Análise dos benefícios do regime com cabozantinibe no tratamento do câncer de tireoide refratário à radioiodoterapia: Estudo COSMIC-311 - Oncologia Brasil

Análise dos benefícios do regime com cabozantinibe no tratamento do câncer de tireoide refratário à radioiodoterapia: Estudo COSMIC-311

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O estudo COSMIC-311 avaliou o cabozantinibe como tratamento para câncer de tireoide refratário ao radioiodo (RAIR). Os resultados mostraram que o cabozantinibe melhorou significativamente a sobrevida livre de progressão (PFS) em comparação com o placebo, independentemente da terapia anterior e da histologia do tumor. A taxa de resposta objetiva também foi maior com o cabozantinibe em todos os subgrupos. Os eventos adversos foram gerenciáveis, destacando a tolerabilidade do cabozantinibe. Esses achados sugerem que o cabozantinibe é uma importante opção terapêutica para pacientes com câncer de tireoide RAIR.  

 

O câncer de tireoide é globalmente significativo, com cerca de 44.000 novos casos e 2.000 mortes anuais nos EUA. A maioria é câncer diferenciado de tireoide (em inglês, differentiated thyroid cancer – DTC), incluindo papilar e folicular, com subtipos agressivos como oncocítico e pouco diferenciado. Cirurgia e radioiodoterapia são tratamentos padrão, mas até 15% desenvolvem doença refratária ao radioiodo (em inglês, Radioiodine-Refractory – RAIR). O estudo COSMIC-311 avaliou o cabozantinibe, mostrando significativo aumento na sobrevida livre de progressão (em inglês, progression-free survival – PFS). Essas descobertas são cruciais para ampliar opções terapêuticas e melhorar resultados clínicos para pacientes com câncer de tireoide. 

O estudo COSMIC-311 trata-se de um ensaio multicêntrico, randomizado, duplo-cego, de fase 3 (NCT03690388) que recrutou pacientes com 16 anos ou mais e diagnóstico confirmado de câncer diferenciado de tireoide (DTC), incluindo subtipos papilar ou folicular. Pacientes foram considerados refratários e/ou inelegíveis para tratamento com iodo-131 e haviam recebido terapia prévia com lenvatinibe e/ou sorafenibe, experimentando progressão radiográfica durante ou após o tratamento com um inibidor de tirosina quinase do receptor do fator de crescimento endotelial vascular (VEGFR-TKI). O protocolo do estudo foi aprovado pelos comitês de ética de cada centro, e os pacientes forneceram consentimento informado por escrito. Os pacientes foram randomizados 2:1 para receber cabozantinibe ou placebo, autoadministrados uma vez ao dia, estratificados por uso de lenvatinibe anteriormente e idade. No presente estudo, foi utilizado como desfecho primário, a análise da PFS, enquanto a sobrevida global (em inglês, overall survival – OS) foi considerado como um desfecho adicional. Os endpoints de eficácia foram avaliados em todos os pacientes aleatorizados, enquanto a segurança foi avaliada na população que recebeu pelo menos uma dose do tratamento. 

No que diz respeito aos resultados apresentados no presente estudo, em um tempo médio de 10,1 meses, 258 pacientes foram randomizados para receber cabozantinibe (n=170) ou placebo (n=88) como tratamento para câncer de tireoide refratário ao radioiodo. Os resultados revelaram que a mediana da PFS foi significativamente prolongada com cabozantinibe em comparação com o placebo em pacientes que receberam previamente sorafenibe/lenvatinibe (16,6 vs. 3,2 meses, respectivamente), independentemente da terapia anterior. Além disso, a taxa de resposta objetiva (em inglês, Overall Response Rate – ORR) foi maior com cabozantinibe em comparação com o placebo (21% vs. 0%, respectivamente). Os pacientes com histologia papilar e folicular também apresentaram PFS mediana mais longa com cabozantinibe em comparação com o placebo (9,2 vs. 1,9 meses para papilar; 11,2 vs. 2,5 meses para folicular), enquanto para os subtipos oncocítico e pouco diferenciado, a PFS mediana também foi significativamente maior com cabozantinibe em comparação com o placebo (11,2 vs. 2,5 meses e 7,4 vs. 1,8 meses, respectivamente). 

Os eventos adversos mais comuns relacionados ao tratamento incluíram hipertensão, eritrodisestesia palmar-plantar, fadiga e hipocalcemia, sendo que interrupções do tratamento devido a esses eventos ocorreram em 16% a 23% dos pacientes que receberam cabozantinibe. Não foram relatados eventos adversos de grau 5 relacionados ao tratamento, destacando a tolerabilidade aceitável do cabozantinibe nessa população de pacientes. Esses resultados destacam a eficácia significativa e a segurança aceitável do cabozantinibe como tratamento para câncer de tireoide refratário ao radioiodo, oferecendo uma nova opção terapêutica para pacientes afetados por essa condição desafiadora. 

Na discussão do presente estudo, os autores mencionaram uma análise detalhada dos subgrupos do estudo COSMIC-311, que revelou que o cabozantinibe proporcionou um benefício consistente na PFS em comparação com placebo, independentemente do tratamento prévio com sorafenibe ou lenvatinibe e da histologia papilar ou folicular. A PFS mediana com cabozantinibe foi significativamente mais longa em pacientes que receberam apenas sorafenibe anteriormente (16,6 meses), apenas lenvatinibe anteriormente (5,8 meses) ou ambos sorafenibe/lenvatinibe anteriores (7,6 meses), em comparação com placebo (3,2, 1,9 e 1,9 meses, respectivamente). A taxa de resposta objetiva (ORR) e a taxa de estabilização da doença (DSR) também foram superiores com cabozantinibe em todos os subgrupos, demonstrando benefícios consistentes. Resumidamente, o presente estudo mostrou que o perfil de segurança do cabozantinibe foi comparável entre os subgrupos, reforçando sua eficácia como terapia subsequente em pacientes com carcinoma diferenciado de tireoide resistente ao tratamento prévio com sorafenibe ou lenvatinibe. Esses resultados indicam que o cabozantinibe é uma opção promissora para pacientes com opções terapêuticas limitadas nessa condição clínica desafiadora. 

 

Referências: 

  1. Capdevila J, Krajewska J, Hernando J, Robinson B, Sherman SI, Jarzab B, Lin CC, Vaisman F, Hoff AO, Hitre E, Bowles DW, Williamson D, Levytskyy R, Oliver J, Keam B, Brose MS. Increased Progression-Free Survival with Cabozantinib Versus Placebo in Patients with Radioiodine-Refractory Differentiated Thyroid Cancer Irrespective of Prior Vascular Endothelial Growth Factor Receptor-Targeted Therapy and Tumor Histology: A Subgroup Analysis of the COSMIC-311 Study. Thyroid. 2024 Mar;34(3):347-359. doi: 10.1089/thy.2023.0463. Epub 2024 Jan 23. PMID: 38062732; PMCID: PMC10951569.

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