Dra. Mariana Scaranti, oncologista clínica do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo e do Instituto do Câncer no Estado de São Paulo (ICESP), comenta os resultados do estudo IMagyn050, apresentado no ESMO Virtual Congress 2020, envolvendo pacientes com câncer de ovário.
De acordo com a médica, o câncer epitelial de ovário tem como base de tratamento nos estadios avançados III/IV carboplatina e paclitaxel somados ao bevacizumabe ou não, dependendo do contexto, além da cirurgia, que pode ser uma citorredução primária ou citorredução de intervalo após quimioterapia neoadjuvante.
O atezolizumabe, um inibidor de correceptor imune anti-PD-L1, é eficaz em vários tipos de câncer. O bloqueio do VEGF (fator de crescimento endotelial vascular) associado ao tumor pode promover a infiltração de células T no leito do tumor e aumentar a resposta imune antitumoral, justificando a combinação com bevacizumabe. O bloqueio duplo de VEGF-A e PD-L1 é eficaz nos cânceres de pulmão e hepatocelulares, por exemplo.
O estudo IMagyn050 (NCT03038100) é um estudo randomizado de fase III que incluiu pacientes recém-diagnosticadas com câncer de ovário estadio III/IV previamente não tratadas e que se submeteram à cirurgia citorredutora primária com doença residual ou quimioterapia neoadjuvante e cirurgia de intervalo.
As pacientes elegíveis foram randomizadas na proporção 1:1 para atezolizumabe 1200 mg ou placebo dos ciclos 1 a 22, com paclitaxel 175 mg/m² + carboplatina AUC6 dos ciclos 1 a 6 + bevacizumabe 15 mg/kg dos ciclos 2 ao 22 (pacientes destinadas à cirurgia citorredutora primária), omitindo o bevacizumabe perioperatório em pacientes sob quimioterapia neoadjuvante.
Os ciclos foram repetidos a cada 3 semanas. Os fatores de estratificação foram: estadio III versus IV, ECOG PS 0 versus 1/2, expressão de PD-L1 em células imunes (IC < 1% versus ≥1% [PD-L1 considerado positivo]) e estratégia de tratamento (cirurgia citorredutora primária versus quimioterapia neoadjuvante com cirurgia de intervalo).
Os desfechos co-primários foram sobrevida livre de progressão (SLP) avaliada pelo investigador (RECIST v1.1) e sobrevida geral (SG) nas populações com intenção de tratar (ITT) e PD-L1 positivo. A SLP foi testada em paralelo nas duas populações e a SG foi testada hierarquicamente.
Os resultados mostraram que das 1301 pacientes inscritas, aproximadamente 25% receberam quimioterapia neoadjuvante. O acompanhamento médio foi de aproximadamente 20 meses em ambos os braços. Não houve melhora estatisticamente significativa de SLP na população ITT (HR 0,92; IC 95% 0,79-1,07; mediana de 18,4 meses com placebo versus 19,5 meses com atezolizumabe) ou na população PD-L1 positivo (HR 0,80; IC 95% 0,65–0,99, mediana de 18,5 versus 20,8 meses, respectivamente).
Em uma análise exploratória do subgrupo PD-L1 IC ≥ 5%, a SLP apresentou tendência a favor do atezolizumabe. Embora imaturos, os primeiros resultados interinos de SG não mostraram benefício significativo do atezolizumabe.
Quanto aos eventos adversos, foram observadas proporções semelhantes de descontinuação do tratamento entre os grupos (22% placebo versus 26% atezolizumabe). O perfil de segurança de quimioterapia + atezolizumabe + bevacizumabe foi consistente com os eventos adversos esperados.
Os autores concluem que o atezolizumabe não melhorou significativamente a SLP na população ITT ou PD-L1 positivo. A combinação foi geralmente bem tolerada com eventos adversos controláveis. As análises exploratórias de subgrupos de biomarcadores estão em andamento.
Referência:
Kathleen Moore, et al. Primary results from IMagyn050/GOG 3015/ENGOT-OV39, a double-blind placebo (pbo)-controlled randomised phase III trial of bevacizumab (bev)-containing therapy +/- atezolizumab (atezo) for newly diagnosed stage III/IV ovarian cancer (OC). Abstract LBA31. ESMO 2020.
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