Dr. Rodrigo Munhoz, oncologista clínico do Hospital Sírio Libanês, faz os highlights de duas sessões plenárias do AACR Annual Meeting 2020.
No primeiro dia de evento virtual, foram selecionados quatro trabalhos com ênfase clínica, dois sobre melanoma, um de câncer de mama e um de câncer de próstata metastático resistente à castração. No segundo dia, o tema da plenária clínico foi COVID-19 em pacientes oncológicos.
Assista abaixo!
IMspire150: Avaliação de atezolizumabe (A), cobimetinibe (C) e vemurafenibe (V) em pacientes com melanoma metastático com mutação BRAF V600
Os primeiros resultados da avaliação de atezolizumabe (A), cobimetinibe (C) e vemurafenibe (V) em pacientes com melanoma metastático com mutação BRAF V600 previamente não tratados foram avaliados no estudo IMspire150, fase III, multicêntrico, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, que foi desenvolvido para avaliar a superioridade de ACV em comparação com placebo + CV. No estudo, um total de 514 pacientes foram randomizados em uma proporção de 1:1 estratificada por região geográfica e nível de lactato desidrogenase (LDH).
O estudo foi positivo na avaliação de sobrevida livre de progressão, alcançando uma mediana de 15,1 meses no grupo ACV (IC 95%, 11,4-18,4) vs 10,6 no grupo placebo (IC 95%, 9,3-12,7; log-rank P=0,0249).
Além disso, a SLP mediana, quando avaliada por um comitê de revisão independente, foi de 16,1 meses (IC95%, 11,3-18,5) e 12,3 meses (IC95%, 10,8-14,7) com ACV vs placebo+CV, respectivamente (log-rank P = 0,1607). Na avaliação em 12 meses, 54% vs 45,1% dos pacientes continuarem vivos nos respectivos grupos.
A taxa de resposta foi comparável em ambos os grupos, em torno de 65%. Houve um aumento na mediana de duração de resposta (21 meses (IC 95%, 15,1-não avaliável] vs 12,6 meses [IC 95%, 10,5-16,6]). Os dados de sobrevida global ainda são imaturos, necessitando de maior tempo para análises mais precisas.
SWOG S1320: Estudo randomizado de fase III em pacientes com melanoma metastático
Estudo randomizado de fase III que randomizou 206 pacientes com melanoma metastático. Cada paciente recebeu o regime de combinação com inibidores BRAF e MEK, dabrafenibe e trametinibe, respectivamente.
Um grupo de pacientes (n=105) recebeu a combinação diariamente até a progressão tumoral. O outro grupo (n=101) recebeu a mesma combinação diária por cinco semanas, seguida de pausa de três semanas, retornando o tratamento por mais cinco semanas, e assim sucessivamente até progressão tumoral.
Os resultados mostraram que os pacientes do grupo em esquema contínuo apresentaram uma sobrevida livre de progressão de 9 meses versus 5,5 meses no grupo intermitente (HR, 1.36; 80% CI, 1.10-1.66; P = 0.063).
No braço do esquema contínuo, 21 pacientes continuaram em tratamento no momento da análise, com 84 pacientes descontinuados, principalmente devido à progressão da doença (n = 54). Na coorte intermitente, 17 pacientes ainda estavam em tratamento, com 84 descontinuados, novamente principalmente devido à progressão (n = 62).
Embora o estudo não tenha sido desenvolvido para detectar diferenças na sobrevida global (SG), não houve diferença significativa na sobrevida observada, com uma SG média de 29,2 meses em cada braço.
IMbassador250: Atezolizumabe à enzalutamida no cenário de câncer de próstata metastático resistente à castração (mCRPC)
O estudo IMbassador250 de fase III não demonstrou melhora significativa em sobrevida global na adição de atezolizumabe à enzalutamida no cenário de câncer de próstata metastático resistente à castração (mCRPC), fazendo com que fosse encerrado precocemente.
O estudo incluiu 759 pacientes com mCRPC que progrediram a abiraterona mais docetaxel ou não eram elegíveis para terapias baseadas em taxanos. Os homens foram aleatoriamente designados para receber atezolizumabe 1200 mg a cada 3 semanas, com ou sem enzalutamida 160 mg/dia.
