Highlights ASCO GI dia 01 - Oncologia Brasil

Highlights ASCO GI dia 01

4 min. de leitura

Dr. Duílio Rocha – CRM-CE 8309 

Médico oncologista do Grupo Oncologia D’Or, Chefe da Unidade de Oncologia do Hospital Universitário Walter Cantídio (UFC-CE), Doutor em Oncologia pelo AC Camargo Cancer Center, membro do Comitê de TGI da SBOC. 

 

Atualizações sobre quimioterapia intraperitoneal no câncer gástrico com doença restrita ao peritônio 

 

O primeiro dia do Simpósio de Câncer Gastrointestinal da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO® GI) 2025 explorou avanços terapêuticos nos tumores de esôfago e estômago, com destaque para o cenário da carcinomatose peritoneal limitada.  

O prognóstico do câncer esofagogástrico com disseminação peritoneal é pobre. O papel da cirurgia de citorredução peritoneal e das diferentes estratégias de quimioterapia intraperitoneal permanece controverso. A quimioterapia bidirecional (BC) associa vias sistêmica e intraperitoneal para maximizar a exposição da doença aos agentes citotóxicos. Dois estudos trouxeram novas informações sobre BC (1,2). 

O estudo de fase III chinês DRAGON-01 avaliou a adição de quimioterapia intraperitoneal ao tratamento sistêmico. Pacientes com adenocarcinoma gástrico com metástases peritoneais, sem terapia prévia, foram randomizados para receber paclitaxel intravenoso e intraperitoneal + S-1 oral (braço NIPS), ou apenas paclitaxel intravenoso + S-1 (grupo PS). Gastrectomia de conversão foi indicada quando houve desaparecimento da doença peritoneal, com citologia negativa (1). 

Entre os 222 pacientes incluídos, a sobrevida mediana aumentou de 13,9 para 19,4 meses no grupo NIPS (hazard ratio [HR] 0,66; intervalo de confiança [IC] 95% 0,49-0,88; P = 0,005). A gastrectomia de conversão foi efetuada em 35% e 50% dos pacientes nos grupos PS e NIPS, respectivamente (P=0,028) e os autores não identificaram um aumento significativo de toxicidade nos pacientes que receberam a terapia intraperitoneal (1).  

O estudo retrospectivo PRECISE-SG1 realizado pelo grupo do National Cancer Centre Singapore, também avaliou quimioterapia bidirecional em pacientes com carcinomatose peritoneal (2). Os doentes foram tratados com quimioterapia sistêmica associada a paclitaxel intraperitoneal. Os doentes sem progressão radiológica após 24 semanas e com índice de carcinomatose peritoneal (PCI) <7 foram submetidos a citorredução peritoneal (CRS) com quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC). A sobrevida livre de progressão e a sobrevida global medianas foram de 9,1 e 16,5 meses, respectivamente. Nos pacientes submetidos à CRS, a sobrevida mediana foi de 23,8 meses versus 14,6 meses nos não operados (P = 0,4). A negatividade da citologia peritoneal aumentou de 25,8% para 86,4% após quimioterapia bidirecional (2). 

Em conjunto, os estudos indicam uma atividade promissora da quimioterapia bidirecional em doentes com carcinomatose peritoneal por câncer gástrico e sugerem que a terapia cirúrgica em doentes selecionados pode resultar em sobrevida longa. Entretanto, limitações incluem a população exclusivamente oriental e o uso de quimioterapia subótima no grupo controle. Entretanto, questões como o real benefício da cirurgia, a duração do tratamento e a melhor forma de aplicar quimioterapia intraperitoneal (HIPEC versus normotérmica) permanecem incertas (2). 

O ensaio clínico de fase III chinês SCIENCE comparou três estratégias de tratamento neoadjuvante em pacientes com carcinoma espinocelular (CEC) de esôfago localmente avançado operável: quimioterapia neoadjuvante com o anti-PD1 sintilimabe (braço A), quimiorradiação com sintilimabe (braço B) e quimiorradiação isolada (braço C). As taxas de resposta patológica completa (pCR) diferiram significativamente entre os grupos, com o Grupo A alcançando uma taxa de pCR de 13%, o Grupo B de 60% e o Grupo C de 47,3%. Os dados de sobrevida livre de eventos, um dos desfechos primários do estudo, não foram apresentados. O estudo se soma a resultados anteriores que apontam para um aumento de pCR com a adição de imunoterapia e/ou de radioterapia ao tratamento do CEC de esôfago localmente avançado. Contudo, não está claro em que medida o ganho de pCR se correlaciona com benefício em sobrevida (3).  

Por fim, o estudo de fase II randomizado INNOVATION propôs-se a avaliar a adição de trastuzumabe (T), com ou sem pertuzumabe (P), à quimioterapia perioperatória do câncer de estômago HER-2 positivo (4). Inicialmente, a quimioterapia utilizada foi cisplatina + capecitabina. Após a publicação do estudo FLOT-4, uma emenda ao protocolo modificou o regime para FLOT. As taxas de resposta patológica maior (mpRR) foram 33,3%, 53,3% e 37,9% nos braços A (quimioterapia [QT] isolada), B (QT + T) e C (QT + T + P) após a emenda ao protocolo. Os dados de sobrevida livre de progressão e sobrevida global não mostraram benefício da adição de trastuzumabe a FLOT, e o emprego de pertuzumabe teve impacto deletério. Esses resultados refletem o desafio de usar desfechos histológicos como substitutos para sobrevida no tratamento perioperatório do câncer gástrico (4). 

 

Referências  

  1. Yan C, Yang Z, Shi Z, et al. Intraperitoneal and intravenous paclitaxel plus S-1 versus intravenous paclitaxel plus S-1 in gastric cancer patients with peritoneal metastasis: Results from the multicenter, randomized, phase 3 DRAGON-01 trial. J Clin Oncol 43, 2025 (suppl 4; abstr 327).
  2. Wong EYT, Liong SZ, Chia C, et al. Outcomes of patients with peritoneal-limited metastatic gastric cancer (PLGC) undergoing bidirectional (BD) chemotherapy cytoreductive surgery (CRS) with heated intraperitoneal chemotherapy (HIPEC). J Clin Oncol 43, 2025 (suppl 4; abstr 328). 
  3. Leng X, He W, Lyu J, et al. Preliminary results from the multicenter, randomized phase III trial (SCIENCE): Comparing chemotherapy plus sintilimab and chemoradiotherapy plus sintilimab versus chemoradiotherapy for neoadjuvant treatment in resectable locally advanced esophageal squamous cell carcinoma. J Clin Oncol 43, 2025 (suppl 4; abstr 329).
  4. Wagner AD, Grabsch HI, Mauer ME, et al. EORTC-1203 GITC “INNOVATION”: Integration of trastuzumab (T), with or without pertuzumab (P), into perioperative chemotherapy of HER-2 positive stomach cancer: Overall survival results. J Clin Oncol 43, 2025 (suppl 4; abstr 331).  

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