Neste podcast, Dr. Fabio José Haddad, cirurgião torácico e broncoscopista em São Paulo; doutor pela Universidade de São Paulo e pós-doutor pela Washington University, fala sobre a importância do rastreamento, para garantir um diagnóstico precoce no cenário do câncer de pulmão não pequenas células. Ainda, aborda a importância dos tratamentos adjuvantes na melhora de sobrevida destes pacientes
O diagnóstico precoce acompanhado de um tratamento direcionado são essenciais para maximizar as chances de cura dos pacientes acometidos com câncer de pulmão. O estadiamento do carcinoma de pulmão é fundamental para o direcionamento do tratamento e tomada de decisão clínica. Em termos de rastreamento, há dois grandes estudos, publicados respectivamente em 2011 e 2020, que demonstraram a importância do diagnóstico precoce na redução da mortalidade dos pacientes com câncer de pulmão. Ainda, estes estudos são unanimes em salientar a necessidade de programas de cessação de tabagismo durante o rastreamento, o que também contribui com a redução da mortalidade.
Em 2011, O National Lung Screening Trial (NLST) foi publicado, e o objetivo deste estudo era determinar se a triagem com tomografia computadorizada (TC) de baixa dose poderia reduzir a mortalidade por câncer de pulmão. Foram recrutadas 53.454 pessoas com alto risco de câncer de pulmão, com idade entre 55 e 74 anos, histórico de tabagismo de pelo menos 30 maços por ano, e poderiam ter parado de fumar nos últimos 15 anos. A taxa de detecção destes pacientes foi de 24,2% nos pacientes triados com TC de baixa dose e 6,9% com radiografias. O que se observou foi que, o que passou por tomografias anuais ao longo de 3 anos, obteve uma redução da mortalidade por câncer de pulmão em torno de 20%, quando comparado ao grupo controle, que foi triado com radiografias de tórax.
De maneira similar, em 2020 foi publicado o Dutch–Belgian lung-cancer screening trial (NELSON) que envolveu mais de 15.700 indivíduos, também tabagistas ou ex-tabagistas, fumantes de até 0,5 maço/dia ao longo de 30 anos, e idade de 50-74 anos, com menos de 10 anos de abstinência. Os indivíduos foram randomizados para serem submetidos a triagem de TC na baseline, ano 1, ano 3 e ano 5,5 ou nenhuma triagem. Este estudo demonstrou uma redução entre 33 e 44% da mortalidade por câncer de pulmão nos pacientes triados.
Além do diagnóstico precoce, é importante se atentar à escolha do tratamento para que o paciente alcance os melhores desfechos. A cirurgia nos estádios iniciais é o principal tratamento para promover a cura destes pacientes. No entanto, a cirurgia sozinha não é suficiente para controlar a doença micro-metastática. Pacientes já submetidos a cirurgia, com risco de micro-metástase, devem ser submetidos a um tratamento adjuvante, o que já se provou reduzir a chance de recidiva da doença, aumentando a sobrevida.
Nos anos 90, a metanálise LACE foi a primeira evidência substancial a demonstrar que pacientes submetidos a quimioterapia adjuvante no contexto de tumores de pulmão alcançavam melhores índices de sobrevida. Estes achados foram confirmados em diversos estudos prospectivos que analisaram a utilização de quimioterapia adjuvante, a partir dos anos 2000, segundo Dr. Fabio José Haddad.
Mais recentemente, a imunoterapia começou a ser utilizada cenário adjuvante do tratamento do câncer de pulmão, e já existem estudos analisando esta alternativa terapêutica no cenário neoadjuvante. Neste sentido, destaca-se o IMpower010. Este foi um estudo randomizado, multicêntrico, aberto, de fase 3, no qual pacientes com câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) foram aleatoriamente designados (1:1) para receber atezolizumabe adjuvante ou melhor tratamento de suporte (observação e exames regulares para doença recorrência) após quimioterapia adjuvante à base de platina (um a quatro ciclos).
Após um acompanhamento médio de 32,2 meses (IQR 27 4-38 3) na população em estágio II-IIIA, o tratamento com atezolizumabe melhorou a sobrevida livre de doença em comparação com os melhores cuidados de suporte em pacientes na população em estágio II-IIIA cujos tumores expressaram PD-L1 em 1% ou mais das células tumorais (HR 0 66; 95% CI 0 50-0 88; p=0 0039) e em todos os pacientes na população de estágio II-IIIA (0 79; 0 64-0 96 ; p=0 020). Na população ITT, o HR para sobrevida livre de doença foi de 0,81 (0,67-0,99; p=0,040). Em suma, o IMpower010 mostrou um benefício de sobrevida livre de doença com atezolizumabe. Sendo assim, o tratamento com atezolizumabe após quimioterapia adjuvante representa uma opção de tratamento promissora para pacientes com CPNPC ressecado em estágio inicial.
No podcast, o especialista se aprofunda nestas e outras questões relevantes para o tema. Vale a pena ouvir e conferir o conteúdo completo!
Referências:
National Lung Screening Trial Research Team, Aberle DR, et al., Reduced lung-cancer mortality with low-dose computed tomographic screening. N Engl J Med. 2011 Aug 4;365(5):395-409. doi: 10.1056/NEJMoa1102873. Epub 2011 Jun 29. PMID: 21714641; PMCID: PMC4356534.
de Koning HJ, et al., Reduced Lung-Cancer Mortality with Volume CT Screening in a Randomized Trial. N Engl J Med. 2020 Feb 6;382(6):503-513. doi: 10.1056/NEJMoa1911793. Epub 2020 Jan 29. PMID: 31995683.
Jean-Pierre Pignon, et al., Lung Adjuvant Cisplatin Evaluation: A Pooled Analysis by the LACE Collaborative Group. Journal of Clinical Oncology 2008 26:21, 3552-3559
Felip E, et al., Adjuvant atezolizumab after adjuvant chemotherapy in resected stage IB-IIIA non-small-cell lung cancer (IMpower010): a randomised, multicentre, open-label, phase 3 trial. Lancet. 2021 Oct 9;398(10308):1344-1357. doi: 10.1016/S0140-6736(21)02098-5. Epub 2021 Sep 20. Erratum in: Lancet. 2021 Sep 23;: PMID: 34555333.
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