Neste vídeo, Dra. Angélica Nogueira, Oncologista Clínica, Professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Idealizadora do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos, comenta os dados do estudo NRG-GY018 apresentados durante o Congresso da European Society for Medical Oncology – ESMO ® 2023. Os resultados apresentados mostraram que corroborando aos dados da análise interina, a adição de pembrolizumabe à quimioterapia não só prolongou a sobrevida livre de progressão como também, aumentou as chances de resposta objetiva e reduziu o risco de perda dessa resposta. Confira o conteúdo na íntegra!
O câncer endometrial compreende uma malignidade que acomete o revestimento epitelial interno do útero. Do ponto de vista molecular, alterações em vias específicas se relacionam diretamente ao prognóstico e abordagem terapêutica a ser utilizada. Dentre as alterações, defeitos no reparo ao dano do DNA (MMR pathway) geram o acúmulo de mutações no genoma. Cerca de 20-30% dos tumores de endométrio apresentam como causa a deficiência em MMR (dMMR) que favorece a geração de neoantígenos e, assim, pode aumentar a susceptibilidade à imunoterapia.
O benefício da imunoterapia já estava estabelecido na doença recorrente ou metastática após falha a quimioterapia baseada em platina (KN-775). Buscando atender a uma necessidade médica não atendida em 1 linha de tratamento, o estudo clínico de fase III, NRG-GY018/KEYNOTE-868, avaliou a eficácia e segurança de Pembrolizumabe (anti-PD-1) + Quimioterapia (Paclitaxel/Carboplatina) comparativamente ao Placebo + Quimioterapia em pacientes com câncer de endométrio estadiamento III, IVA, IVB ou recorrente.
Foram randomizadas em 1:1, 816 pacientes, e na análise interina publicada no The New England Journal of Medicine (2023), a adição de pembrolizumabe ao Regime de quimioterapia (paclitaxel e carboplatina) prolongou significativamente a sobrevida livre de progressão (SLP). Nessa análise, pacientes do braço pembrolizumabe em pacientes com MMR deficiente presentaram 70% menos risco de progressão ou morte HR = 0,30; 95% CI: 0,19-0,48; p<0,0001). Esse efeito também foi observado em pacientes com MMR proficiente (pMMR) tratados com pembrolizumabe, onde as pacientes apresentaram 46% menos risco de progressão da doença ou morte (HR = 0,54; 95% CI: 0,41-0,71; p<0,001). Atualizando os resultados do estudo, Ramez N. Eskander e demais investigadores apresentaram na ESMO Congress 2023 os dados de taxa de resposta ao tratamento e a SLP de acordo com o status de metilação na população com MMR deficiente, trazendo a relação entre os mecanismos de MMR deficiente (mutação vs alteração epigenética) com o desfecho clínico.
Com relação à taxa de resposta objetiva (ORR), tanto na coorte dMMR quanto na pMMR, esse parâmetro apresentou aumento no braço tratado com pembrolizumabe, com uma probabilidade maior de resposta a esse tratamento tanto em dMMR quanto em pMMR, com odds ratio de 1,83 (95% CI: 0,92-3,66) e 1,74 (95% CI: 1,18-2,58), respectivamente. Assim, as taxas de resposta completa foram maiores em pembrolizumabe em ambas as coortes (dMMR: 32% vs. 15%; pMMR: 15% vs. 8%). Corroborando com os resultados, a adição do imunoterápico também prolongou a mediana de duração de resposta independentemente do status de MMR, de modo que a mediana de 28,7 meses em dMMR e 9,2 meses em pMMR resultam em um risco 78% e 53% menor, respectivamente, de perder a resposta.
Por fim, no intuito de se estabelecer a relação entre o tipo de deficiência de MMR (metilação ou mutação) e o desfecho clínico o mecanismo de perda de MMR não se correlacionou com a resposta ao tratamento (fator prognóstico).
Os resultados apresentados no ESMO Congress 2023 corroboram com os benefícios da adição de pembrolizumabe à quimioterapia padrão no tratamento de câncer de endométrio avançado ou recorrente em primeira linha de tratamento. Agora, após maior tempo de follow-up, o benefício foi mantido e refletido em melhores taxas de resposta objetiva e duração de resposta.
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