Os possíveis riscos de conduzir terapia de reposição de testosterona (TRT) em pacientes que, após tratamento para câncer de próstata por radioterapia ou prostatectomia radical, apresentam sintomas de deficiência de andrógeno têm impedido médicos de realizar a reposição hormonal por décadas. Temendo agravamento ou recidiva do tumor após exposição a níveis mais altos de testosterona, os médicos acabam por não tratar a deficiência hormonal, o que pode trazer consequências à saúde global e psicológica dos pacientes.
Acompanhando um crescente surgimento de artigos avaliando os riscos reais apresentados pela TRT em pacientes com câncer de próstata, duas publicações do mesmo grupo de pesquisa analisaram o impacto da reposição hormonal em pacientes que haviam passado por prostatectomia radical ou radioterapia para tratamento de câncer de próstata localizado. Ambos os estudos foram baseados em dados do Veterans Affair Informatics and Computing Infrastructure.
Na investigação a respeito da segurança da TRT para pacientes que passaram por remoção da próstata, foram selecionados 469 pacientes (1,6% dos casos) de um conjunto de 28.651 homens diagnosticados entre 2001 e 2015. O subgrupo, que recebeu TRT com um intervalo mediano de 3 anos após a prostatectomia, foi comparado aos pacientes restantes quanto à sobrevida específica ao câncer de próstata (SECP), à sobrevida global (SG) e à sobrevida livre de recorrência bioquímica (SLRB, definida como manutenção de níveis de PSA inferiores a 0,2 ng/mL).
Após follow-up mediano de 7,4 anos, não houve diferença entre pacientes que receberam a TRT e os que não receberam quanto ao estádio cínico T, aos níveis de PSA após a cirurgia, ou à proporção de pacientes que passaram por terapia hormonal. O grupo tratado concentrava indivíduos mais jovens, com maiores índices de comorbidade, menores níveis de PSA pré-cirurgia e maior IMC.
Em análise multipartidas, não houve diferenças na mortalidade específica em decorrência do câncer de próstata (hazard ratio [HR] 0,73; IC 95% 0,32-1,62; p=0,43), na SG (HR 1,11; IC 95% 0,86-1,44; p=0,43), na mortalidade não relacionada ao câncer (HR 1,17; IC 95% 0,89-1,55; p=0,26) ou na SLRB (HR 1,07; IC 95% 0,84-1,36; p=0,59) entre o grupo tratado e o controle.
Já o estudo com pacientes que passaram por radioterapia foi conduzido com base nos dados de 41.544 pacientes, dos quais 544 (1,3%) passaram por TRT 3,52 anos (mediana) após o término da RT. Com base nas mesmas covariáveis utilizadas para construção de modelos no outro estudo, os autores avaliaram a novamente SECP, SG e SLRB.
Os pacientes que receberam TRT tinham maior probabilidade de serem mais jovens, de etnias não-negras, terem menores níveis de nadir de PSA pós-tratamento, um maior IMC e maior probabilidade de terem passado por terapia hormonal (46,7% vs 40,3%; p = 0,003). Também neste estudo não foram evidenciadas diferenças na mortalidade específica por câncer de próstata (HR 1,02; IC 95% 0,62-1,67; p=0,95), na SG (HR 1,02; IC 95% 0,84-1,24; p=0,86), na mortalidade não relacionada ao câncer (HR 1,02; IC 95% 0,82-1,27; p=0,86) ou na SLRB (HR 1,07; IC 95% 0,90-1,28; p=0,45) entre o grupo tratado e o controle.
Ambos os trabalhos sugerem que a terapia de reposição de testosterona é segura para pacientes de câncer de próstata sem metástase ou infiltração em linfonodo. Resultados como estes podem alterar os cuidados com a saúde após tratamento do tumor, com ganhos em qualidade de vida para pacientes que apresentem sintomas de déficit de testosterona. Saiba mais aqui e aqui.
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Editor científico: Paulo Cavalcanti
Redatora: Bruna Marchetti
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