Dados do estudo REACH3 indicam possível mudança de conduta para pacientes transplantados alogênicos com doença do enxerto contra hospedeiro - Oncologia Brasil

Dados do estudo REACH3 indicam possível mudança de conduta para pacientes transplantados alogênicos com doença do enxerto contra hospedeiro

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Dr. Jayr Schmidt Filho, Head da Onco-Hematologia do A.C.Camargo Cancer Center, comenta os dados de análise primária do REACH3, um estudo de fase 3, aberto e randomizado para pacientes transplantados alogênicos de medula óssea e que desenvolveram a doença do enxerto contra hospedeiro (GVHD).

O médico primeiramente ressalta a importância do transplante alogênico de medula óssea enquanto opção curativa para muitas doenças hematológicas, oncológicas ou não. Na sequência, também contextualiza sobre a doença do enxerto contra o hospedeiro crônica (cGVHD, sigla em inglês ou DECH), que é um dos principais desafios enfrentados pelos hematologistas. Em sua forma crônica, a DECH ocorre em aproximadamente 3070% dos pacientes submetidos ao transplante alogênico e é a principal causa de morbi-mortalidade não relacionada à recaída da doença de base.

O tratamento de linha da DECH crônica consiste em corticoides sistêmicos. Cerca de 50% dos pacientes, no entanto, são refratários a ou dependentes de esteroides e requerem tratamento adicional. De acordo com Dr. Jayr, a melhor opção de terapia de linha ainda não está definida e se faz necessária.

Ruxolitinibe (RUX), um inibidor oral de JAK1/2, já é utilizado no Brasil no momento para mielofibrose primária e policitemia vera. Em 2020, o REACH2, estudo de fase 3, demonstrou a eficácia do ruxolitinibe (RUX) na DECH aguda refratária a esteroides.

Agora, o REACH3 avaliou 329 pacientes com idade mínima de 12 anos com DECH crônica moderada ou grave, considerados como cortico-dependentes ou cortico-refratários. Eles foram randomizados (1:1) para RUX 10 mg 2x/dia (n = 165) ou para a escolha selecionada pelo investigador (10 opções; n = 164)) e foram tratados por 6 ciclos (ciclo de 28 dias). Os pacientes continuaram recebendo seu regime de corticosteroides.

O desfecho primário foi taxa de resposta geral (TRG), que foi analisada na semana 24 após o início do tratamento. A TRG foi definida como a proporção de pacientes que alcançaram resposta parcial ou resposta completa, de acordo com os critérios do consenso do NIH.

O endpoint primário foi alcançado com 49,7% de resposta global, sendo 6,7% de resposta completa no braço do RUX versus 25,6% de resposta global, sendo 3% de resposta completa no braço da terapia padrão.

Já os principais desfechos secundários foram sobrevida livre de falha terapêutica (SLF, definida como o tempo até o início da recorrência da doença subjacente, início de novo tratamento sistêmico para cGVHD ou morte) e análise de qualidade de vida de acordo com escore de sintomas de Lee modificado. Os resultados mostraram SLF significativamente mais longa para paciente tratados com RUX (SLF mediana, não atingida versus 5,7 meses; HR, 0,370).

Em relação aos eventos adversos, predominam a toxicidade hematológica com anemia, plaquetopenia e neutropenia. Segundo o médico, essas toxicidades hematológicas são eventos já conhecidos e requerem atenção no manejo dos pacientes tratados com RUX. Infecções de qualquer tipo ocorreram em 64% de RUX e 56% de terapia padrão, incluindo as infecções fúngicas mais comum no braço de RUX (12% versus 6%).

Dr. Jayr Schmidt Filho conclui que este é o primeiro ensaio clínico randomizado de fase 3 bem-sucedido de RUX em pacientes adolescentes e adultos com DECH crônicos refratários a ou dependentes de esteroides e ressalta que os dados de eficácia sugerem uma mudança de conduta. Ainda existem, porém, de acordo com o onco-hematologista, alguns desafios em relação ao acesso no Brasil, uma vez que essa indicação para DECH crônica ainda não está aprovada pela Anvisa e não consta no rol da ANS, nem em bula do RUX.

Por fim, ele comenta que, a partir dos resultados obtidos no REACH3, existe uma grande expectativa para a ampliação desta indicação a fim de proporcionar tratamento para essa população de pacientes.

Referências: 

Zeiser R, et al. Ruxolitinib (RUX) Vs Best Available Therapy (BAT) in Patients with Steroid-Refractory/Steroid-Dependent Chronic GraftVs-Host Disease (cGVHD): Primary Findings from the Phase 3, Randomized REACH3 Study. Abstract 77. Presented at: 62nd ASH Annual Meeting and Exposition, 2020. 

 

Zeiser R, Bubnoff NV, Butler J, et al. Ruxolitinib for glucocorticoid-refractory acute graft-versus-host disease. N Engl J Med. 2020;382(19):1800-1810. doi:10.1056/nejmoa1917635

 

 

 

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