Características do tratamento da leucemia mieloide crônica com crise blástica - Oncologia Brasil

Características do tratamento da leucemia mieloide crônica com crise blástica

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Estudo feito a partir dos dados do Registro Europeu de Crise – Blástica Leukemianet, demontrou alto grau de heterogeneidade em relação à apresentação e tratamentos para a crise blática. Desta forma, estudos focados ainda são necessários para identificar a melhor opção de tratamento para esta doença de difícil tratamento

 

A leucemia mieloide crônica (LMC) é uma doença considerada rara e ainda muito desafiadora para os profissionais da saúde. Em geral, ela é mais prevalente com o avanço da idade, no sexo masculino e em pessoas que tiveram exposição a algum tipo de radiação. Apesar dos recentes avanços no tratamento, uma importante minoria de pacientes ainda desenvolverá a denominada crise blástica. Esse tipo de crise é altamente agressivo e, se não for tratada prontamente, levará inevitavelmente à morte. Devido à sua raridade e apresentação clínica heterogênea, nenhum tratamento padrão está disponível e ensaios clínicos especificamente direcionados são difíceis de realizar. Além disso, não está claro se a biologia da crise blástica mudou desde o advento dos inibidores de tirosina quinase. 

Este estudo contou com participantes de nove países e os dados clínicos foram coletados em um banco de dados online. Os pacientes eram considerados elegíveis se, após 1º de janeiro de 2015, fossem diagnosticados com crise blástica (BC) e mutação BCR/ABL1. Além disso, também fazia parte dos critérios que os pacientes tivessem ao menos 18 anos de idade na época do diagnóstico de BC. Tanto na BC de novo quanto na BC desenvolvida a partir de uma leucemia mieloide precedente em fase crônica foram incluídos. 

Na data limite de 2 de julho de 2022, foram recrutados 200 pacientes (60% do sexo masculino) com BC confirmada. A idade mediana no diagnóstico de LMC e no diagnóstico de BC foi de 45 anos e 48 anos, respectivamente. A BC ocorreu de novo em 37% dos pacientes. No momento do diagnóstico de LMC, 47 deles tinham ao menos uma anormalidade citogenética adicional (ACA), além de t (9;22) (q34; q11), e cerca de 5 participantes possuíam 3 anormalidades diferentes. A ACA mais frequente foi +8 (10 pacientes) seguida de +der (22), em 6 pacientes. Para aqueles diagnosticados com história prévia de LMC, o tempo médio entre LMC e BC foi de 31,3 meses. Antes do BC, 76% dos pacientes foram tratados com inibidores de tirosina quinase, mais frequentemente com imatinibe (78%). Houve em média 2 tratamentos com esses inibidores para LMC em fase crônica. No momento da BC, as mutações de BCR/ABL1 ocorreram para 25% dos pacientes. As mutações mais frequentes foram E255K e T315I, e foram observadas em 9 pacientes cada. As mutações ocorreram com maior frequência em pacientes com evolução para BC após a fase crônica (25% vs 8%, p<0,001). 

Em relação à morfologia da BC, ela era mieloide em 58% dos pacientes (mBC) e linfoide (lyBC) em 35% deles, além de 7% que apresentavam um fenótipo misto ou megacarioblástico. Também foi notado que 35 participantes tiveram manifestações extramedulares (EMM), e 16 apresentaram envolvimento do sistema nervoso central (SNC). Os dados de tratamento da BC de 191 pacientes mostram a heterogeneidade esperada. Foram utilizadas neste estudo três linhas medianas de terapia para BC, sendo a terapia com inibidores de tirosina quinase (TKI) + quimioterapia (Ctx) + transplante alogênico de células-tronco (alloTx) a mais comum (49%). As outras combinações de terapia testadas foram: TKI + Ctx em 19% dos pacientes, 10% receberam apenas TKI, 5% TKI+alloTx, 1 % Ctx+alloTx, 6% Ctx sozinho e 1 paciente recebeu terapia alloTx inicial ou não foi tratado. Os pacientes que receberam dasatinibe (p=0,004), Ctx (p=0,005) e alloTx (p<0,001) eram mais jovens. O imatinibe foi mais utilizado na BC de novo (p<0,001), enquanto o ponatinibe nos doentes com LMC anterior (p=0,016). Menor tempo entre LMC e BC correlacionou-se significativamente com maior uso de Ctx (p=0,005). O tipo de terapia não foi significativamente associado ao envolvimento de EMM/SNC ou fenótipo BC, embora um pouco mais de pacientes com lyBC receberam Ctx (93% vs 82% p=0,054). 

As melhores respostas moleculares (MR) nos primeiros 6 meses de tratamento ocorreram em 82 pacientes (4 receberam um alloTx) e são: 18% MR5, 6% em MR4.5, 2% MR4 e 10% MMR. Cerca 24% deles não tiveram resposta. Com um acompanhamento mediano de 27,0 meses a partir do diagnóstico de BC, a sobrevida global (OS) mediana foi de 23,7 meses. Pacientes com envolvimento de EMM e SNC tiveram um resultado semelhante em comparação com pacientes sem esse tipo de comprometimento (OS mediana de 46,0 vs 60,0 meses para EMM/SNC vs nenhum, respectivamente, p=0,56). A morfologia do BC teve uma influência significativa na sobrevida. LyBC teve uma sobrevida de 2 anos de 62%, mBC teve uma sobrevida de 2 anos de 39% (p= 0.01). O sexo não teve influência na sobrevida, morfologia da BC ou tratamento recebido. 

Esta análise em uma grande coorte de pacientes com LMC em fase de crise blástica demonstra um alto grau de heterogeneidade em relação à apresentação e tratamentos. O resultado do lyBC é mais favorável em comparação com o mBC, enquanto a presença de envolvimento do SNC e EMM não teve impacto significativo na sobrevida. Estudos focados são necessários para identificar a melhor opção de tratamento para esta doença ainda difícil. 

 

Referência: 

BRIOLI, A. et al. 336 Treatment and Disease Characteristics of Chronic Myeloid Leukemia in Blast Crisis: The European Leukemianet Blast Crisis Registry. 64 th ASH Annual Meeting and Exposition, 2022. 

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