BRUIN: eficácia do pirtobrutinibe no tratamento de pacientes refratários com leucemia linfoide crônica, macroglobulinemia de Waldenström ou síndrome de Richter - Oncologia Brasil

BRUIN: eficácia do pirtobrutinibe no tratamento de pacientes refratários com leucemia linfoide crônica, macroglobulinemia de Waldenström ou síndrome de Richter

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Neste vídeo, Dra. Carla Boquimpani, diretora técnica da Fundação Saúde da Secretaria Estadual de Saúde do RJ e líder em Hematologia do Grupo Oncoclínicas Brasil, comenta sobre 3 coortes do estudo de fase 1/2, BRUIN.  

A especialista aborda os dados de eficácia para as coortes de pacientes com LLC/SLL, macroglobulinemia de Waldenström e síndrome de Richter, além dos dados de segurança de todos os pacientes com malignidades de células B. Vale a pena conferir o vídeo para o conteúdo completo!  

 

Os inibidores covalentes de tirosina quinase Bruton (BTKi) melhoraram significativamente os resultados em várias malignidades de células B. Esta classe de medicamentos transformou o panorama do tratamento da leucemia linfoide crônica/linfoma linfocítico de células pequenas (LLC/SLL), e representam um importante avanço para o tratamento da macroglobulinemia de Waldenström (WM). Entretanto, esses agentes não são curativos e a eficácia do tratamento pode ser limitada pela intolerância e resistência. 

Além disso, estima-se que até 10% dos pacientes LLC são acometidos pela síndrome de Richter (RT). Esta é uma condição devastadora que geralmente se apresenta como um linfoma difuso de grandes células B agressivo (LDGCB). Atualmente, não há terapias aprovadas para RT, e esta condição está associada a um prognóstico ruim, com uma sobrevida global mediana (SG) estimada de 3-11 meses. 

Pirtobrutinibe, um BTKi altamente seletivo, não covalente (reversível), inibe tanto a BTK tipo selvagem, quanto a forma com mutação C481. O pirtobrutinibe é bem tolerado e demonstrou eficácia promissora em pacientes com malignidades de células B de prognóstico ruim após terapia anterior, incluindo BTKi covalente anterior.1 

Durante o The 64th annual meeting of the American Society of Hematology (ASH) de 2022 foram apresentados dados do estudo clínico multicêntrico de fase 1/2, BRUIN (NCT03740529), relatando dados atualizados de pacientes com LLC/SLL,2 além dos primeiros dados de pacientes com WM3 e RT4 

 

Coorte de pacientes com LLC/SLL R/R 

O estudo clínico BRUIN incluiu pacientes com malignidades de células previamente tradadas. Para esta primeira análise, foram incluídos os pacientes com LLC/SLL recidivada/refratária (R/R).2 Os principais desfechos incluíram taxa de resposta global (ORR) de acordo com os critérios de resposta iwCLL de 2018, sobrevida livre de progressão (SLP) e segurança 

Entre os 276 pacientes com LLC/SLL R/R que receberam um BTKi anterior, a idade mediana foi de 69 anos (intervalo de 36-88) e o número mediano de terapias anteriores foi de 3 (intervalo de 1-11). Estes pacientes apresentavam algumas características de alto risco frequentes, como del(17p) em 29% (58/197), TP53 mutado em 40% (91/230) e IGHV não mutado em 85% (188/220) dos pacientes. A maioria dos pacientes (n=206, 75%) descontinuou a terapia anterior com BTKi devido à progressão da doença. 

No geral, 84% (n=232) receberam a dose recomendada de fase 2 de 200 mg de pirtobrutinibe uma vez ao dia como dose inicial. Neste grupo de pacientes com LLC/SLL R/R fortemente pré-tratados, incluindo todos com uso prévio de BTKi, a ORR pela avaliação do investigador foi de 74% (IC de 95%, 68-79), incluindo 3 respostas completas (1%). 174 respostas parciais (RP; 64%), 23 PRs com linfocitose (PR-L; 8%) e 1 PR nodular (<1%). Em um tempo mediano de acompanhamento de 13,9 meses, a SLP mediana foi de 19,4 meses (IC 95%, 16,6-22,3). As taxas estimadas de SLP de 12 e 18 meses foram de 68% (IC 95%, 62-74) e 54% (IC 95%, 46-61), respectivamente.  

 

Coorte de pacientes com WM R/R 

Em outra análise do estudo clínico BRUIN, foram incluídos os pacientes com WM previamente tratada.3 Aqui, os principais desfechos foram a taxa de resposta global (ORR) avaliada pelo investigador e a duração da resposta (DoR), por critérios IWWM6 modificados e segurança. Uma resposta maior foi definida como um paciente atingindo uma resposta completa (CR), resposta parcial muito boa (VGPR) ou resposta parcial (PR).  

Entre os 78 pacientes com WM, a idade mediana foi de 68 (intervalo, 42-84) anos e o número mediano de terapias anteriores foram 3 (intervalo, 1-11). Dos 61 pacientes que receberam ≥1 BTKi antes, 40 (66%) descontinuaram a terapia anterior com BTKi devido à progressão da doença. No geral, 91% (71/78) dos pacientes receberam a dose recomendada da fase 2 (200 mg uma vez ao dia) de pirtobrutinibe como dose inicial. 

Dos 72 pacientes com avaliação de resposta, a taxa de resposta maior foi de 68% (IC 95%, 56-79), incluindo 17 VGPRs (24%) e 32 PRs (44%). Em um tempo mediano de acompanhamento de resposta de 7,7 meses, a DoR mediana entre os 49 pacientes que responderam não foi alcançado (IC 95%, 10-NE). A taxa de DoR estimada em 6 meses foi de 86% (IC 95%, 69-94).  

