A combinação de atezolizumabe e bevacizumabe pode se tornar o tratamento de escolha na primeira linha do carcinoma hepatocelular (CHC) avançado
Dr. Rogério Alves, médico hepatologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e coordenador do ambulatório de onco-hepatologia do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual – IAMSPE, e Dr. Diogo Bugano, oncologista clínico no Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein, comentaram sobre carcinoma hepatocelular e os recentes dados do estudo IMbrave150 e mostraram um grande entusiasmo por um tratamento que está mudando a sobrevida global dos pacientes.
Apresentado pela primeira vez na ESMO Ásia de 2019 e publicado no NEJM em 2020, o estudo comparou atezolizumabe (anti-PD-L1) mais bevacizumabe (anti-VEGF) versus sorafenibe no tratamento de primeira linha para pacientes com CHC localmente avançado ou irressecável que não haviam recebido terapia sistêmica prévia. Os elegíveis poderiam ter recebido tratamento local anteriormente e não poderiam apresentar varizes esofágicas com alto risco de sangramento ou varizes não tratadas.
Os pacientes foram randomizados 2:1 para 1200 mg de atezolizumabe mais 15 mg/kg de bevacizumabe por via intravenosa a cada 3 semanas versus 400 mg de sorafenibe via oral duas vezes ao dia. O tratamento foi administrado até a perda de benefício clínico ou toxicidade inaceitável. Do total de pacientes randomizados, 336 foram incluídos no braço de atezolizumabe + bevacizumabe e 165 no braço de sorafenibe. A idade mediana foi de 65 anos.
Metade dos pacientes era da Ásia e metade do resto do mundo. Dada a predominância da população asiática, 50% dos pacientes tinham CHC causado pelo vírus da hepatite B, endêmico na região, outros por vírus C e somente 30% tinham CHC de etiologia não viral. Além disso, 60% dos pacientes tinham doenças extra hepática e 38% tinham invasão macrovascular e, portanto, tumores localmente avançados, sendo 80% BCLC C e 15% BCLC B.
Segundo os especialistas, o cenário apresentado não reflete a realidade do Brasil, que tem um número muito menor de pacientes com vírus B, por exemplo. Logo, o perfil de pacientes do estudo era de pior prognóstico comparado ao dos pacientes brasileiros. Assim, os resultados já animadores obtidos no IMbrave150 aumentam ainda mais a expectativa para quando forem aplicados no nosso contexto.
O estudo demonstrou uma redução bastante expressiva da mortalidade: 42% de redução do risco de morte e 41% de redução do risco de progressão ou morte da doença. Também demonstrou um ganho de taxa de resposta em torno de 33%, o que não se observava antes com nenhum dos inibidores tirosina quinase, e quase 80% de controle da doença.
A toxicidade e os eventos adversos são os mesmos observados com as drogas em monoterapia. Os pacientes apresentaram algum grau de rush cutâneo e artralgia, porém foram controlados. As reações imunomediadas graves, do tipo diarreia grau 3 e hepatite grau 3, ficaram na ordem de apenas 1 a 2%.
Os médicos destacaram o receio do uso de bevacizumabe na dose alta de 15 mg/kg em pacientes cirróticos com varizes de esôfago por causa do risco de sangramento. Porém, como no estudo selecionaram pacientes que não tinham varizes com alto risco de sangramento ou que tinham varizes tratadas, observou-se que a taxa de sangramento foi baixa (menos de 1% de sangramentos graves), estando dentro do que já se está acostumado com o bevacizumabe.
Por fim, eles comentaram que se sentem bastante confiantes e empolgados em ter, pela primeira vez em muitos anos, a possibilidade de mudar o tratamento desses pacientes. Com a aprovação dessa combinação de atezolizumabe com bevacizumabe no Brasil, os especialistas acreditam que o regime se tornará o tratamento de escolha na primeira linha do carcinoma hepatocelular avançado.
Referências:
Finn, RS et al Atezolizumab plus Bevacizumab in Unresectable Hepatocellular Carcinoma. NEJM, 2020; 382:894-1905
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