Análise de qualidade de vida dos pacientes do estudo EORTC 1325-MG/KEYNOTE-054 demonstra que pembrolizumabe não induz prejuízo ao estado global da qualidade de vida durante o tratamento adjuvante do melanoma de estágio III ressecado
O melanoma é um tipo de câncer de pele que tem origem nos melanócitos, que são as células produtoras de melanina (substância que determina a cor da pele) e o tratamento é baseado principalmente no estágio em que a doença se encontra e no local acometido pelo tumor. As decisões médicas frequentemente envolvem procedimentos de excisão da região afetada e a avaliação do avanço das células cancerígenas para linfonodos sentinelas, o que está intimamente relacionado à gravidade dos casos.
Os pacientes com melanoma ressecado de alto risco de estágio III apresentam alta incidência no desenvolvimento de metástase à distância e, por isso, além do procedimento de remoção das áreas afetadas, a equipe médica pode recomendar o uso de adjuvantes como inibidores do controle imunológico ou intervenção com medicamentos de terapia-alvo para tumores com alterações genéticas com o intuito de evitar recidivas.
O pembrolizumabe é um anticorpo monoclonal humanizado com atividade antineoplásica que apresenta capacidade de ligação ao receptor PD-1 (proteína de morte programada-1). Estudos recentes demonstraram que o pembrolizumabe adjuvante reduz o risco de metástase após completa ressecção de melanomas de alto-risco de estágio III, contribuindo para reduzir a exposição de pacientes a novos tratamentos e eventuais deterioração física e da qualidade de vida global (quality of life – QOL). Contudo, o pembrolizumabe pode causar toxicidade e afetar negativamente a QOL dos pacientes. Diante disso, este estudo investigou a qualidade de vida a longo prazo em pacientes avaliados no ensaio duplo cego registrado no EORTC 1325-MG/KEYNOTE-054.
A pesquisa considerou 1019 pacientes que apresentaram melanomas ressecados de estágio III entre o período de agosto/2015 e novembro/2016. Os grupos que foram construídos de maneira randomizada para receber o pembrolizumabe adjuvante (200 mg) ou placebo a cada 3 semanas com o total de 18 doses. O QLQ-C30 foi aplicado no início do estudo e a cada 12 semanas durante os dois primeiros anos; após esse período, o monitoramento foi realizado a cada 6 meses até completar 4 anos de avaliação a partir do começo da randomização. A análise da qualidade de vida a longo prazo foi definida pela média desse valor após 2 e 4 anos do início da randomização. Os desfechos primários representam a mudança a partir do ponto de início até a análise da qualidade de vida global de longo prazo e as análises da escala de funcionalidade física. A relevância clínica é considerada quando há uma diferença maior que 5 pontos entre os pacientes do braço pembrolizumabe ou placebo.
Os resultados das análises dos indicadores de qualidade de vida global avaliada a longo prazo em relação ao momento inicial indicaram que o braço que recebeu pembrolizumabe apresentou uma variação de -0.56 (IC 95% -2.33, 1.22) e 1.63 (IC 95% -0.12%, 3.38) no placebo, indicando uma diferença no tratamento de -2.19 (IC 95% -4.65, 0.27), P=0.08. As análises dos aspectos de função física mostram que o tratamento com pembrolizumabe resultou em uma mudança de -0.46 (IC 95% -1.69, 0.77) e 0.10 (IC 95% -1.14%, 1.34) no grupo placebo, indicando que o tratamento resultou em uma diferença de -0.56 (IC 95% -2.31, 1.19), P=0.53. Nas avaliações dos aspectos sociais, cognitivos, emocionais e de fadiga, não foram observadas diferenças significativas ou clínicas entre os grupos, e eventuais efeitos imunes adversos relatados não são associados a mudanças clínicas relevantes nas escalas de avaliações utilizadas.
O surgimento de metástases distantes é associado a uma relevante deterioração clínica na avaliação da QOL global de longo prazo, impactando nas funções sociais e fadiga. Sendo assim, estes resultados demonstram que, apesar da toxicidade previamente relatada, a administração do pembrolizumabe preserva a QOL global e evidencia suas ações positivas sobre a recidiva nestes pacientes.
Dessa forma, as análises globais de longo prazo da qualidade de vida e funções físicas demonstradas por este estudo concluem que não há diferença clínica significativa entre os dois braços, indicando segurança para a tomada de decisões médicas que envolvem a administração de pembrolizumabe em pacientes submetidos ao tratamento de melanoma ressecado de estágio III.
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