O uso de células CAR-T anti-CD19 é viável em pacientes com 75 anos ou mais para o tratamento do linfoma de grandes células B recidivado/refratário (R/R LBCL).
A terapia CAR-T (em inglês, chimeric antigen receptor T-cell) anti-CD19 transformarmou o tratamento do R/R LBCL (em inglês, relapsed/refractory large B-cell lymphoma), oferecendo uma estratégia potencialmente curativa a esse grupo. No entanto, a população idosa enfrenta desafios específicos, como a imunossenescência, que pode limitar a eficácia, e uma maior carga de comorbidades, aumentando a toxicidade do tratamento. Pacientes com ≥75 anos foram sub-representados em ensaios clínicos, e até o momento, poucas séries do mundo real focaram nesse grupo etário. O objetivo principal deste trabalho foi explorar os resultados de pacientes com R/R LBCL com ≥75 anos tratados na terceira linha ou superior com células CAR-T anti-CD19 e comparar com os pacientes mais jovens (<75 anos).
Foram analisados retrospectivamente pacientes do registro francês DESCAR-T infundidos com produtos comerciais. O desfecho primário foi a OS (em inglês, overall survival). Os desfechos secundários foram a PFS (em inglês, progression-free survival), melhor ORR (em inglês, objective response rate) e CRR (em inglês, objective response rate), CRS (em inglês, cytokine release syndrome) e ICANS (em inglês, immune effector cell-associated neurotoxicity syndrome) de grau ≥3 e NRM (em inglês, non-relapse mortality).
Entre abril de 2018 e setembro de 2023, 1.524 pacientes consecutivos com R/R LBCL, após pelo menos 2 linhas de tratamento, foram infundidos com células CAR-T anti-CD19 (axi-cel n=1065, 69,8% e tisa-cel n=459, 30,1%) e registrados no DESCAR-T. Destes, 125 pacientes possuíam ≥75 anos e 1.399 pacientes <75 anos. Não houve diferenças significativas entre os grupos quanto ao sexo, subgrupo de LBCL, número de linhas anteriores, status de desempenho, índice prognóstico internacional ajustado por idade, taxa de pacientes recebendo terapia de ponte, resposta à terapia de ponte e LDH (em inglês, lactate dehydrogenase) no momento da infusão. Comparados aos pacientes <75 anos, os pacientes ≥75 anos apresentaram maior pontuação HCT-CI (em inglês, Hematopoietic Cell Transplantation Comorbidity Index (31,2% vs 16,8%)), menos transplantes anteriores (4,8% vs 21,8%) e receberam mais frequentemente tisa-cel (43,2% vs 28,9%).
Com um seguimento mediano de 12,7 meses, entre 1.457 pacientes avaliáveis para resposta, a melhor ORR/CRR foi 74,8%/62,6% no grupo ≥75 anos vs 78,0%/60,8% no grupo <75 anos. A mediana estimada de OS foi 18,3 meses e 24,0 meses, com mediana estimada de PFS de 8,2 meses e 6,1 meses, no grupo ≥75 anos e no grupo <75 anos, respectivamente. As taxas de CRS e ICANS de grau ≥3 não foram significativamente diferentes entre os grupos (7,3% vs 7,4% e 9,8% vs 12,4%, respectivamente). No entanto, a NRM foi maior no grupo ≥75 anos (20,0% vs 8,7%). A NRM precoce (antes do dia 28 pós-infusão) ocorreu em 3 pacientes ≥75 anos (2,4% de todos os pacientes) comparado a 16 pacientes <75 anos (1,1% de todos os pacientes).
Este estudo demonstra que o uso de células CAR-T anti-CD19 é viável em pacientes com 75 anos ou mais. Não houve diferença significativa em termos de eficácia e sobrevida em comparação com a população mais jovem. No entanto, a NRM é maior na população idosa, o que merece investigações adicionais para melhorar a seleção de pacientes candidatos ao CAR-T.
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