Nesta segunda-feira (16/abril) às 12h30 (horário de Brasília), acontecerá a segunda sessão plenária do maior Congresso do mundo em pesquisa de câncer, o Congresso da AACR. Na oportunidade, serão apresentados importantes estudos sobre o tratamento do câncer de pulmão não pequenas células. A Oncologia Brasil, que vem realizando a cobertura jornalística com exclusividade para os médicos brasileiros, antecipa aqui os resultados de dois estudos, que poderão estabelecer um novo paradigma para o tratamento desses pacientes.
KEYNOTE-189.
O primeiro estudo a ser apresentado na sessão plenária, que sacramenta o papel da imunoterapia na primeira linha do tratamento do pacientes portadores de câncer de pulmão de não pequenas células (CPNP), será o Keynote-189.
É um estudo de fase 3 randomizado, duplo-cego, que incluiu pacientes portadores de CPNP de histologia não escamosa e virgens de tratamento, com qualquer expressão de PD-L1 nas células tumorais. Os pacientes eram randomizados para pemetrexed e quimioterapia baseada em platina associado com pembrolizumabe ou placebo.
Com uma mediana de seguimento de 10.5 meses, o grupo de pacientes que recebeu pembrolizumabe associado à quimioterapia, apresentou uma inédita redução de 51% no risco de morte, independente da expressão de PD-L1. O grupo que recebeu pembrolizumabe também apresentou melhor sobrevida livre de progressão e maiores taxas de resposta. 8.9% dos pacientes no grupo pembrolizumabe apresentaram eventos adversos graus 3-4 e a taxa de descontinuação neste mesmo grupo foi de 13.8%. Sendo assim, a adição do pembrolizamabe foi bem tolerada e não potencializou os efeitos colaterais da quimioterapia e vice-versa.7
“Os resultados da KEYNOTE-189 são mudança de prática”, observou a médica Leena Gandhi, diretora da área de oncologia da New York University, em comunicado à imprensa distribuído esta manhã. . “Este estudo de fase III demonstrou uma melhoria na taxa de resposta global (ORR), PFS e OS em todos os grupos de pacientes, independentemente da expressão de PD-L1, reduzindo pela metade o risco de morte, que é um efeito sem precedentes da terapia na primeira linha configuração para NSCLC avançado não-escamoso sem alterações de EGFR ou ALK. ”
CHECKMATE-227
O segundo estudo que também está sendo aguardado com grande expectativa por boa parte dos 23 mil participantes presentes no AACR, em Chicago, é o Checkmate-227. Trata-se de um estudo de fase 3 em pacientes com CPNPC recém-diagnosticados, randomizado, complexo em sua metodologia e estatística, que possuiu quatro braços de tratamento. Serão apresentados somente os dados referentes à comparação de dois braços – pacientes que possuem alta carga mutacional (>10 mutações/Mb) eram randomizados entre combinação de nivolumabe e ipilimumabe versus quimioterapia baseada em platina.
Após um seguimento mediano de 11.5 meses, dos 299 pacientes que apresentavam alta carga mutacional, aqueles que receberam imunoterapia em combinação apresentaram redução em 42% do risco de apresentar progressão de doença. Com uma taxa de resposta global de 45%, os pacientes no braço da imunoterapia triplicaram a sobrevida livre de progressão. A combinação de nivolumabe e ipilimumabe foi bem tolerada e a frequência dos efeitos colaterais imuno-relacionados foi semelhante às experiências prévias com esse regime. Dados de sobrevida global ainda são imaturos.
Checkmate-227 inova tanto pela combinação de dois imunoterápicos de ação complementar quanto pelo uso de um biomarcador como critério de seleção. Aproximadamente 45% dos pacientes recém diagnosticados com CPNPC apresentam alta carga tumoral, que é independente da expressão de PD-L1. A carga mutacional (“tumor mutation burden”) solidifica-se como biomarcador. Agora, seguem-se muitos questionamentos como: adequação dos testes já comercialmente disponíveis para o valor de corte da carga mutacional, reprodutibilidade dos mesmos e o tempo para liberação do resultado.
“Esses dados que alteram a prática estabelecem a combinação de nivolumabe + ipilimumabe como uma opção de tratamento de primeira linha. para pacientes com NSCLC de alto TMB ”, disse Matthew Hellmann, MD, assistente do Memorial Sloan Kettering Cancer. Este trabalho também identifica o TMB como um biomarcador importante e confiável que deve ser testado em pacientes com câncer de pulmão não-pequenas células recentemente diagnosticado, observou.
Mudança no cenário do tratamento
O Dr. Fernando Santini, oncologista clinico do Hospital Sírio Libanes, comentou os resultados desses dois estudos:
“De maneira inédita, um novo padrão pode emergir em tão pouco tempo. Adição de pembrolizumabe ao regime de quimioterapia com pemetrexed e platina pode representar um novo padrão no tratamento de primeira linha dos pacientes portadores de CPNPC não escamosos independente da expressão de PD-L1. Adicionalmente, a combinação de ipilimumabe com nivolumabe representa uma opção para tratamento dos pacientes portadores de adenocarcinoma ou tumores escamosos com alta carga mutacional, preservando uma segunda linha sabidamente eficaz com a quimioterapia. Lembrar que pacientes portadores de mutação ativadora do EGFR e rearranjo do ALK foram excluídos dos dois estudos. Destaca-se a inclusão de apenas pacientes com histologia não escamosa no KEYNOTE-189. Para a perfeita implementação dos biomarcadores, como expressão de PD-L1 e carga mutacional tumoral, na seleção inicial do tratamento é melhor organizarmos um esforço nacional ou internacional para padronização de condutas e melhoria dos espécimes patológicos obtidos na biópsia do diagnóstico”.
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