Especialistas discutem sobre tratamento atual sistêmico de 1L do carcinoma hepatocelular e o que muda com a imunoterapia - Oncologia Brasil

Especialistas discutem sobre tratamento atual sistêmico de 1L do carcinoma hepatocelular e o que muda com a imunoterapia

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Aprovada a combinação do uso de atezolizumabe e bevacizumabe em câncer hepatocelular avançado baseado no estudo IMbrave150

Dra. Anelisa Coutinho, oncologista clínica e coordenadora do Serviço de Tumores GI da Clínica AMO (BA) e diretora do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG), e Dr. Paulo Bitterncourt, hepatologista, coordenador da Unidade de Gastro-Hepatologia do Hospital Português (BA) e presidente do Instituto Brasileiro do Fígado (IBRAFIG), discutiram sobre o tratamento atual do carcinoma hepatocelular (CHC) e o que muda nesse cenário com a aprovação da combinação do atezolizumabe e do bevacizumabe.

O carcinoma hepatocelular é o 5º mais frequente em homens, 7º em mulheres e o 3º mais letal. Acomete geralmente pessoas com cirrose hepática e, infelizmente, no Brasil, é diagnosticado em estágio avançado, quando a única alternativa de tratamento na maioria das vezes é a terapia sistêmica.

Os especialistas comentam que o tratamento padrão em primeira linha para pacientes com hepatocarcinoma avançado é, há mais de 10 anos, sorafenibe – um inibidor tirosina quinase (TKI) multi-alvo. Conforme demonstrado em vários estudos, ele trouxe um ganho em sobrevida quando comparado ao placebo, tornando-se droga de eleição e única, ainda que não ofereça uma taxa de resposta significativa. Há pouco tempo, o levantinibe foi aprovado, após ser testado para não inferioridade contra o sorafenibe. O perfil de toxicidade dessas drogas é muito similar e os eventos adversos mais comuns são: síndrome mão-pé, diarreia, hipertensão, fadiga.

O primeiro tratamento de segunda linha foi o regorafenibe para pacientes que toleraram bem o sorafenibe. O cabozatinibe também é um TKI, podendo ser usado mais amplamente, porém ele ainda não foi aprovado no Brasil. O anticorpo monoclonal ramucirumabe é utilizado somente para paciente que tenham alfa-fetoproteína maior do que 400ng/mL.

Dr. Paulo e Dra. Anelisa comentam que a imunoterapia foi introduzida para diversos tumores, mostrando uma taxa de resposta, sobrevida global e sobrevida livre de progressão muito superior às drogas do tipo inibidores de tirosina quinase com um perfil de tolerabilidade menor.

Há poucos anos, pesquisadores começaram a estudar a imunoterapia para hepatocarcinoma. Mais recentemente, o IMbrave150 apresentou resultados animadores. Este estudo de fase 3 comparou a combinação de atezolizumabe com bevacizumabe versus sorafenibe.

Os resultados mostraram ganho de sobrevida, redução do risco de morte de 42% e redução de 41% no risco de progressão ou morte da doença, além de um ganho de taxa de resposta em torno de 33%, o que não se observava antes em nenhum dos inibidores tirosina quinase. Sorafenibe tem taxa de resposta inferior a 4%. Além disso, a combinação do atezolizumabe com bevacizumabe não adicionou nenhum novo evento adverso que já era conhecido com as drogas e monoterapia. O perfil de segurança também manteve seus resultados estáveis aos já conhecidos em monoterapia.

Diante dos dados do estudo, a combinação de atezolizumabe com bevacizumabe foi recém aprovada no Brasil e, a partir de agora, é uma alternativa para tratar os pacientes com carcinoma hepatocelular irressecável que não receberam tratamento sistêmico prévio.

Referências:
Finn, RS et al Atezolizumab plus Bevacizumab in Unresectable Hepatocellular Carcinoma. NEJM, 2020; 382:894-1905

Finn, RS et al. Pembrolizumab As Second-Line Therapy in Patients With Advanced Hepatocellular Carcinoma in KEYNOTE-240: A Randomized, Double-Blind, Phase III Trial, JCO; 2020;38(3):193-202

Gomes MA, Priolli DG, Tralhão JG, Botelho MF. Carcinoma hepatocelular: epidemiologia, biologia, diagnóstico e terapias. Rev Assoc Med Bras. 2013;59(5):514-524