Microbioma vaginal e risco para câncer de ovário - Oncologia Brasil

Microbioma vaginal e risco para câncer de ovário

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O papel de microbiomas bacterianos em seres humanos no risco de desenvolvimento de câncer e sua associação com eficácia e toxicidades de terapias têm sido amplamente estudados nos últimos anos. Um novo trabalho, publicado no Lancet Oncology, buscou avaliar se alterações microbioma cervicovaginal poderiam estar associadas a câncer de ovário.

O estudo de caso-controle avaliou mulheres de diversos países europeus, com idades entre 18 e 87 anos, dividindo-as em dois grupos para análise: um grupo com 360 participantes, em que 176 apresentavam neoplasia maligna de ovário, enquanto 184 controles não tinham diagnóstico de câncer; um segundo grupo, em que 109 mulheres eram portadoras de mutações germinativas em BRCA1 e 111 controles sem alterações em BRCA1/2.

Amostras cervicovaginais foram coletadas de todas as participantes e submetidas a análise por sequenciamento genético de 16S rRNA. Avaliou-se a proporção de espécies de lactobacilos (L) em relação a toda a população do microbiota, uma vez que essas bactérias são fundamentais para a geração de um pH vaginal protetor baixo.

Foram separados os casos em que o microbiota era constituído por ≥ 50% lactobacilos (tipo L) e aqueles em que lactobacilos compunham < 50% (tipo 0). As coortes foram divididas por idade em < 50 anos ou > 50 anos. No grupo de câncer de ovário, mulheres com > 50 anos apresentavam maior prevalência de microbiota do tipo 0, e as mulheres com < 50 anos e câncer de ovário também tinham uma prevalência significativamente maior do tipo 0 do que os controles da mesma idade (odds ratio [OR] 2,80; IC 95% 1,17-6,94; p = 0,020).

No grupo de BRCA, mulheres mais jovens e com mutação em BRCA1 também tinham maior chance de apresentarem microbiota tipo 0 (OR 2,79; IC 95% 1,25–6,68; p = 0,012). Esse risco foi ainda maior caso houvesse histórico familiar positivo para qualquer câncer em algum parente de primeiro grau (OR 5,26). Em ambos os grupos, os autores descrevem uma associação entre microbioma do tipo 0 e câncer de ovário ou mutação em BRCA1 mais forte quanto mais jovens eram as participantes avaliadas.

Esses dados reforçam o papel da microbiota cervicovaginal na alteração fisiológica do microambiente genital e sua potencial associação com o câncer de ovário. A partir desses dados, os autores sugerem que novas estratégias para redução de risco de desenvolvimento dessas neoplasias poderiam surgir a partir de mecanismos de restabelecimento de lactobacilos nesse microbioma e que novos estudos com esse foco devem ser conduzidos. Os dados da publicação original você confere aqui.