Preservação de órgão e terapia neoadjuvante de câncer de reto: avaliação de quimiorradioterapia de longa duração vs radioterapia de curta duração - Oncologia Brasil

Preservação de órgão e terapia neoadjuvante de câncer de reto: avaliação de quimiorradioterapia de longa duração vs radioterapia de curta duração

3 min. de leitura

Estudo não randomizado de 231 pacientes apresentado no Simpósio de Cânceres Gastrointestinais da ASCO 2023 tem como objetivo avaliar a eficácia de preservação de órgão dentre duas estratégias de neoadjuvância para câncer de reto: quimiorradioterapia de longa duração vs radioterapia de curta duração 

 

Para a prática oncológica em muito interessa a preservação de órgão em pacientes com câncer de reto com intuito de poupar ostomia definitiva. Contudo, a eficácia de quimiorradioterapia de longa duração (QRLD) em comparação a radioterapia de curta duração (RCD) para preservação do órgão ainda é desconhecida pela literatura médica. Neste estudo, os autores compararam as taxas de preservação de órgão dentre as duas estratégias citadas em cenário de neoadjuvância para câncer de reto. 

Durante o período de pandemia de COVID, os autores estabeleceram institucionalmente a RCD mandatória e sem exceções. Para efeito de comparação, no entanto, foram identificados pacientes com câncer de reto tratados com QRLD imediatamente antes e depois do período citado. Após o término da estratégia de neoadjuvância, todos os pacientes foram reestadiados por exame clínico, endoscópico e submetidos a ressonância magnética. Abordagem de “watch and wait” foi indicada para paciente com resposta clínica completa, definida pelo programa de regressão da MSK. Excisão total de mesoreto foi recomendada para pacientes que não obtiveram resposta clínica completa. A definição de preservação de órgão neste estudo foi estabelecida para pacientes sobreviventes, poupados da cirurgia de excisão total de mesoreto e sem evidência de doença pélvica. Foram realizadas análises de sobrevida para taxas de recidiva local, sobrevida livre de doença e sobrevida global 

Total de 563 pacientes consecutivos foram identificados com câncer de reto tratados com neoadjuvância dos quais 231 foram excluídos do estudo em razão de confirmação de metástase, neoplasias malignas sincrônicas/metacrônicas ou histologia não compatível a adenocarcinoma (janeiro de 2018 a janeiro de 2021). Características descritivas dos pacientes e das neoplasias foram similares na coorte submetida a QRLD (256 pacientes) e na RCD (76 pacientes). Nenhuma diferença nas 2 coortes foi observada quanto a características de alto-risco. 

Maioria dos pacientes eram de estadio III (82% em QRLD vs 83% em RCD) e quimioterapia de indução seguida de radioterapia de consolidação foi a ordem de tratamento mais frequente (78% QRLD vs 70% RCD). O intervalo de mediana do término da neoadjuvância ao reestadiamento clínico foi de 8 semanas na coorte QRLD e 9 semanas na coorte RCD. A resposta clínica completa foi de 46% em ambas as coortes, contudo a taxa dos pacientes tratados inicialmente com radioterapia foi numericamente maior em comparação aqueles tratados com quimioterapia inicialmente (53% vs 44% para QRLD e 52% vs 43% para RCD). Por fim, para estes pacientes com resposta clínica completa, a probabilidade da estratégia “watch and wait” foi similar nas duas coortes (98% QRLD vs 94% RCD).  

Do início da neoadjuvância a mediana de seguimento foi de 32 e 28 meses respectivamente para QRLD e RCD. As taxas de desfechos de sobrevida global em 2 anos (95% vs 92%), sobrevida livre de doença (78% vs 70%) e recorrência á distância (20% vs 21%) foram similares. Dentre todos os pacientes, a taxa de preservação de órgão em 2 anos foi de 40% (IC 95%: 35-47%) para QRLD e 29% (IC 95%: 20-42%) para RCD. Naqueles pacientes submetidos a estratégia de “watch and wait”, a taxa de recidiva local foi de 20% (IC 95%: 12-27%) com QRLD e 36% (IC 95%: 16-52%) com RCD 

Como conclusão os autores compreendem que nesta comparação não randomizada, enquanto as taxas de resposta completa clínica foram similares nas duas coortes, numericamente identificou-se uma maior taxa de preservação de órgão no tratamento neoadjuvante de câncer de reto quando submetido a QRLD comparado a RCD. O estudo em andamento ACO/ARO/AIO-18 avalia a hipótese de QRLD neoadjuvante aumentaria as taxas de preservação do órgão em comparação a RCD. Com este estudo aguardamos trazer esclarecimento final sobre a eficácia de preservação de órgão quanto às duas estratégias de neoadjuvância.   

 

Referência:  

Paul Bernard Romesser et al., Organ preservation and total neoadjuvant therapy for rectal cancer: Investigating long-course chemoradiation versus short-course radiation therapy. 2023 ASCO GI Cancers Symposium. J Clin Oncol 41, 2023 (suppl 4; abstr 10) .