A taxa de resposta maior também foi avaliada em subconjuntos de pacientes, de acordo com a terapia prévia que haviam recebido. Desta forma, para os pacientes que receberam ≥1 BTKi anterior (n=55), a taxa de resposta maior foi de 64% (IC 95%, 50-76), sendo 13 VGPRs (24%) e 22 PRs (40%). DoR mediano também não foi alcançado (IC 95%, 8-NE) e a taxa estimada de DoR de 6 meses foi de 83% (IC 95%, 60-93). Para os pacientes que receberam quimioterapia + anticorpo anti-CD20 (n=60), a taxa de resposta maior foi 68% (IC 95%, 55-80), sendo 13 VGPRs (22%) e 28 PRs (47%). Por fim, para os pacientes que receberam quimioterapia + anticorpo anti-CD20 + BTKi (n=44), a taxa de resposta maior foi 64% (IC 95%, 48-78), sendo 9 VGPRs (21%) e 19 PRs (43 %). 

 

Coorte de pacientes com RT 

Nesta terceira análise do estudo clínico BRUIN, foram incluídos pacientes com LLC e RT confirmada histologicamente (todos os LDGCB).4 Inicialmente, apenas pacientes com RT previamente tratados eram elegíveis. A partir da Emenda 10, os pacientes com RT não tratada também foram elegíveis. Os principais desfechos incluíram taxa de resposta global (ORR) avaliada pelo investigador e duração da resposta (DoR) de acordo com os critérios de Lugano 2014 e segurança 

Entre os 57 pacientes com RT, a idade mediana foi de 67 (intervalo, 33-86) anos e 91% (n=52) receberam pelo menos 1 terapia anterior direcionada ao tratamento da RT. O número mediano de terapias anteriores direcionadas ao tratamento de RT foi 2 (intervalo, 0-7) e o número mediano de terapias dirigidas ao tratamento da LLC antes do desenvolvimento de RT foi 2 (intervalo, 0-13). 

No geral, 98% (56/57) dos pacientes receberam a dose recomendada de fase 2 de 200 mg de uma vez ao dia de pirtobrutinibe como dose inicial. Neste grupo de pacientes com RT, predominantemente pré-tratada, os 50 pacientes com resposta avaliável atingiram uma ORR de 54% (IC 95%, 39-68), incluindo 5 CRs e 22 PRs. Em um tempo mediano de acompanhamento de resposta de 5,5 meses, o DoR médio foi de 8,6 meses (IC 95%, 1,9-NE) com 63% das respostas censuradas no momento do corte dos dados. Em um acompanhamento mediano do estudo de 9,7 meses, a SG mediana foi de 13,1 meses (IC 95%, 7,1-NE). Seis pacientes descontinuaram eletivamente o pirtobrutinibe em resposta contínua para prosseguir com a terapia de intenção curativa (transplante alogênico, n=6 com tempo mediano de terapia de 3,8 [intervalo, 2,5-11,5] meses). 

 

Coorte de segurança 

Na coorte de segurança do estudo BRUIN, onde foram incluídos todos os pacientes com malignidades de células B que receberam pelo menos uma dose de monoterapia com pirtobrutinibe (n=725), os TEAEs mais frequentes, independentemente da atribuição, foram fadiga (26%, n=191), diarreia (22%, n=160), e contusão (19%, n=138). O TEAE de grau ≥3 mais frequente foi a neutropenia (20%, n=143). Foram observadas taxas baixas de TEAEs de grau ≥3 de hipertensão (3%, n=20), hemorragia (2%, n=16) e fibrilação/flutter atrial (1%, n=7). No geral, 15 (2%) pacientes descontinuaram devido a um EA relacionado ao tratamento. 

Nesta análise atualizada com pacientes adicionais e acompanhamento prolongado, o pirtobrutinibe continua a demonstrar eficácia promissora e durável em pacientes com LLC/SLL R/R fortemente pré-tratados, que foram tratados com um BTKi covalente anterior. Além disso, também foi demonstrado que o pirtobrutinibe demonstrou eficácia preliminar promissora em pacientes com WM e RT. As análises de segurança demonstraram que o pirtobrutinibe foi bem tolerado com baixas taxas de descontinuação devido à toxicidade relacionada ao medicamento. 

No vídeo, a especialista comenta sobre o impacto clínico destes dados e foca nos achados mais importantes destes estudos. Confira o vídeo e assista o conteúdo completo!  

 

Referências: 

  1. Mato AR, et al., Pirtobrutinib in relapsed or refractory B-cell malignancies (BRUIN): a phase 1/2 study. Lancet. 2021 Mar 6;397(10277):892-901.  
  2. Anthony R. Mato, et al., 961 Efficacy of Pirtobrutinib in Covalent BTK-Inhibitor Pre-Treated Relapsed / Refractory CLL/SLL: Additional Patients and Extended Follow-up from the Phase 1/2 BRUIN Study. ASH 2022 
  3. M.Lia Palomba et al., 229 Efficacy of Pirtobrutinib, a Highly Selective, Non-Covalent (Reversible) BTK Inhibitor in Relapsed / Refractory Waldenström Macroglobulinemia: Results from the Phase 1/2 BRUIN Study. ASH 2022. 
  4. William G. Wierda et al., 4218 347 Efficacy of Pirtobrutinib, a Highly Selective, Non-Covalent (Reversible) BTK Inhibitor in Richter Transformation: Results from the Phase 1/2 BRUIN Study. ASH 2022