HYPORT: Estudo de fase 1 de radioterapia pós-operatória hipofracionada de 3 semanas para carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço - Oncologia Brasil

HYPORT: Estudo de fase 1 de radioterapia pós-operatória hipofracionada de 3 semanas para carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço

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No presente estudo, os autores relataram pela primeira vez um estudo prospectivo de hipofracionamento de radioterapia no pós-operatório de carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço, avaliando a tolerabilidade da radioterapia moderadamente hipofracionada em pacientes com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço submetidos à ressecção cirúrgica. O estudo foi publicado na revista: International Journal of Radiation Oncology *Biology* Physics (https://doi.org/10.1016/j.ijrobp.2023.06.010) 

 

O carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço (em inglês, head and neck squamous cell carcinoma – HNSCC) representa uma preocupação significativa de saúde pública, com muitos novos casos diagnosticados anualmente. A radioterapia pós-operatória (em inglês, radiation therapy – RT) é frequentemente necessária após ressecção cirúrgica em pacientes com fatores de risco patológicos adversos. Embora a RT convencionalmente fracionada tenha sido a abordagem padrão, estudos anteriores em outros tipos de câncer sugeriram que a RT moderadamente hipofracionada (em inglês, hypofractionated radiation therapy – HFRT) pode oferecer resultados semelhantes com toxicidade reduzida. No entanto, no HNSCC, a HFRT não foi amplamente estudada devido a preocupações com potenciais efeitos colaterais. Este estudo de fase 1 visa avaliar a tolerabilidade da HFRT em pacientes com HNSCC submetidos à ressecção cirúrgica e determinar a dose máxima tolerada (em inglês, maximum tolerated dose – MTD) e o esquema de fracionamento recomendado para a fase 2, com o objetivo de explorar uma alternativa eficaz e segura para a RT pós-operatória convencional. 

O presente estudo contou com pacientes diagnosticados com carcinoma espinocelular de estágio I-IVB na cavidade oral, orofaringe, hipofaringe ou laringe após ressecção total, apresentando um ou mais fatores de risco intermediários. Foram excluídos pacientes com margens positivas finais, extensão extranodal, entre outros critérios. A metodologia seguiu um esquema de escalonamento contínuo de 6 doses para avaliar a tolerabilidade da radioterapia HFRT, com a dose baseada no modelo de dose biologicamente eficaz. A dose e o fracionamento foram selecionados para atender a parâmetros específicos e garantir a eficácia do tratamento, com restrições de dose para órgãos em risco. A radioterapia pós-operatória foi obrigatória e começou dentro de 8 semanas após a ressecção cirúrgica. Os dados foram analisados para determinar a dose/fracionamento máximo tolerado de HFRT e toxicidades, resultados oncológicos e qualidade de vida relatada pelos pacientes foram avaliados como objetivos secundários. O registro do estudo está disponível em ClinicalTrials.gov (NCT04403620). O objetivo do estudo foi determinar a dose/fracionamento máximo tolerado de HFRT para informar o protocolo de tratamento da fase 2. 

O estudo incluiu 12 pacientes, distribuídos igualmente entre os níveis 0 e 1, com uma mediana de idade de 66,5 anos, sendo metade ex-fumantes ou atuais. As indicações mais comuns para radioterapia pós-operatória foram margens próximas (67%) e linfonodos positivos (58%). Embora não tenha sido observada toxicidade limitante da dose ou grau 4 a 5 nos níveis 0 e 1, foram registradas toxicidades agudas de grau 3, como perda de peso, abscesso cervical e mucosite oral. A incidência cumulativa de recorrência locorregional em 1 ano foi de 16,7%, destacando a necessidade de monitoramento contínuo da progressão da doença. Por outro lado, a sobrevida livre de progressão em 1 ano foi de 83,3%, evidenciando uma resposta favorável ao tratamento em relação ao controle local da doença. 

Quanto aos resultados relatados pelos pacientes, a função de deglutição foi mantida ao longo do tempo, apesar de um leve declínio observado aos 12 meses, o que não foi estatisticamente significativo. Entretanto, houve um declínio moderado na função física, refletido em uma diminuição na qualidade de vida física relatada pelo paciente. Por outro lado, a função socioemocional pareceu retornar aos níveis basais após um declínio agudo, sugerindo uma adaptação positiva ao longo do tempo. A dosimetria demonstrou que os volumes de tratamento receberam a dose prescrita, com doses para os órgãos em risco (em inglês, Organs at Risk – OARs) sendo relativamente mais baixas do que o fracionamento convencional, indicando uma menor probabilidade de toxicidade a longo prazo nos tecidos circundantes. Em suma, o estudo forneceu evidências importantes sobre a eficácia e segurança da radioterapia hipofracionada em pacientes com carcinoma espinocelular da cabeça e pescoço após ressecção cirúrgica, com o nível 0 sendo recomendado devido à menor toxicidade aguda observada. 

Resumidamente, nesse estudo, os resultados mostraram que pacientes submetidos à radioterapia pós-operatória para carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço toleraram bem o tratamento, sem toxicidade limitante da dose ou efeitos colaterais inesperados. A qualidade de vida dos pacientes foi preservada, e o regime de 46,5 Gy em 15 frações foi escolhido como dose/fracionamento recomendado devido ao perfil favorável de toxicidade aguda. Em conclusão, este trata-se do primeiro estudo prospectivo de hipofracionamento de RT no pós-operatório de carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço, mostrando-se uma alternativa viável ao tratamento convencionalmente fracionado. 

 

Referências: 

  1. Moon DH, Avkshtol V, Vo D, Ahn C, Sumer B, Day AT, Tillman B, Myers L, Truelson J, Sher DJ. HYPORT: Phase 1 Study of 3-Week Hypofractionated Postoperative Radiation Therapy for Head and Neck Squamous Cell Carcinoma. Int J Radiat Oncol Biol Phys. 2024 Jan 1;118(1):157-164. doi: 10.1016/j.ijrobp.2023.06.010. Epub 2023 Jun 26. PMID: 37380084.

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