Escore de propensão demonstra ganho de sobrevida global em pacientes com melanoma uveal tratados com tebentafusp

Pacientes tratados com esse fármaco apresentaram redução de 48% no risco de óbito quando comprado ao regime de nivolumabe e ipilimumabe

O melanoma uveal é uma neoplasia altamente maligna que acomete as camadas vasculares dos olhos. Embora o tratamento para essa malignidade tenha avançado, cerca de 50% dos pacientes desenvolvem metástase, especialmente para o fígado, resultando em prognóstico ruim e uma sobrevida global inferior ou igual a um ano com as terapias atualmente disponíveis. Apesar dos benefícios trazidos pela imunoterapia, eles não são tão expressivos quanto os observados em melanoma cutâneo. Para suprir essa necessidade clínica, o tebentafusp, um anticorpo biespecífico, que direciona a resposta de linfócitos T ao gp100 presente na superfície de células tumorais em pacientes com HLA-A*02:01, representa uma abordagem inovadora. 

O fármaco demonstrou benefícios significativos em sobrevida global em pacientes com melanoma uveal metastático, com uma taxa de sobrevida em 1 ano de 73% e uma redução de 49% no risco de óbito (HR = 0,51; 95%CI: 0,37-0,71). Esse benefício foi sustentado após um acompanhamento mínimo de 3 anos em comparação com imunoterapia à escolha do investigador (Dacarbazina, Ipilimumabe ou Pembrolizumabe). Embora o regime de nivolumabe+ipilimumabe seja uma opção para alguns pacientes, especialmente devido aos benefícios desse regime em melanoma cutâneo, ainda são necessários estudos randomizados, dado que os resultados obtidos são do estudo clínico GEM-1402 de fase II, onde a taxa de sobrevida global em 1 ano foi de 52% 

No entanto diante da ausência de estudos clínicos randomizados robustos para avaliar essas combinações e com uma limitação importante que é a baixa prevalência desse tipo tumoral, Piulats e demais investigadores propõem uma análise de escore de propensão. Utilizando dados de pacientes de dois estudos clínicos, eles comparam a sobrevida global em pacientes tratados com tebentafusp ou pembrolizumabe (IMCgp100-202) com a de pacientes tratados com nivolumabe + ipilimumabe (GEM-1402). Para esta análise, foram realizados ajustes adequados baseado no Inverse Probability of Treatment Weighting (IPTW). 

Foram incluídos 240 pacientes tratados com tebentafusp e 45 tratados com Nivo+Ipi, com covariáveis bem balanceadas entre os grupos. A avaliação da sobrevida global favoreceu o tratamento com tebentafusp, evidenciado por uma redução de 48% no risco de óbito (HR=0,52; 95%CI: 0,35-0,78) e uma taxa de sobrevida em um ano de 73%, comparado a 50% dos pacientes que receberam Nivo+Ipi. Esses achados foram consistentes nas análises de sensibilidade. Além disso, do estudo IMCgp100-202, não foram observadas diferenças na sobrevida global entre os pacientes tratados com Pembrolizumabe e aqueles tratados com Nivolumabe + Ipilimumabe. 

Os resultados apresentados sugerem tebentafusp como uma opção terapêutica promissora para o tratamento de melanoma uveal metastático, em um contexto tumoral raro e carente de terapias eficazes. O estudo ressalta a importância e aplicabilidade da análise de escore de propensão como uma ferramenta-chave para gerar resultados e informações em contextos com escassez de estudos clínicos randomizados. 

Referências:  

1. Piulats JM, Watkins C, Costa-García M, et al. Overall survival from tebentafusp versus nivolumab plus ipilimumab in first-line metastatic uveal melanoma: a propensity score-weighted analysis. Ann Oncol. 2024.