Nesta edição de sua coluna mensal, Dr. Tiago Biachi, Advanced Fellow de Oncologia Gastrointestinal Memorial Sloan Kettering Cancer Center, discute sobre controvérsias no tratamento de primeira linha para o tratamento do carcinoma hepatocelular avançado
Poucas áreas tiveram um avanço tão significativo em oncologia gastrointestinal nos últimos anos quanto o tratamento do carcinoma hepatocelular avançado (CHC). Evoluímos a partir do uso de sorafenibe como única opção para um cenário com múltiplas escolhas, onde o processo optativo do tratamento mais adequado para cada paciente passou a ser um tema controverso.
Em 2008, após a publicação do estudo SHARP, sorafenibe se tornou tratamento de escolha para o CHC não passível de tratamento local ou locorregional, permanecendo como a única opção até 2018 – quando foram publicados os dados de não-inferioridade de sobrevida global de lenvatinibe vs sorafenibe (13,6 vs 12,3 meses; HR 0.92) [1,2].
Tendo em vista a etiologia viral em uma grande parcela dos casos, o que acarretaria uma alta taxa de neoantígenos, os inibidores de checkpoint imunológico despontaram como uma estratégia promissora no CHC em estudos pré-clínicos. No entanto, seu uso em monoterapia na primeira linha com nivolumabe foi comparado ao sorafenibe no estudo de fase III CheckMate-459, e, apesar de ter demonstrado taxa de resposta superior (15 vs 7%), esta não se traduziu em sobrevida livre de progressão (SLP) (3,7 vs 3,8 meses) ou SG (16,4 vs 14,7 meses) [3].
Ainda utilizando o sorafenibe como braço controle, o estudo randomizado, de fase III, IMBRAVE 150 avaliou o uso da combinação de imunoterapia com atezolizumabe e anti-angiogênico com bevacizumabe. Neste estudo, foram excluídos pacientes com hepatite B ou C, varizes esofágicas com alto risco ou sangramento ativo, em endoscopia realizada nos últimos 6 meses. A combinação demonstrou benefício em SG em 12 meses (67 vs 54%), SLP mediana (6,8 vs 4,3 meses) e taxa de resposta (33 vs 13%) comparado ao sorafenibe, se tornando uma nova opção de tratamento padrão.
A polêmica ao redor do tratamento de primeira linha surgiu com a apresentação recente, na ASCO GI, dos dados do estudo de fase III HIMALAYA. Esse estudo foi desenhado com 3 braços de tratametno (durvalumabe e tremelimumabe, durvalumabe ou sorafenibe), e atingiu seu desfecho primário, a taxa de SG em 3 anos que foi de 30,7%, 24,7% e 20,2%, respectivamente para a combinação de durvalumabe e tremelimumabe, durvalumabe em monoterapia ou sorafenibe em monoterapia. Ainda, apesar de superiores taxas de resposta (20,1%, 17% e 5,1%), o desfecho de SLP não foi atingido. Apesar dos números próximos entre os braços da combinação e de durvalumabe em monoterapia, os investigadores salientam o fato do estudo não possuir poder estatístico para essa comparação.
As comparações entre estudos são desencorajadas e a escolha entre os esquemas mais atuais (IMbrave150 e HIMALAYA) deve ser pautada em seus critérios de inclusão/exclusão, assim como no perfil de toxicidade esperado. Análise de fatores preditores de resposta que auxiliem nessa tomada de decisão são esperados no futuro. Ainda, o uso isolado de inibidores de tirosina quinase permanece uma opção para aqueles pacientes com contraindicação ao uso de imunoterapia, como, por exemplo, aqueles submetidos previamente a transplante hepático.
Referências:
Alameda Campinas, 579 – Jardim Paulista, São Paulo – SP, 01404-100
CEO: Thomas Almeida
Editor científico: Paulo Cavalcanti
Redatora: Bruna Marchetti
© 2020 Oncologia Brasil
A Oncologia Brasil é uma empresa do Grupo MDHealth. Não provemos prescrições, consultas ou conselhos médicos, assim como não realizamos diagnósticos ou
tratamentos.