Desfechos de qualidade de vida no uso de pembrolizumabe combinado a quimioterapia com ou sem bevacizumabe no tratamento do câncer cervical recorrente ou metastático - Oncologia Brasil

Desfechos de qualidade de vida no uso de pembrolizumabe combinado a quimioterapia com ou sem bevacizumabe no tratamento do câncer cervical recorrente ou metastático

The doctor's hands hold a sectional model of the female reproductive organs, close-up. Training in gynecology and obstetrics

4 min. de leitura

Desfechos do estudo KEYNOTE-826 demonstram que a adição de pembrolizumabe à quimioterapia com ou sem bevacizumabe não afetou negativamente a qualidade de vida relacionada à saúde em pacientes com câncer cervical recorrente, persistente ou metastático. Juntamente com os resultados de eficácia e segurança já relatados esses dados apoiam o benefício do pembrolizumabe e o valor da imunoterapia

 

O câncer cervical possui uma variedade de sintomas, que incluem sangramento, fadiga, dor, disfunção da bexiga e do intestino, inchaço nas pernas e disfunção sexual. Essa variedade de sintomas foi associada à diminuição da qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS), incluindo redução do bem-estar social e do funcionamento social, ansiedade e depressão. O tratamento padrão com quimioterapia de platina (cisplatina ou carboplatina) mais paclitaxel tem como objetivo prolongar a vida dos pacientes e preservar ou melhorar a QVRS. Estudos recentes mostraram que adição de bevacizumabe à quimioterapia à base de platina melhorou a sobrevida geral e a sobrevida livre de progressão em pacientes com câncer cervical. Embora a adição de bevacizumabe à quimioterapia tenha sido associada a toxicidade adicional, o tratamento não afetou negativamente a QVRS. 

Os desfechos primários do estudo KEYNOTE-826 (NCT03635567) mostraram que a adição do anticorpo monoclonal anti-PD-1 pembrolizumabe à quimioterapia a base de platina com ou sem bevacizumabe como tratamento de primeira linha melhorou significativamente a sobrevida global (SG) e sobrevida livre de progressão  (SLP)  em pacientes com câncer cervical persistente, recorrente ou metastático com pontuação positiva combinada PD-L1 (CPS) de pelo menos 1 (HR 0,64 [IC95% 0,50–0,81]; p<0,001; PFS 0,62 [IC95% 0,50–0,77]; p<0,001), na população universal (SG 0,67 [IC95% 0,54–0,84]; p<0,001; SLP 0,65 [IC95% 0,53–0,79]; p<0,001) e em pacientes com DP-L1 CPS de pelo menos 10 (SG 0,61 [IC95% 0,44–0,84]; p=0,001; SLP 0,58 [IC95% 0,44–0,77]; p<0,001). Recentemente foi publicado na The Lancet Oncology os desfechos secundários do estudo KEYNOTE-826, que avaliou se essas melhorias na sobrevida global e na sobrevida livre de progressão foram ou não acompanhadas por alterações na QVRS através da análise de resultados relatados pelo paciente (Patient-Reported Outcomes – PRO).  

O KEYNOTE-826 é um estudo multicêntrico, randomizado, de fase 3 que recrutou pacientes em 151 centros de tratamento de câncer em 19 países. Os pacientes elegíveis tinham 18 anos ou mais, além de apresentar câncer cervical persistente, recorrente ou metastático não tratado anteriormente com quimioterapia sistêmica e não passível de tratamento curativo e um status de desempenho do Eastern Cooperative Oncology Group de 0 ou 1. Os pacientes foram distribuídos aleatoriamente (1:1) para receber pembrolizumabe ou placebo mais quimioterapia (paclitaxel + cisplatina ou carboplatina) com ou sem bevacizumabe. A randomização foi estratificada por doença metastática no diagnóstico, uso planejado de bevacizumabe e pontuação positiva combinada de PD-L1. Os instrumentos PRO foram o EORTC Quality-of-Life-Core 30 (QLQ-C30), o EORTC Cervical Cancer Module (QLQ-CX24) e a escala visual analógica EuroQol-5 dimension-5 (EQ-5D-5L), cada um coletado antes do tratamento nos ciclos 1–14 e a cada dois ciclos depois disso. A mudança do baseline no estado de saúde global (GHS) QLQ-C30 – qualidade de vida (QoL) foi um endpoint secundário pré-especificado e foi avaliado na população de análise completa do PRO. Outras análises PRO tiveram endpoints exploratórios especificados pelo protocolo.  

Entre 20 de novembro de 2018 e 31 de janeiro de 2020, de 883 pacientes triados, 617 foram designados aleatoriamente (n=308 – grupo pembrolizumabe; n=309 – grupo placebo). Dos 617 pacientes, 587 (95%) receberam pelo menos uma dose do tratamento do estudo e completaram pelo menos uma avaliação PRO pós-basal e, portanto, foram incluídos nas análises PRO (grupo pembrolizumabe, n=290; grupo placebo, n=297). O acompanhamento médio foi de 22,0 meses (IQR 19,1–24,4). Na semana 30, a conclusão do QLQ-C30 foi de 199 (69%) pacientes no grupo pembrolizumabe e 168 (57%) pacientes no grupo placebo; a adesão foi de 199 (94%) de 211 e 168 (90%) de 186, respectivamente. A mudança média dos mínimos quadrados no escore QLQ-C30 GHS-QoL desde o início até a semana 30 foi de −0,3 pontos (IC95% −3,1 a 2,6) no grupo pembrolizumabe e −1,3 pontos (IC95% −4 ,2 a 1,7) no grupo placebo, com uma diferença entre os grupos em mínimos quadrados de mudança média de 1,0 ponto (IC95% −2,7 a 4,7). O tempo médio para a verdadeira deterioração no GHS-QoL não foi alcançado (NR; IC95% 13,4 meses – NR) no grupo pembrolizumabe e 12,9 meses (IC95% 6,6 – NR) no grupo placebo (taxa de risco 0,84 [IC95% 0,65–1,09]). 122 (42%) de 290 pacientes no grupo pembrolizumabe versus 85 (29%) de 297 no grupo placebo melhoraram GHS–QoL em qualquer momento durante o estudo (p=0,0003). 

Os resultados obtidos demonstram que a adição de pembrolizumabe à quimioterapia em pacientes com câncer cervical persistente, recorrente ou metastático não afetou negativamente a QVRS. Juntamente com a eficácia e a segurança observadas anteriormente no KEYNOTE-826, esses dados de QVRS apoiam o benefício do pembrolizumabe e o valor da imunoterapia em uma população diversa de mulheres diagnosticadas com câncer cervical persistente, recorrente ou metastático. 

 

Referência:  

1 – MONK, Bradley J. et al. Health-related quality of life with pembrolizumab or placebo plus chemotherapy with or without bevacizumab for persistent, recurrent, or metastatic cervical cancer (KEYNOTE-826): a randomised, double-blind, placebo-controlled, phase 3 trial. The Lancet Oncology, 2023.