Após um seguimento mínimo de 11,0 meses, o endpoint primário da SG foi comparável entre os braços do estudo, com uma mediana de 15,2 meses para atezolizumabe mais enzalutamida e 16,6 meses enzalutamida em monoterapia. As taxas de SG de 12 meses foram de 60,6% e 64,7%, respectivamente. Os resultados foram consistentes em todos os subgrupos pré-especificados, incluindo o status prévio de exposição a docetaxel ou terapia local e os níveis de expressão de PD-L1.
Também não houve melhora significativa em outros parâmetros, como sobrevida livre de progressão radiográfica ou tempo para progressão de PSA com a combinação versus enzalutamida isolada.
Eventos adversos relacionados ao tratamento de qualquer grau ocorreram em 77,8% dos pacientes no grupo da combinação e 51,1% no grupo de monoterapia com enzalutamida, com eventos de grau 3-4 em 28,3% e 9,6%, respectivamente. Eventos grau 5 ocorreram na frequência de 1,9% e 0,3%, respectivamente.
I-SPY 2: Associação de durvalumabe e olaparibe ao paclitaxel neoadjuvante em pacientes com câncer de mama de alto risco
Verificou-se que a adição de durvalumabe e olaparibe ao paclitaxel neoadjuvante melhorou as taxas de resposta completa patológica (pCR) em comparação com o paclitaxel isolado em pacientes com câncer de mama de alto risco, estádio II/III e HER2 negativo, de acordo com os resultados do estudo de fase II, I-SPY 2.
As pacientes receberam paclitaxel 80 mg/m² semanalmente por 12 ciclos (n = 299) ou em combinação com 1500 mg de durvalumabe a cada 4 semanas por 3 ciclos, além de olaparibe 100 mg duas vezes ao dia durante as semanas 1 a 11 (n = 73). Antes da cirurgia, todas as pacientes receberam doxorrubicina em 60 mg/m² e ciclofosfamida 600 mg/m² por 4 ciclos, administrados a cada 2 ou a cada 3 semanas.
Os dados mostraram que em todos os pacientes com câncer de mama HER2 negativo, a probabilidade prevista de pCR com a combinação foi de 37% (IC 95%, 0,27-0,47) vs 20% para paclitaxel isolado (IC 95%, 0,16-0,25). As respectivas taxas de pCR foram de 28% (IC 95%, 0,18-0,38) versus 14% (IC 95%, 0,09-0,19) nas pacientes com câncer de mama com receptores hormonais positivos. No subgrupo de câncer de mama triplo negativo (TNBC), a taxa de pCR foi de 47% (IC95%, 0,29-0,64) com a combinação e 27% (IC95%, 0,20-0,34) com quimioterapia isolada. Os eventos adversos (EAs) foram consistentes com os perfis de segurança conhecidos de cada agente sozinho.
COVID-19 em pacientes oncológicos
Os dados apresentados hoje por diferentes instituições (França, Itália, EUA) foram os principais fatores de risco para os eventos mais graves da infecção pelo SARS-Cov-2. Foi observado que pacientes com tumores primários de pulmão ou metástases pulmonares apresentavam risco maior, assim como paciente com neoplasias hematológicas, neutropenia e pior performance-status. Entender o papel da tempestade de citocinas no cenário da infecção por COVID-19 também foi um dos tópicos abordados nesse painel de trabalhos clínicos.
A tempestade de citocinas é uma reação imune grave, na qual muitas citocinas são liberadas muito rapidamente no sangue pelo organismo, resultando em uma reação exagerada do sistema imunológico. Isso pode resultar em inflamação pulmonar, causando complicações respiratórias com risco de vida. Assim, os medicamentos usados para tratar a pneumonite, como o tocilizumabe, surgiram como tratamentos em investigação para a tempestade de citocinas em pacientes com COVID-19.
Um estudo em andamento chamado TOCIVID-19, de fase II, recrutou 330 pacientes internados devido ao COVID-19. Os pacientes apresentaram saturação de oxigênio em repouso e em ar ambiente ≤93% e foram intubados em menos de 24 horas antes do registro. Os pacientes receberam tocilizumabe 8 mg/kg até um máximo de 800 mg/kg por dose. Uma segunda dose poderia ser administrada após 12 horas. Os principais desfechos foram a taxa de letalidade em 2 semanas após o registro e a taxa de letalidade em 1 mês após o registro. Os dados iniciais devem estar disponíveis em breve. Sarilumabe, um anti-IL-6, assim como demais medicamentos dessa classe, estão sendo investigados para controlar a SLC em pacientes com COVID-19.
Mais dados ainda estão sendo pesquisados e aguardados.
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