Risco de AVC e IAM com abiraterona versus enzalutamida no CPRCm - Oncologia Brasil

Risco de AVC e IAM com abiraterona versus enzalutamida no CPRCm

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Primeira análise do mundo real que avaliou o risco de IAM e AVC em pacientes com CPRCm em uso de ADT combinado aos antiandrógenos

A exposição prolongada à terapia de privação androgênica (androgen deprivation therapy – ADT) em uma população de pacientes idosos com câncer de próstata é associada ao aumento da morbidade cardiovascular. Novas terapias antiandrogênicas como abiraterona e enzalutamida também têm como alvo o eixo hormonal e, portanto, há preocupações quanto ao aumento da mortalidade cardiovascular inclusive com essas terapias. Ensaios clínicos demonstraram que o uso de abiraterona e enzalutamida foi associado à morbidade cardiovascular significativa, entretanto, a magnitude e a relevância clínica dessa associação na população de mundo real com câncer de próstata permanecem desconhecidas. 

A fim de elucidar a questão, em outubro de 2021, Kulkarni e colaboradores publicaram uma revisão retrospectiva no ESMO Open usando dados individuais de pacientes a partir de um grande banco de dados nacional para testar a hipótese de que abiraterona versus enzalutamida está associada a maior risco de infarto do miocárdio e de acidente vascular cerebral em pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração (CPRCm) tratados concomitantemente com ADT.  

Os pesquisadores utilizaram o banco de dados do MarketScan de 1 de janeiro de 2013 a 30 de setembro de 2018 para identificar adultos com CPRCm que receberam tratamento com ADT combinada aos novos agentes antiandrogênicos (abiraterona ou enzalutamida). A medida de desfecho cardiovascular primário envolveu infarto agudo do miocárdio (IAM) ou acidente vascular cerebral (AVC). Os desfechos secundários foram os riscos individuais de infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral.  

 

Resultados: 

Um total de 6294 pacientes com CPRCm que foram tratados com ADT e abiraterona ou enzalutamida foram incluídos na análise final. Destes, 4017 (63,8%) usaram abiraterona e 2217 (32,2%) enzalutamida. Durante o período do estudo, ocorreram 255 (6,3%) eventos de desfecho primário, resultando em uma taxa de incidência de 4,3 por 100 pacientes-ano. Na análise multivariada, o uso de abiraterona foi associado ao aumento de 31% no risco de infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral em comparação com a enzalutamida (HR 1,31; IC 95% 1,05-1,63; P = 0,01). A taxa de incidência foi semelhante naqueles que mudaram a terapia inicial de abiraterona para enzalutamida ou vice-versa (5,0 versus 5,6 por 100 pacientes-ano, respectivamente). 

Até o momento, esta é a primeira análise do mundo real que avaliou o risco de IAM e AVC em pacientes com CPRCm em uso de ADT combinado aos antiandrógenos. Os autores concluem que os resultados de aumento do risco de infarto do miocárdio e de acidente vascular cerebral com abiraterona em comparação com a enzalutamida são consistentes com os dados de ensaios clínicos prévios e sugerem que a enzalutamida poderia ser a droga de preferência aos pacientes com CPRCm com alto risco cardiovascular. Por outro lado, os autores ressaltam que os estudos observacionais podem superestimar o risco cardiovascular devido à suscetibilidade à confusão, ao viés de relato de resultados e à falta de informações sobre adesão ao tratamento. Portanto, ensaios clínicos prospectivos que avaliem os desfechos cardiovasculares em pacientes de alto risco são aguardados para confirmar os achados.
 

Referências: 

  1. Kulkarni AA, et al. Risk for stroke and myocardial infarction with abiraterone versus enzalutamide in metastatic prostate cancer patients. ESMO open. 2021. 1;6(5):100261.

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