Resultados do ensaio clínico de fase III DUO-O apresentados na conferência anual da American Society of Clinical Oncology – ASCO® 2023 demonstram benefício na combinação de quimioterapia, imunoterapia, inibição de angiogênese e de reparo de DNA em cânceres de ovário não mutados para BRCA1/2
O olaparibe é um inibidor de mecanismos de reparo de DNA por PARP1, cujo uso promove melhor sobrevida em pacientes com câncer de ovário que apresentam mutação em BRCA1/2 ou com deficiência em mecanismos de reparo por recombinação homóloga (HRD+). Estudos sugerem que sua associação a quimioterapia citotóxica, imunoterapia e inibidores de angiogênese podem melhorar a sobrevida global e o controle da doença em pacientes com câncer de ovário recidivado, independente de mutação no BRCA1/2.
Assim, em estudo apresentado no congresso anual da ASCO de 2023®, Harter e colaboradores apresentam resultados de análises provisórias do ensaio clínico de fase III DUO-O, avaliando a eficácia da associação entre quimioterapia com paclitaxel e carboplatina (P/C), bevacizumabe (Bev, anti-VEGF), durvalumab (Dur, anti-PD-L1) e Olaparibe (Ola) no tratamento do câncer de ovário avançado sem mutação no BRCA1/2.
O estudo recrutou 1130 pacientes com câncer de ovário em estadiamento III ou IV sem mutação no BRCA1/2, sendo essas pacientes candidatas a cirurgia redutiva após diagnóstico ou após iniciação de tratamento neoadjuvante com quimioterapia. Para a análise de eficácia as pacientes foram randomizadas em três braços do estudo:
O desfecho primário considerado foi sobrevida livre de progressão (progression free survival, PFS), e as análises foram divididas entre pacientes HRD+ e coorte total (com intenção de tratar, ITT), utilizando-se sempre o Braço 1 como referência.
Os resultados demonstraram uma melhora significativa da PFS no braço 3 em relação ao braço 1. Considerando pacientes HRD+, essa melhora foi representada por um aumento da PFS mediana de 23 meses (braço 1) para 37,3 meses (braço 3), e por um aumento da taxa de PFS em 18 meses de 69% para 84%, resultando em uma razão de riscos (Hazard-ratio, HR) de 0,49 com intervalo de confiança (IC95%) de 0,34 a 0,69 (P < 0,0001). Na coorte total (ITT), a PFS mediana aumentou de 19,3 para 24,2 meses e a taxa de PFS em 18 meses, progredindo de 55% para 61% (HR: 0,63, IC95%: 0,52 – 0,76, P < 0,001). No braço 2, considerando pacientes HRD+, a PFS mediana e a taxa de PFS em 18 meses foi de 24,4 meses e 76%, respectivamente (HR: 0,83; IC95%: 0,60 – 1,14); na análise do grupo total, a PFS mediana foi de 20,6 meses e a taxa PFS em 18 meses foi 56% (HR: 0,87; IC95%: 0,73 – 1,04), sem significância estatística em ambos os casos. A incidência de efeitos adversos severos nos braços 1, 2 e 3 foi de 34%, 43% e 39%, respectivamente.
Dessa forma, o estudo demonstra que a terapia com paclitaxel/carboplatina, bevacizumabe e durvalumabe seguida de manutenção com bevacizumabe, durvalumabe e olaparibe, apresenta-se como uma alternativa eficaz e segura para o tratamento de câncer de ovário avançado, uma vez que essa estratégia promoveu ganho significativo de sobrevida livre de progressão sem aumento de efeitos adversos para além dos já descritos para cada um dos agentes individuais.
Referência:
Philipp Harter et al. Durvalumab with paclitaxel/carboplatin (PC) and bevacizumab (bev), followed by maintenance durvalumab, bev, and olaparib in patients (pts) with newly diagnosed advanced ovarian cancer (AOC) without a tumor BRCA1/2 mutation (non-tBRCAm): Results from the randomized, placebo (pbo)-controlled phase III DUO-O trial. J Clin Oncol 41, 2023 (suppl 17; abstr LBA5506). 10.1200/JCO.2023.41.17_suppl.LBA5506
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