Especialistas discutem como conduzir o manejo da saúde mental no tratamento câncer em novo webinar do Reframing Oncology
Em novo webinar do Reframing Oncology, a Dra. Marina Sahade, médica oncologista e vice-diretora clínica do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, e o Dr. Henrique Ribeiro, psiquiatra e especialista em medicina paliativa no Núcleo de Cuidados Paliativos do Hospital das Clínicas (FM-USP), discutem sobre a importância da saúde mental no tratamento do câncer.
O Dr. Henrique Ribeiro iniciou o debate falando sobre o impacto da pandemia de Covid-19 nos pacientes oncológicos. Houve um aumento da demanda do atendimento nessa área, mas isso não significa necessariamente que o diagnóstico de transtornos psiquiátricos cresceu.
“O grau de sofrimento está subindo e o de autocuidado, caindo. O paciente parou de fazer ginástica e de encontrar a família e amigos. No meio disso, ter discussões complicadas sobre tratamentos difíceis e efeitos colaterais, sem suporte familiar, por vídeo, começa a ser muita barreira. Os diagnósticos podem não ter aumentado tanto, mas o sofrimento cresceu”, comenta a Dra. Marina Sahade.
De acordo com o psiquiatra, é importante saber se o paciente tem histórico de problemas de saúde mental, pois o rastreio ajuda na preparação já no início do diagnóstico. Ter uma equipe multidisciplinar treinada para lidar com isso também é necessário para que façam a intervenção no momento certo. É essencial saber quando é o momento de o paciente buscar um psicólogo ou psiquiatra.
“Acho que temos muitos profissionais da área não dedicados também. Um psicólogo não dedicado à oncologia pode até soltar aquela fala na linha da culpa ‘você engole as emoções, você fez um câncer”. A gente ainda escuta muita coisa desses estigmas porque pegamos equipes que não estão acostumadas a isso”, complementa a oncologista.
Marina conta o cuidado com a rede de suporte é muito importante. Até porque, se ela não estiver bem amparada, terá um impacto negativo pro portador do tumor. “A gente pensa sempre nesse tripé: o paciente, a rede psicossocial e a equipe. Esse é o tripé da intervenção e temos que olhar para as três pontas”, informa Ribeiro.
Em boa parte das vezes, o paciente terá dificuldade de identificar que precisa de ajuda. O profissional do Hospital das Clínicas relata que o indivíduo até quer falar com alguém sobre o sofrimento, mas há uma dificuldade de escuta.
“Um dos nossos trabalhos é facilitar a comunicação. Podemos ajudar nomeando a emoção e facilitando a expressão do sentimento. Isso implica também usar o silêncio. Ele precisa ter abertura para falar e perceber que tem espaço para ser ouvido”, orienta o médico.
E para aqueles que têm resistência em entender a necessidade desse acompanhamento mental, a dica é que o especialista explique que isso impactará positivamente no tratamento.
Quando o médico precisa receitar remédios para problemas psiquiátricos, existem dúvidas, principalmente sobre a interação com o tratamento oncológico. A recomendação do Dr. Ribeiro para o manejo é analisar o perfil do efeito colateral, a comodidade da via de administração, a farmacocinética e a farmacodinâmica.
Por fim, os especialistas discutiram as ações de autocuidado que os oncologistas e outros profissionais da saúde que trabalham nessa área precisam dar atenção, especialmente na pandemia.
“O que descomprime a gente é um estímulo prazeroso, que podem ser relações, dançar, comer, ouvir música, exercício físico, encontrar alguém que você gosta mesmo que seja online”, finaliza o psiquiatra.
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