Nesta edição de sua coluna, Dr. Tiago Biachi, advanced fellow de Oncologia Gastrointestinal Memorial Sloan Kettering Cancer Center, apresenta e discute sobre qual seria a melhor alternativa para o tratamento de primeira linha do câncer colorretal metastático. O especialista se baseia em dados de um estudo publicado recentemente que levantou a discussão entre se utilizar anti-EGFR ou bevacizumabe na primeira linha
O estudo PARADIGM apresentado na ASCO 2022 pelo Dr. Yoshino, apesar de não ter trazido uma informação completamente inédita, trouxe à tona uma discussão que cerca o câncer colorretal há mais de uma década: qual o melhor anticorpo monoclonal para ser utilizado em primeira linha?
Neste estudo conduzido no Japão, 823 pacientes com câncer colorretal metastático (CCRm) e RAS selvagem foram randomizados para receber FOLFOX associado à panitumumabe ou bevacizumabe (1). Inicialmente desenhado para demonstrar a superioridade do anti-EGFR na população geral, o estudo sofreu 2 emendas ao longo dos anos e, em seu desenho final teve uma análise sequencial: superioridade de sobrevida global na população com tumores do lado esquerdo inicialmente e, caso este desfecho fosse atingido, a sobrevida global seria analisada na população geral. Os investigadores demonstraram um benefício em sobrevida global (SG) de 3 meses, sem benefício em sobrevida livre de progressão (SLP) (1).
Este achado de benefício em SG sem diferença em SLP também ocorreu no estudo FIRE-3, de fase 3, e levanta a discussão que esse benefício estaria associado a ilhas subsequentes (2). No estudo PARADIGM, por exemplo, apenas 54% dos pacientes no braço bevacizumabe foi exposto a anti-EGFR nas linhas subsequentes. Então seria apenas uma questão de expor o paciente a todos os agentes?
Uma outra explicação para tal discrepância seria em razão do efeito de uma taxa de resposta superior associado a respostas mais “profundas”. Tais achados poderiam estar associados a um maior índice de ressecção da doença metastática (18 vs. 11% no PARADIGM) ou a um fenômeno matemático relacionado ao método RECIST. Em relação a essa segunda hipótese, uma resposta mais profunda e precoce poderia levar a uma progressão de doença mais precoce, ainda que com um volume de doença comparativamente menor que o braço controle (3).
Sem dúvida, a lateralidade se tornou uma variável fundamental na escolha da primeira linha desde os dados do estudo CALGB 80405 (4). Uma análise combinada dos dados dos estudos CALGB 80405, PEAK e FIRE-3, publicada por Holch et. al., confirmou o benefício em SG do anti-EGFR nos tumores do lado esquerdo (HR 0,71) (5,6). No entanto, não fica claro se esse benefício se deve ou não à ausência de anti-EGFR, uma eficiente linha de tratamento na doença RAS selvagem, nas linhas subsequentes dos braços controle.
Generalizar é especialmente difícil em um cenário heterogêneo, com diferentes chances de ressecção da doença metastática e com diferente perfil de toxicidade e essa decisão ainda deve ser tomada caso a caso. E você? Optaria pela sequência ou exposição?
Referências:
Alameda Campinas, 579 – Jardim Paulista, São Paulo – SP, 01404-100
CEO: Thomas Almeida
Editor científico: Paulo Cavalcanti
Redatora: Bruna Marchetti
© 2020 Oncologia Brasil
A Oncologia Brasil é uma empresa do Grupo MDHealth. Não provemos prescrições, consultas ou conselhos médicos, assim como não realizamos diagnósticos ou
tratamentos.