No quarto dia do Congresso Europeu de Oncologia Clínica – ESMO® 2024, tivemos a apresentação de estudos importantes para o cenário do tratamento do câncer de mama, com destaques para os ensaios envolvendo o uso dos inibidores de CDK4/6.
O primeiro foi a aguardada atualização do estudo NATALLE, que avaliou a adição de ribociclibe ao tratamento endocrinoterápico no cenário adjuvante para pacientes com câncer de mama RH+/HER2-negativo de alto risco (T2N0 com grau 3, ou Ki67 > 20% ou com assinatura genômica demonstrando alto risco de recidiva, além de pacientes com estádio IIB e III). Nessa análise agora de 4 anos, e com um seguimento mediano de 44,2 meses, o tratamento com Ribociclibe + endocrinoterapia demonstrou um benefício significativo em sobrevida livre de doença invasiva (SLDi) em comparação ao braço de endocrinoterapia isolada (HR, 0,715; IC de 95%, 0,609-0,840; P<.0001). Além disso, foi demonstrado aumento do benefício absoluto ao longo do tempo taxas de SLDi de 90,8% versus 88,1% em 3 anos e 88,5% versus 83,6% em 4 anos (melhora absoluta de 2,7% e 4,9%, respectivamente). Este benefício em SLDi foi observado em vários subgrupos, incluindo status nodal (benefício absoluto de 4 anos: N0, 5,1%; N+, 5,0%) e estágio (benefício absoluto de 4 anos: estágio II, 4,3%; estágio III, 5,9%). RIB + NSAI versus NSAI isolado também apresentou benefício em sobrevida livre de doença à distância (HR, 0,715; IC de 95%, 0,604-0,847). A sobrevida global ainda é imatura. A segurança manteve-se consistente com análises anteriores. Os resultados suportam a adição de Ribociclibe no cenário da endocrinoterapia adjuvante nessa população de alto risco.¹
Além disso, dois estudos com inibidores de CDK4/6 no cenário metastático sugerem que o tratamento de tumores predominantemente luminais deve ser baseado nessa classe de drogas ao invés do uso de quimioterapia citotóxica. O estudo ABIGAIL avaliou a eficácia qual o melhor regime de tratamento para paciente com câncer de mama avançado HR+/HER2-, com características de doença agressiva associadas a um prognóstico desfavorável: abemaciclibe + endocrinoterapia versus quimioterapia de indução (paclitaxel) seguida por abemaciclibe + ET. Os principais critérios de inclusão foram: pacientes com câncer de mama metastático, virgens de tratamento no cenário de doença avançada, ECOG 0-1, com doença mensurável e pelo menos um dos seguintes critérios que os investigadores consideraram de doença agressiva (metástases viscerais, tumor primário grau 3 e/ou receptor de progesterona negativo, LDH >1,5 vezes o limite superior da normalidade (LSN), e/ou progressão da doença em até 36 meses após o término da ET adjuvante). O desfecho primário foi a taxa de resposta objetiva em 12 semanas. O desfecho secundário chave foi a segurança. Ao todo, 162 pacientes foram randomizados em cada braço e o estudo observou uma taxa de resposta em 12 semanas de 59% no braço de endocrinoterapia isolada e de 40% no braço que utilizou a indução de quimioterapia (p = 0,0193). Assim, o estudo ABIGAIL reforça que a combinação de um inibidor de CDK4/6 + endocrinoterapia é uma escolha adequada, sem a necessidade de quimioterapia, mesmo para pacientes com câncer de mama metastático RH+/HER2- com perfil de doença mais agressiva.²
Já o estudo DETECT V sugere algo semelhante na doença RH+/HER2-positivo: o uso de uma combinação de inibidor de CDK4/6 (Ribociclibe) + endocrinoterapia em combinação ao duplo bloqueio com trastuzumabe e pertuzumabe é adequada em comparação ao uso de quimioterapia combinada ao duplo bloqueio, com os dois braços atingindo sobrevida livre de progressão e sobrevida global semelhantes.³
Romualdo Barroso, MD, PhD
Oncologista Clínico, Head de Pesquisa em Oncologia e Líder Nacional de Câncer de Mama – DASA Oncologia; Pós-doutorado no Departamento de Oncologia Médica do Dana-Farber Cancer Institue, Harvard Medical School
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