Condutas na avaliação e tratamento do mieloma múltiplo e do linfoma de Hodgkin - Oncologia Brasil

Condutas na avaliação e tratamento do mieloma múltiplo e do linfoma de Hodgkin

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Um compilado de achados importantes apresentados no congresso ASH 2022 

 

O congresso mais recente da American Society of Hematology (ASH), um dos eventos mais importantes no ramo da hematologia, ocorreu entre 10 e 13 de dezembro de 2022, e nos proporcionou a oportunidade de refletir a respeito de avanços recentes na área. Neste texto, discorreremos sobre alguns dos achados notáveis apresentados no evento. 

Um trabalho de Birhiray – e colaboradores, avaliou a transição da administração parenteral de bortezomibe para ixazomibe de forma oral em pacientes com mieloma múltiplo recém diagnosticado. O intuito da transição é manter a qualidade de vida dos pacientes, visto que a administração parenteral apresenta baixa tolerabilidade.  

A análise foi feita em subgrupos definidos por idade (< 75 anos e > ou = 75 anos) e revelou que a transição permitiu a consolidação de um tratamento tolerável, a longo prazo, com melhoria nas respostas em ambos os grupos. 

Outro trabalho estudou a efetividade e a segurança do ixazomibe em combinação com lenalidomida e dexametasona em pacientes com mieloma múltiplo recidivado ou refratário. O estudo foi uma coorte não intervencional e prospectiva, que analisou a combinação na “vida real” de pacientes na França. 

Os resultados foram positivos e consistentes com o ensaio clínico fase 3 Tourmaline-MM1 previamente realizado, com uma sobrevida livre de progressão média de 19.1 meses. A efetividade da combinação como terceira linha de tratamento foi similar à segunda linha, mas menor como quarta linha ou adiante. Além disso, os efeitos adversos foram consistentes com o perfil de segurança do ixazomibe. 

O mieloma múltiplo recidivado ou refratário também foi alvo de estudo na avaliação do Modakafusp alfa, um novo agente imune que consiste em moléculas atenuadas da citocina IFNα. Foram reportados os resultados de eficácia e segurança do primeiro estudo fase 1/2 feito em humanos. 

O agente Modakafusp alfa apresentou um novo mecanismo de ação antitumoral, com perfil de segurança manejável e atividade anti-mieloma promissora. Os resultados positivos progrediram para um ensaio fase 2, randomizado, de comparação de doses. O estudo encontra-se em fase de recrutamento. 

Prosseguindo para o estudo do linfoma de Hodgkin, Stuver e colaboradores compararam quatro coortes sequenciais com o objetivo de aprimorar a curabilidade e limitar efeitos adversos a longo prazo do tratamento do linfoma de Hodgkin recém diagnosticado com risco desfavorável. Os pacientes incluídos no estudo receberam quatro ciclos de brentuximabe vedotina (BV) e doxorrubicina, vimblastina e dacarbazina (AVD), seguido de diferentes doses de radioterapia ou nenhuma dose, o que diferenciou as coortes. 

O estudo demonstrou que o sistema BV-AVD continua ativo e bem tolerado, inclusive na ausência de radioterapia de consolidação. Também foi identificado um grupo com risco aumentado de falha no tratamento, quando analisados o volume metabólico tumoral basal e os resultados de PET2. 

Por fim, um estudo fez análises de farmacocinética populacional e exposição-resposta para avaliar o risco-benefício da combinação brentuximabe vedotina com doxorrubicina, vimblastina e dacarbazina (AVD) em pacientes pediátricos com linfoma de Hodgkin recém diagnosticado de estágio avançado. 

Os modelos de farmacocinética identificaram covariáveis relacionadas aos regimes terápicos estudados, como níveis de BSA e albumina. Adicionalmente, as análises de exposição-resposta sustentam a utilização de 48 mg/m² de brentuximabe vedotina, duas vezes na semana em combinação com AVD como uma opção de tratamento para a população estudada. 

 

Referências:  

Birhiray RE, Rifkin RM, Yasenchak CA, et al. In-Class Transition (iCT) from Parenteral Bortezomib to Oral Ixazomib Therapy in Newly Diagnosed Multiple Myeloma (NDMM) Patients from the Community-Based US MM-6 Study: Subgroup Analyses of the Fully Accrued Dataset in Patients Aged <75 and ≥75 Years. Blood 2022; 140 (Supplement 1): 7322–7323. 

  • Vincent L, Rumpler AC, Benboubker L, et al. Effectiveness and Safety of Ixazomib in Combination with Lenalidomide and Dexamethasone in Relapsed or Refractory Multiple Myeloma in a Real-Life Population in France: The Remix Study. Blood 2022; 140 (Supplement 1): 4312–4314. 
  • Final Results from the First-in-Human Phase 1/2 Study of Modakafusp Alfa, an Immune-Targeting Attenuated Cytokine, in Patients (Pts) with Relapsed/Refractory Multiple Myeloma (RRMM). Presented by Dan T. Vogl on Dec 11th. ASH 2022 
  • Stuver R, Michaud L, Casulo C, et al. Brentuximab Vedotin Combined with Chemotherapy in Newly Diagnosed, Early-Stage, Unfavorable-Risk Hodgkin Lymphoma: Extended Follow-up with Evaluation of Baseline Metabolic Tumor Volume and PET2. Blood 2022; 140 (Supplement 1): 1756–1758. 
  • Zhou X, Mould DR, Franklin ARK, et al. Population Pharmacokinetics (PPK) and Exposure-Response to Support Body Surface Area (BSA)-Based Dosing of Brentuximab Vedotin in Pediatric Patients with Advanced-Stage Newly-Diagnosed Hodgkin Lymphoma (HL). Blood 2022; 140 (Supplement 1): 3724–3725.