Dois estudos apresentados durante o EHA 2021 abordaram o cenário atual dos linfomas, com trabalhos relativos à COVID-19 e a novas análises de terapêuticas para linfomas primários do sistema nervoso central
Em um estudo retrospectivo e observacional voltado à COVID-19, apresentado durante módulo do EHA Virtual Congress 2021, foi abordado o risco aumentado de infecção e hospitalização prolongada em pacientes com linfoma não-Hodgkin de células B que receberam imunoterapia ablativa de células B.
A incidência da infecção pelo vírus Sars-CoV-2 persistente foi de 29% (32/111), com a média de idade de 64 anos (43-87), sendo 63% homens. Vale a ressalva de que 69% (22 pacientes) tinham ao menos uma comorbidade. Nenhum dos 16 pacientes com linfomas de células T ou linfoma de Hodgkin teve COVID-19 persistente. Nos pacientes com doença prolongada, a média de tempo total de internação foi de 58 dias (31-235), sendo a duração média dos sintomas de 83 dias (32-237). Nove pacientes com infecção persistente foram à óbito, representando 27% dos 32 pacientes do grupo observado.
A sobrevida global em seis meses foi de 69% (IC 95%; 60-78%). Em análise multicêntrica, a administração de anticorpos anti-CD20 dentro de 12 meses antes da data da internação esteve associada a uma menor taxa de sobrevida global (IC 95%, TR 2,13, 1,03-4,44, p = 0,043) e prolongamento do tempo de internação (TR 1,97, IC95%, 1,24-3,13, p = 0,004). Há dois fatores de confundimento para menor sobrevida global e maior tempo de internação, sendo esses idade maior de 70 anos e mieloma múltiplo resistente e refratário.
Valorou-se que pacientes com linfoma não-Hodgkin de células B tem maior risco de desenvolverem infeção por COVID-19 prolongada. A administração em até um ano antes da internação hospitalar é fator que aumenta o risco de morte e de prolongamento de internação.
O segundo estudo do módulo, IELSG32, procurou estabelecer uma análise entre os cinco braços terapêuticos no que concerne à sobrevida global, toxicidade tardia e incidência de tumores secundários.
Pacientes com linfoma primário do sistema nervoso central (SNC) não tratados previamente foram separados em cinco braços do estudo, sendo; A: metotrexato + citarabina; B: braço A + rituximabe; C: Esquema MATRIX (braço B + tiotepa); D: pacientes com doença estável entre frações de radioterapia de crânio total; E: transplante autólogo/tiotepa+ BCNU.
O ensaio foi composto por uma coorte de 219 pacientes entre 18 e 70 anos, com uma média de idade de 58, com randomização posterior dos grupos D e E, os quais compõem tratamento já estabelecido. Sete por cento (15) dos pacientes foram a óbito decorrente de toxicidade da terapêutica. Oitenta e sete (40%) pacientes não relataram recidiva e 117 (53%) apresentaram. Quatorze pacientes atingiram remissão completa. Em pacientes que receberam radioterapia holocraniana, houve rebaixamento das funções cognitivas, enquanto em pacientes tratados com transplante autólogo houve melhora da qualidade de vida, memória e de outras funções cognitivas.
Pacientes tratados com MATRIX (braço C) tiveram uma sobrevida livre de progressão melhor, de 52% (46-58), quando comparado aos demais braços (A de 20% e B de 29%). Esse índice foi similar para os braços D e E. Oitenta e sete pacientes estão vivos (A: 18; B: 27; C: 42), com uma sobrevida global em sete anos de 26±5% (A), 37±6% (B) e 56±6%(C). Pacientes tratados com terapia de consolidação (transplante autólogo ou radioterapia holocraniana, sem diferença entre essas) tiveram uma sobrevida média de 70±6%.
Os autores do estudo concluíram, portanto, que a terapia de consolidação, seja ela por radioterapia de crânio total ou transplante autólogo em associação com o regime MATRIX, apresentou bons resultados no tratamento para o linfoma primário de SNC.
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Redatora: Bruna Marchetti
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