As novidades em leucemia mieloide aguda (LMA) foram destacadas, especialmente para o Oncologia Brasil, pelo Dr. Evandro Fagundes, hematologista de Belo Horizonte que acompanhou as principais sessões sobre o assunto durante o ASH, em San Diego.
Dr. Fagundes lembra que a LMA é uma doença de pessoas acima de 60 anos de idade e o tratamento em busca de sobrevida e eventualmente até cura ainda é um desafio para os médicos.
O tratamento desses pacientes é feito com a quimioterapia tradicional, com a combinação de citarabina e daunorrubicina ou antraciclina. O especialista constata que a taxa de complicação é muito alta, o que leva a uma taxa de mortalidade superior a 20%. Há também uma perda de resposta ou falta de resposta, própria dos fatores biológicos que caracterizam a doença dessa população.
Diante desse cenário, a comunidade médica vem tentando alternativas para o esquema clássico de quimioterapia. Estudos de fase 3 comparando quimioterapia com hipometilantes já foram publicados, mas eles mostraram que os ganhos de sobrevida com hipometilante usado de forma isolada, com imunoterapia, foram pouco expressivos, variando entre três, quatro e cinco meses de sobrevida.
Dr. Fagundes prossegue em sua análise, observando que, do ponto de vista biológico, a LMA expressa a proteína BCL-2, que é uma proteína antiapoptótica e, nesse sentido, a disponibilidade do venetoclax para o uso terapêutico “veio agregar uma possibilidade de inibir a proteína BCL-2 e trazer benefícios para o paciente com LMA”.
A atualização do estudo de fase 1B já foi publicada na Lancet Oncology, e agora foi apresentada e comentada no ASH. Os resultados incluem a combinação de baixas doses de citarabina e venetoclax e hipometilantes de azacitidina ou decitabina com venetoclax e “demonstraram, surpreendentemente, uma taxa de resposta extremamente alta, com taxas de remissão até 72%, quando se combina com hipometilante, com uma taxa de mortalidade precoce, com menos de 30 dias, menor que 10%, e o mais importante, essa resposta era mantida, provocando um tempo mediano de sobrevida da ordem de 16 meses para os pacientes que utilizaram hipometilante junto com venetoclax”.
Dr. Fagundes acrescenta que “essa combinação traz para essa população uma possibilidade até então inédita de sobreviver mais tempo, sobreviver com a doença controlada, melhorar a qualidade de vida e, eventualmente, podendo até ser candidato, dependendo das circunstâncias, a uma terapia de ponte para um tratamento mais definitivo com o transplante de medula óssea”.
A associação do venetoclax com essas drogas “provoca efeitos colaterais que o hematologista acostumado a lidar com LMA já está habituado a ver, que são citopenias, infecções, que não se diferem muito do que o hematologista costuma lidar”.
O especialista ponderou que, comparando o tratamento tradicional com a quimioterapia intensiva, esses efeitos adversos aparentemente são menores. “É claro que precisamos de estudos de fase 3, que por sinal estão em andamento, tanto comparando baixas doses de citarabina e venetoclax quanto hipometilantes e venetoclax com placebo.” Para ele, os resultados desses estudos serão muito bem-vindos, no sentido de definir um padrão de tratamento, “mas o venetoclax traz para nós uma esperança e uma abertura até então inéditas do ponto de vista do tratamento do paciente com leucemia mieloide aguda”.
Ao concluir, Dr. Fagundes disse que espera como brasileiro ver essa droga aprovada para uso comercial no Brasil a partir do início do ano que vem. “Acreditamos que isso possa, realmente, ser o começo de uma nova era em termos de tratamento de LMA para o paciente com mais de 60 anos.”
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