pacientes e suas preferências pessoais. A ausência de benefício em termos de sobrevida global sugere que a seleção cuidadosa dos pacientes é essencial para maximizar os benefícios do tratamento prolongado.
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