Resultados finais do estudo ADAURA: Uso de osimertinibe melhora da sobrevida global em 5 anos de pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) com mutação em EGFR - Oncologia Brasil

Resultados finais do estudo ADAURA: Uso de osimertinibe melhora da sobrevida global em 5 anos de pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) com mutação em EGFR

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Resultados finais do ensaio de fase III ADAURA comprovam eficácia de osimertinibe no tratamento de CPCNP mutado para EGFR em termos de sobrevida global 

 

Adenocarcinomas de pulmão – dentre os quais o câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) é o subtipo mais prevalente – apresentam, frequentemente, mutações no gene EGFR, que levam à hiperatividade tirosina quinase do receptor do fator de crescimento epidermal (EGFR) e estão associadas a maior taxa de recidiva após o tratamento padrão, que consiste em cirurgia seguida de quimioterapia adjuvante para pacientes em estágio II a IIIA, e para alguns pacientes em estágio IB. O desenvolvimento de inibidores da atividade tirosina quinase de EGFR (TKI-EGFR), como o erlotinibe e o gefitinibe, promoveram boas respostas em pacientes apresentando as mutações mais comuns em EGFR, como deleções no éxon 19 ou a mutação L858R. Entretanto, a maioria dos pacientes desenvolve resistência ao tratamento, principalmente associada ao aparecimento da mutação T790M. 

O osimertinibe é um TKI-EGFR de terceira geração, que demonstra atividade seletiva contra formas mutadas de EGFR, incluindo a mutação T790M, diminuindo a chance de resistência e demonstrando eficácia para o tratamento de CPCNP ressecável e avançado, incluindo cânceres com metástase em sistema nervoso central. O estudo clínico de fase III ADAURA objetivou comparar o uso de osimertinibe a placebo no tratamento adjuvante para CPCNP com mutação em EGFR, e a publicação de seus primeiros resultados em 2020, demonstrando ganho significativo de sobrevida global ou livre de recidiva em 24 meses, levaram a aprovação do seu uso nesse contexto. Análises após dois anos adicionais de acompanhamento, confirmaram o benefício (HR para morte ou recidiva: 0,23 para pacientes em estágios de II a IIIA e 0,27 para pacientes de IB a IIIA).  

Os resultados finais do estudo foram divulgados recentemente em publicação na revista New England Journal of Medicine, e agora demonstram o benefício obtido em termos de sobrevida global em 5 anos, tido como o endpoint padrão para ensaios clínicos em câncer de pulmão e no qual diversos outros TKI-EGFR falharam anteriormente. 

O estudo recrutou, entre novembro de 2015 e fevereiro de 2019, 682 pacientes de CPCNP em estágio IB-IIIA com mutação em EGFR (deleções do exon 19 ou L858R) ressecados com margem cirúrgica livre. Os pacientes foram randomizados (1:1) para receber tratamento padrão (com quimioterapia adjuvante ou não) mais placebo (n = 343) ou 80 mg de osimertinibe (n = 339) oral uma vez ao dia por 3 anos ou até recidiva ou interrupção do tratamento por outro motivo. Durante o estudo, pacientes que apresentaram recidiva tiveram o grupo de randomização revelado para permitir a escolha da próxima opção de tratamento disponível, que incluiu o uso open-label de osimertinibe para pacientes randomizados no grupo placebo. 

Considerando pacientes em estágio II-IIIA, a taxa de sobrevida em 5 anos foi de 85% (CI95%: 79 – 89) no grupo recebendo osimertinibe e de 73% (IC95%: 66 – 78) no grupo placebo (HR: 0,49; CI95%: 0,33 – 0,73; P<0,001). Já na população total (em estágio IB-IIIA) essas taxas foram de 88% (CI95%: 83 – 91) contra 78 (IC95%: 73 – 82) nos grupos osimertinibe e placebo, respectivamente (HR: 0,49; IC95%: 0,34 – 0,70; P<0,001). Esses resultados foram condizentes entre subgrupos de pacientes recebendo ou não quimioterapia ou definidos pelo estadiamento, embora o maior benefício tenha ocorrido entre pacientes em estágio IIIA. 

Ao final da análise de sobrevida livre de doença, 93 (27%) pacientes do grupo osimertinibe tiveram recidiva e 64 receberam um primeiro tratamento subsequente, enquanto no grupo placebo 205 (60%) dos pacientes recidivaram, e 174 receberam tratamento subsequente. Até a data limite para análise de sobrevida, 76 (22%) pacientes no grupo osimertinibe e 184 (54%) pacientes do grupo placebo receberam tratamentos subsequentes após recidiva. No grupo osimertinibe o tempo mediano para tratamento subsequente ou morte não foi atingido, já que em 5 anos 70% dos pacientes não iniciaram outro tratamento ou morreram; já no grupo placebo, o tempo mediano para tratamento subsequente foi de 34,7 meses (IC95% 28,8 – 44,6; HR: 0,28; IC95%: 0,22 – 0,35).  

O perfil de segurança do osimertinibe manteve-se consistente desde as análises primárias do estudo. A frequência de eventos adversos de qualquer grau foi de 98% entre pacientes recebendo osimertinibe e de 90% no grupo placebo. Já eventos de grau 3 ou mais foram relatados em 23% dos pacientes no grupo osimertinibe e em 14% do grupo placebo, sendo que a taxa desses eventos atribuídas à droga do estudo foram 13% e 2% nos respectivos grupos. Eventos adversos levaram a interrupção do tratamento em 43 pacientes (13%) no grupo osimertinibe e em 9 pacientes (3%) no grupo placebo. Os eventos adversos mais comumente observados (>20%) no grupo tratado foram diarreia (47% em qualquer grau, 3% de grau 3), paroniquia (27% de qualquer grau, 1% de grau 3), ressecamento de pele (25% em qualquer grau, 1% de grau 3), prurido (21% em qualquer grau, 5% de grau 3) e tosse (20% em qualquer grau, 6% de grau 3). 

Dessa forma, os resultados finais do ensaio clínico ADAURA confirmam a eficácia do uso de osimertinibe como tratamento adjuvante para pacientes com CPCNP com mutação em EGFR em estágio IB-IIIA em termos de sobrevida global, para além da eficácia na sobrevida livre de recidiva divulgada anteriormente, estabelecendo o osimertinibe como terapia de escolha para esses cânceres. Atualmente, outros ensaios clínicos encontram-se em andamento para avaliação do uso de osimertinibe em CPCNP em outros contextos de doença e tratamento, como em estágio IA2 e IA3 (ADAURA2, fase III, NCT05120349), como terapia neoadjuvante (NeoADAURA, fase III, NCT04351555) e com uso prolongado para 5 anos (TARGET, fase II, NCT05526755), e seus resultados podem ampliar o espectro de uso desse inibidor para o tratamento de CPCNP. 

 

Referência

Tsuboi et al. Overall Survival with Osimertinib in Resected EGFR-Mutated NSCLC. The New England Journal of Medicine. 2023. Doi: 10.1056/NEJMoa2304594