Atualizações dos dados do EMPOWER-Lung 1 com sequenciamento pós uso de cemiplimabe e estudos de RWE - Oncologia Brasil

Atualizações dos dados do EMPOWER-Lung 1 com sequenciamento pós uso de cemiplimabe e estudos de RWE

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Neste vídeo, Dra. Samira Mascarenhas, oncologista clínica na rede Oncologia D’Or comenta sobre três estudos apresentados no Congresso ESMO 2022, que permitiram o debate sobre as atualizações dos dados de eficácia de cemiplimabe em 1ª linha de tratamento do câncer de pulmão não-pequenas células, assim como a continuação de tratamento pós-progressão.  

Em especial, o estudo clínico EMPOWER-Lung 1 consolida a utilização do cemiplimabe na 1ª linha de tratamento do CPNPC, através da manutenção do benefício de sobrevida global. A especialista comenta também dois trabalhos de real-world que reforçam o uso deste regime de monoterapia e a importância da avaliação da expressão de PD-L1 como screening para decisão de abordagem terapêutica. Confira o vídeo e acompanhe a análise completa da especialista.  

 

 

O advento da imunoterapia trouxe consigo novas oportunidades e perspectivas sobretudo para tumores cujo bloqueio de checkpoints imunológicos se tornou primeira linha de tratamento, como é o caso do câncer de pulmão não-pequenas células (CPNPC). Classicamente, o estudo Keynote-189 estabeleceu o tratamento de CPNPC metastático com pembrolizumabe (anti-PD-1) associado à quimioterapia. Um dos grandes debates em torno desse esquema de tratamento é a possibilidade de tratamentos sem quimioterapia que ofereceriam escape das toxicidades relacionadas ao uso dos quimioterápicos. 

Estima-se que 25-35% dos casos de CPNPC avançados testarão positivo para PD-L1 em pelo menos 50% das células tumorais, essa estimativa, sustenta a utilização, não só de pembrolizumabe como também de fármacos anti-PD-L1 como o já aprovado atezolizumabe. Mais recentemente, com a aprovação de cemiplimabe, anti-PD-1, nesta indicação, houve a ampliação de possibilidades de fármacos neste tipo tumoral. 

O estudo EMPOWER-Lung 1, portanto, avalia o uso de cemiplimabe em monoterapia comparado à quimioterapia à base de platina em primeira linha de tratamento em pacientes com CPNPC avançado e com PD-L1 positivo em pelo menos 50% das células tumorais. Resultados de sobrevida após 3 anos (ESMO 2022) demonstram que com mediana de follow-up de 37,1 meses, a mediana de sobrevida global (SG) de pacientes com expressão de PD-L1>50% tratados com CEMI foi superior ao grupo em quimioterapia: 26,1 meses vs. 13,3 meses, respectivamente [hazard ratio (HD) = 0,57; 95%CI: 0,46-0,71). Ainda, observou-se também uma melhor taxa de resposta objetiva no grupo tratado com CEMI quando comparado ao grupo em quimioterapia: 46,6% vs 21%, respectivamente. Adicionalmente, pacientes que progrediram seguiram em segunda linha com CEMI + quimioterapia e a taxa de resposta objetiva foi de 31,3% com mediana de sobrevida global deste período 2 de 15,1 meses (11,3-18,7) com bom perfil de tolerância. Assim, esses achados fortalecem a utilização de cemiplimabe bem como demonstra vantagens terapêuticas para pacientes que progridem após 1ª linha com anti-PD-1. 

Tendo em vista que coortes de clinical trials têm frequentemente maior homogeneidade e que esse cenário não é fidedigno com relação à prática clínica, Melinda Hsu et al, apresentam também na ESMO 2022 avaliações de desfecho em uma coorte real-world que recebeu imunoterapia em 1ª linha, seja ela em monoterapia quanto associado à quimio. Dentre os 2631 pacientes com CPNPC avançado, as análises múltiplas demonstraram não haver associação entre regime de imunoterapia com a SG naqueles pacientes com tumor PD-L1+ 70-89% (HD =  1,1; 95%CI: 0,9-1,4) ou 90-100% (HD = 1,1; 95%CI: 0,9-1,3), no entanto, naqueles cujo PD-L1 enquadrava-se entre 50-69% a imunoterapia associada à quimioterapia apresentou SG mais duradoura (HD = 1,3; 95%CI: 1,1-1,7). Esses achados apontam que pacientes, conforme a expressão de PD-L1, se beneficiam diferentemente das terapias, podendo em alguns casos a quimioterapia ser retirada do plano terapêutico, o que oferece maior tolerabilidade e segurança para o tratamento. 

Diante os resultados apresentados acima, fica evidente os benefícios e o impacto da imunoterapia no tratamento de CPNPC avançado. No entanto, ainda que presente nos guidelines em 1ª linha, há grandes disparidades entre o uso e os desfechos alcançados. Portanto, Josephine Feliciano et al abordaram na ESMO 2022 tanto parâmetros demográficos quanto clínicos associados à não utilização de imunoterapia em primeira linha em pacientes estratificados por idade (≥65 anos e <65 anos). De uma coorte de 3370 pacientes, aproximadamente 20% não recebeu imunoterapia em primeira linha de modo que independentemente da idade, os motivos que nortearam a não utilização foram critérios clínicos como baixos níveis de PD-L1, histologia e presença ou não de metástase. 

Na ESMO 2022, os três estudos acima apresentados permitem uma compreensão e discussão aprofundada sobre os grandes benefícios da imunoterapia de inibidores de checkpoints imunológicos em CPNPC avançado, a necessidade de compreender e traçar estratégias terapêuticas que representem a heterogeneidade tumoral e populacional, bem como garantir cada vez mais o uso da imunoterapia em primeira linha como forma de oferecer a possibilidade de melhores taxas de resposta e sobrevida global. 

 

Referências:  

  1. Mustafa Ozguroglu et al. Three years survival outcome and continued cemiplimab (CEMI) beyond progression with the addition of chemotherapy (chemo) for patients (pts) with advanced non-small cell lung cancer (NSCLC): The EMPOWER-Lung 1 trial. ESMO 2022. 
  2. Melinda Hsu et al. Outcomes of real-world (RW) patients (pts) with advanced NSCLC (aNSCLC) and high programmed cell death-ligand 1 (PD-L1) expression receiving first line (1L) immune checkpoint inhibitor (ICI) therapy. ESMO 2022 
  3. Josephine Feliciano et al. Factors associated with not receiving first-line (1L) immune checkpoint inhibitor (ICI) treatment among patients (pts) with advanced NSCLC and high programmed cell death-ligand 1 (PD-L1) expression: An evaluation by age. ESMO 2022