Uma análise multicêntrica internacional para identificar fatores prognósticos e desfechos em pacientes com Linfoma de Burkitt associado ao HIV (HIV-BL) tratados na era da terapia antirretroviral (cART) foi apresentada no 62º Congresso Anual da ASH.
Atualmente, existem poucos dados sobre o tema. As estratégias ideais de tratamento para minimizar a mortalidade relacionada ao tratamento (MRT) permanecem obscuras e as recomendações atuais são baseadas em pequenos estudos.
Esta análise retrospectiva incluiu uma subcoorte de um estudo recente em 30 locais dos Estados Unidos, acrescido de dados de 5 centros do Reino Unido, de pacientes tratados entre 2009-2018. Sobrevidas livre de progressão (SLP) e global (SG) foram estimadas por Kaplan-Meier e diferenças avaliadas pelo teste de log-rank. Associações univariadas foram derivadas através do modelo de Cox. Modelos multivariados foram construídos por seleção direta de variáveis significativas com P < 0,05.
Ao todo, 249 (EUA: 140 e Reino Unido: 109) pacientes com LB-HIV recém-diagnosticados foram incluídos. As características clínicas incluíram: idade média de 43 anos; sexo masculino: 84%; ECOG 2 a 4: 48%; DHL elevada: 85% (> 3x limite superior do normal: 49%; maior que 5x o limite superior: 39%); > 1 local extranodal: 60%; qualquer envolvimento do SNC (CNSinv): 25%; e envolvimento tumoral na medula óssea: 46%.
O rearranjo de MYC foi relatado em 93% dos pacientes, sendo 49% com t(8; 14), sonda de separação em 41% e MYC-cadeia leve em 3%. Os demais tinham BL clássico com teste MYC negativo (4%) ou resultado ausente (3%).
A contagem média de CD4 foi de 217, com 68% dos pacientes apresentando CD4 > 100 células/µL. No diagnóstico de BL, a carga viral do HIV foi detectada em 55%. 39% dos indivíduos estavam em cART. As características basais foram semelhantes entre as coortes dos EUA e do Reino Unido com diferenças significativas apenas no ECOG 2-4 (32% versus 65%; P < 0,001) e CNSinv basal (30% versus 17%, respectivamente; P = 0,02).
Os regimes terapêuticos incluíram:
A maioria dos pacientes (87%) recebeu rituximabe (R). Regimes semelhantes foram usados em pacientes com CNSinv basal: Magrath 64%, DA-EPOCH 24% e HyperCVAD 12%. Nos EUA, os indivíduos receberam mais frequentemente DA-EPOCH (42%) seguido por Magrath (32%) e HyperCVAD/MA (24%). No Reino Unido, 96% receberam Magrath. Rituximabe foi administrado com mais frequência nos EUA (94% vs 79%, P < 0,001). Características de linha de base semelhantes foram observadas tanto em pacientes dos EUA selecionados para DA-EPOCH como naqueles selecionados para Magrath ou HyperCVAD/MA, exceto para contagem de CD4 mediana inferior (144 vs 260 células/µL; P = 0,04).
A resposta geral ao tratamento foi: RC 70%, RP 9%, PD 14%, não avaliável 7%. A taxa de morte relacionada ao tratamento foi de 18% após HyperCVAD/MA, 13% após DA-EPOCH e 7% em pacientes tratados com Magrath. No geral, 33% dos pacientes tiveram recidiva de HIV-BL, com 23% recorrência sistêmica e 10% em sistema nervoso central.
Com acompanhamento médio de 4,5 anos, as SLP e SG de 3 anos foram de 61% e 66%, respectivamente, e quase idênticas em ambos os países. Pacientes com CD4 > 100 células/µL tiveram SLP e SG de 3 anos melhores (68% vs 57%; P = 0,03). Observaram-se resultados significativamente piores naqueles com CNSinv basal (SLP de 3 anos 36% vs 69%, P <0,001; SG 41% vs 73%, P < 0,001). Magrath foi associado com a maior SLP de 3 anos (66%) em comparação com 63% após HyperCVAD/MA e 51% após DA-EPOCH, mas a diferença não foi significativa (P = 0,13). Pacientes que receberam rituximabe tiveram SLP numericamente mais alta, mas também não estatisticamente significativa (63% vs 53%; P = 0,16). Resultados ruins foram particularmente observados naqueles com CNSinv basal, independentemente do tratamento de primeira linha (SLP HyperCVAD/MA de 3 anos 40%, Magrath 39%, DA-EPOCH 32%; P = 0,93).
A incidência de recorrência do SNC em 3 anos em todos os pacientes tratados foi de 11%. A maior incidência foi observada com DA-EPOCH (P = 0,032 vs outros regimes), sem diferença de acordo com a contagem de CD4. Variáveis correlacionadas com SLP e SG em associações univariadas incluíram: ECOG 2-4, > 1 envolvimento extranodal, acometimento de medula óssea, CNSinv no baseline, DHL > limite superior da normalidade, CD4 < 100 células/µL.
No módulo multivariável, as variáveis independentemente associadas com menor SLP foram ECOG 2-4 (HR 1,87; P = 0,007); CNSinv basal (HR 1,70; P = 0,023); DHL > 5x limite superior da normalidade (HR 2,09; P < 0,001); e > 1 locais de acometimento extranodal (HR 1,58; P = 0,043). As mesmas variáveis foram significativas nos modelos multivariados para SG. Ajustando para todas as variáveis de prognóstico, o tratamento com Magrath foi associado à SLP mais longa (HR ajustado: 0,45; P = 0,005).
Os autores concluem que os dados representam a maior análise de HIV-BL até o momento. Houve tolerância e resultados favoráveis com regimes intensivos contendo rituximabe, em que Magrath foi associado a menor taxa de morte relacionada e maior SLP. Além disso, os fatores prognósticos para os desfechos foram associados a características do linfoma e não às relacionadas ao HIV. Indivíduos com CNSinv basal representam um grupo de alto risco com terapêutica ainda não totalmente satisfeita.
Referência:
Alderuccio JP, et al. Prognostication, Survival and Treatment-Related Outcomes in HIV-Associated Burkitt Lymphoma (HIV-BL): A US and UK Collaborative Analysis. Abstract 706. Presented at: 62nd ASH Annual Meeting and Exposition, 2020.
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