No terceiro dia do ESMO 2024, foram apresentados estudos relevantes em pacientes com neoplasias geniturinárias, com destaque para o estudo NIAGARA. Este estudo avaliou a adição de durvalumabe à quimioterapia com cisplatina e gencitabina no tratamento perioperatório de pacientes com carcinoma urotelial músculo-invasivo. Os pacientes foram randomizados para receber cisplatina e gencitabina por 4 ciclos, com ou sem durvalumabe (1500 mg EV a cada 3 semanas), seguidos de cistectomia radical. No braço experimental, os pacientes continuaram a receber durvalumabe por 8 ciclos após a cirurgia.
Um total de 1063 pacientes foi incluído no estudo, que demonstrou ganhos significativos em sobrevida livre de eventos e sobrevida global com a adição da imunoterapia perioperatória, com hazard ratios de 0,68 e 0,75, respectivamente. Os eventos adversos observados foram consistentes com os perfis de segurança já conhecidos do durvalumabe e da quimioterapia à base de cisplatina, sendo que eventos adversos de grau 3 ou superior ocorreram em uma proporção significativa de pacientes. O ganho em sobrevida global observado neste estudo sugere que ele pode vir a influenciar a prática clínica.
Entretanto, há pontos a serem considerados, como a ausência de imunoterapia adjuvante no braço controle para pacientes com doença residual significativa e o fato de um estudo randomizado anterior ter demonstrado aumento de sobrevida global com MVAC em dose densa em comparação com cisplatina e gencitabina nesse cenário. Isso levanta a questão se o tratamento proposto no estudo NIAGARA se tornará o novo padrão ou apenas mais uma opção terapêutica.
Outro estudo interessante foi a análise preliminar de DNA tumoral circulante (ctDNA) no estudo VOLGA, um ensaio de fase 3 que avaliou a combinação de durvalumabe, tremelimumabe e enfortumabe vedotina. A análise exploratória correlacionou a negativação de ctDNA após terapia neoadjuvante com resposta patológica completa, enquanto a não negativação foi associada à persistência de doença residual significativa após a cistectomia. Esses dados preliminares sugerem que a análise de ctDNA antes da cirurgia pode ajudar a estratificar os pacientes quanto à resposta ao tratamento e orientar futuros estudos.
Por fim, em pacientes com carcinoma urotelial não músculo-invasivo, foi apresentado o estudo SunRISe-1, que investigou o uso do TAR-200 (dispositivo intravesical de liberação prolongada de gencitabina) em pacientes com carcinoma urotelial in situ não responsivos à BCG, com ou sem doença papilar. O estudo mostrou uma alta taxa de resposta completa (83,5%), com 57,4% dos pacientes mantendo a resposta completa na análise de 12 meses após o início do tratamento. De modo geral, o tratamento foi bem tolerado e surge como uma estratégia promissora para essa população de pacientes.
Diogo Bastos, MD, PhD
Oncologista Clínico, membro titular da oncologia do Hospital Sírio Libanês e especialista em Oncologia Genitourinária.
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