OPERA é um estudo europeu randomizado de fase III que demonstra como o tratamento radioterápico CXB seguido da quimioterapia possibilita a chance de cura do câncer retal sem a intervenção cirúrgica
O tratamento convencional para o adenocarcinoma retal consiste na quimioradioterapia seguida pela ressecção cirúrgica. Contudo, a estratégia “watch and wait” vem ganhando destaque por possibilitar a preservação do órgão aos pacientes que atingem a resposta clínica completa (CCR) evitando a cirurgia e o estoma. Neste sentido, o estudo clínico OPERA propõe avaliar a ação de doses de radiação através da braquiterapia Contatct X-ray (CXB)(Papillon) após a quimioterapia com o objetivo de preservação do órgão.
Nesse estudo europeu de fase III, 141 pacientes elegíveis foram avaliados. A idade mediana foi de 68 anos, e os pacientes foram randomizados para receber o tratamento padrão de capecitabina 825mg/m² com EBCRT 45Gy/ 25 frações em 5 semanas com reforço de EBRT 9Gy/ 3 frações por 5 dias (braço A) ou EBCRT seguido pela dose reforço CXB 90Gy/ 3 frações em 4 semanas (braço B). Os pacientes do estudo foram avaliados na semana 14, 20 e 24 para resposta clínica completa (cCR) e cirúrgica (TME ou excisão local) oferecida àqueles que apresentaram doença residual ou recorrência após cCR.
A mediana de acompanhamento dos pacientes foi de 38,2 meses (IC 95%: 34,2 – 42,5) e todos receberam o protocolo de dose de radiação estratificada, sendo 69 pacientes submetidos ao tratamento padrão e 72 pacientes submetidos ao tratamento experimental. O grupo de pacientes do braço experimental demonstrou maior taxa de cCR quando comparado aos pacientes do braço padrão, sendo 92% x 64%, respectivamente (66/72 e 44/69, respectivamente, p<0.001). Após atingirem cCR, a cirurgia foi realizada em 47% (66/141) dos pacientes com suspeita de tumor residual ou recorrência local, sendo 59% (39/66) TME e 41% (27/49) excisão local.
A avaliação de preservação do órgão (OP) foi de 59% no grupo do tratamento padrão (IC 95%:48-72) e de 81% no grupo do tratamento experimental (IC 95%:72-91) (HR 0.36, IC 95%: 0.19-0.70; p=0.0026). Essa taxa também se mostrou aumentada quando comparada aos grupos com tumores < 3cm, sendo 63% no grupo padrão e 97% no grupo experimental (HR: 0.072, IC 95% 0.0093 – 0.57; p=0.0123), demonstrando o benefício do tratamento com a dose reforço CXB.
Além desses fatores, a taxa de sobrevida livre de cirurgia (excisão total do mesorreto [TME]) foi menor no braço de tratamento padrão, sendo de 57%, enquanto no braço do tratamento experimental foi de 79% (HR 0.37, IC 95% 0.2-0.71; p=0.0026).
Total (%) N =141 | Braço A (%) N = 69 | Braço B (%) N = 72 | |
Cirurgia total | 66/141 (47) | 46/66 (70) | 20/66 (30) |
TME (APR + AP) | 39/141 (28) | 26/39 (67) | 13/39 (33) |
Excisão local | 27/141 (19) | 20/27 (74) | 7/27 (26) |
Mortalidade cirúrgica | 0/66 | 0/46 | 0/20 |
Taxa R0 | (81) | (88) | NA |
Taxa estoma | (12) | (15) | (10) |
Dessa forma, após o acompanhamento de 38 meses do estudo OPERA, os autores sugerem que o tratamento não cirúrgico para câncer retal cT2-cT3A-b é possível. Além disso, para os pacientes que necessitam de cirurgia para falhas locais podem ser poupados sem comprometer sua chance de cura. Importante ressaltar que a melhoria na taxa de OP para câncer retal < 3cm que iniciam o tratamento com CXB seguido de EBCRT. Assim, esses dados indicam que essa opção é possível de discussão com os pacientes que desejam evitar a cirurgia e o estoma como tratamento inicial.
Referência:
1 – MYINT, Arthur Sun et al. Do nonoperative modality (NOM) treatments of rectal cancer compromise the chance of cure? Final surgical salvage results from OPERA phase 3 randomised trial (NCT02505750). J Clin Oncol 41, 2023 (suppl 4; abstr 286).
Alameda Campinas, 579 – Jardim Paulista, São Paulo – SP, 01404-100
CEO: Thomas Almeida
Editor científico: Paulo Cavalcanti
Redatora: Bruna Marchetti
© 2020 Oncologia Brasil
A Oncologia Brasil é uma empresa do Grupo MDHealth. Não provemos prescrições, consultas ou conselhos médicos, assim como não realizamos diagnósticos ou
tratamentos.