Em busca de um biomarcador altamente sensível e específico para tumor de células germinativas testiculares não seminomatosos, grupo de pesquisadores da Universidade de Indiana avaliaram a utilidade clínica do ctDNA para prever a evolução dos pacientes e monitorar a resposta ao tratamento. Os primeiros resultados do estudo indicaram que o monitoramento personalizado do ctDNA pode ser preditivo de recorrência em pacientes com TCGNS
Durante o Simpósio ASCO GU 2024 foi apresentado pela médica Rebecca Hassoun do Centro Compreensivo de Câncer Simon da Universidade de Indiana a visão geral da pesquisa de seu grupo sobre a utilização do DNA tumoral circulante (ctDNA) como biomarcador preditivo para monitoramento de doenças em pacientes com tumor de células germinativas testiculares não seminomatosos (TCGNS)11. O trabalho é baseado na necessidade atual de se encontrar um biomarcador altamente sensível e específico para TCGNS que possa ser útil para o monitoramento da doença, com implicações diagnósticas e terapêuticas. Na rotina clínica são utilizados os marcadores tumorais séricos (MTS) alfafetoproteína (AFP), betagonadotrofina coriônica humana (bHCG) e lactato desidrogenase (LDH) para auxiliar no diagnóstico oportuno do TCGNS, estadiar com precisão a doença, avaliar a categoria prognóstica dos casos com metástase, monitorar o sucesso do tratamento e, finalmente, para detectar recaídas durante o acompanhamento22. No entanto, os MTSs são normais numa proporção substancial de pacientes com TCGNS (até 40%) e podem estar falsamente elevados em algumas outras condições clínicas31.
Na era da oncologia de precisão, o uso de ctDNA está emergindo como uma abordagem minimamente invasiva para o diagnóstico e tratamento de pacientes com câncer e como uma ferramenta de enriquecimento em ensaios clínicos. Nos últimos anos, o Food and Drug Administration (FDA) dos EUA aprovou vários ensaios de diagnóstico.
complementares baseados em ctDNA para o uso seguro e eficaz de terapias direcionadas e ensaios baseados em ctDNA também estão sendo desenvolvidos para uso com terapias baseadas em imuno-oncologia43. No estudo apresentado por Hassoun, foram utilizadas um total de 106 amostras de plasma coletadas de uma coorte de 25 pacientes com TCGNS em estágio II-III pós-orquiectomia com idade mediana de 29 anos (IQR: 26,8 – 38,8) e acompanhamento mediano de 10 meses (IQR: 7,2 – 17,5). O teste longitudinal de ctDNA foi realizado usando um ensaio de ctDNA personalizado e informado sobre o tumor (ensaio mPCR-NGS personalizado da Signatera). Os resultados do ctDNA foram analisados e avaliados quanto à sua correlação com resultados clínicos (sobrevida livre de eventos [SLE]) durante a vigilância após terapia de primeira linha (dissecção de linfonodos retroperitoneais [DLRP] ou quimioterapia) ou após quimioterapia de resgate. A SLE foi descrita como o intervalo desde a orquiectomia até a data da recorrência ou evidência de doença residual/persistente após a conclusão da DLPR ou quimioterapia.
Dos 25 pacientes participantes do estudo, 28% (7/25) apresentavam doença em estágio II e 72% (18/25) apresentavam doença em estágio III. Cinco pacientes com doença em estágio II foram submetidos à DLPR e todos testaram positivo para ctDNA antes da dissecção. Dos 18 pacientes com doença em estágio III, 83,3% (15/18) testaram ctDNA positivo antes da quimioterapia. Para os pacientes que completaram o tratamento de 1ª linha com DLPR ou quimioterapia e realizaram testes de ctDNA após a conclusão da terapia, nenhum dos pacientes que testaram negativo para ctDNA apresentou recaída (taxa de recorrência: 0%, 0/6) em comparação com uma taxa de recorrência de 30,8% (4/13) em pacientes que apresentavam níveis normais de MTS. A detecção de ctDNA foi associada a um SLE significativamente mais curto (HR=11,4, IC95% 1,09 – 1537, p=0,041), enquanto resultados elevados de MTS não foram (HR=2,14, IC95% 0,51 – 8,94, p=0,298). A positividade do ctDNA permaneceu fortemente associada à baixa SLE (HR=12,98, IC95% 1,17 – 1869, p=0,035) quando ajustada para o status MTS. Para os pacientes que progrediram após a terapia de 1ª linha e foram tratados com quimioterapia de resgate, nenhum evento foi observado naqueles que eram negativos para ctDNA após a terapia (0/6) em comparação com uma taxa de eventos de 25% (2/8) em pacientes com MTS normal.
Com base nos achados das análises, os autores concluíram que o monitoramento personalizado do ctDNA parece preditivo de recorrência em pacientes com TCGNS. As descobertas do estudo sugerem que o monitoramento do ctDNA pode ajudar a otimizar a tomada de decisões clínicas; no entanto, são necessários estudos prospectivos maiores para validar os resultados deste estudo.
Referências:
1 – HASSOUN, Rebecca et al. Utility of circulating tumor DNA (ctDNA) as a predictive biomarker for disease monitoring in patients with non-seminomatous germ-cell tumor (NSGCT). 2024 ASCO Gastrointestinal Cancers Symposium, Rapid Oral Abstract Session C: Renal Cell, Adrenal, and Testicular Cancers, Abstract 500.
2 – DIECKMANN, Klaus-Peter et al. Serum tumour markers in testicular germ cell tumours: frequencies of elevated levels and extents of marker elevation are significantly associated with clinical parameters and with response to treatment. BioMed research international, v. 2019, 2019.
3 – VELLANKI, Paz J. et al. Regulatory implications of ctDNA in immuno-oncology for solid tumors. Journal for Immunotherapy of Cancer, v. 11, n. 2, 2023.
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