Neste podcast, Dr. Thiago Bueno, oncologista do A. C. Camargo Cancer Center e Dra. Tatiane Montella, oncologista Clínica do Grupo Oncoclínicas – RJ, discutem seis trabalhos apresentados em congressos ao longo de 2021, que foram considerados os mais importantes do ano no âmbito do câncer de pulmão pelos especialistas
A seleção dos especialistas foi dividida em dois grandes grupos, trabalhos que abordaram a imunoterapia de um lado, e os trabalhos que abordaram as terapias-alvo de outro lado. O primeiro trabalho comentado é o IMpower010, que utilizou imunoterapia adjuvante em câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) ressecado. Os pacientes com doença estágio IB a IIIA operados após quimioterapia adjuvante a base de platina foram randomizados para receber atezolizumabe vs placebo como terapia adjuvante. Atezolizumabe apresentou benefício significativo na sobrevida livre de doença na população com estágio clínico II-IIIA PD-L1≥1%, também na população II-IIIA independente de PD-L1, apenas com uma magnitude menor. Mas a análise de subgrupos demonstrou que esse benefício se limita a pacientes com expressão de PD-L1≥1%. Este trabalho levou a aprovação desta indicação de atezolizumabe no Brasil, neste cenário.
O estudo clínico CheckMate 816 também avaliou pacientes com CPNPC ressecável, em estágio IB-IIIA. Os pacientes foram randomizados para quimioterapia vs quimioterapia mais nivolumabe neoadjuvante. Resultados apresentados previamente mostraram aumento significativo de taxa de resposta patológica completa no grupo tratado com quimioterapia mais nivolumabe em comparação com a quimioterapia isolada. As atualizações do trabalho apresentadas no ASCO 2021, dão ênfase aos desfechos em relação a cirurgia após o tratamento neoadjuvante. Os achados reforçam o dado que a combinação quimioterapia mais nivolumabe traz maiores taxas de resposta patológica, com o benefício adicional de não causar prejuízos nos desfechos ou morbidades operatórias ou pós-operatórias.
O estudo de fase 3 POSEIDON é um estudo que investigou pacientes com CPNPC metastático sem mutações ativadoras de EGFR ou ALK. Os pacientes foram randomizados para quimioterapia, quimioterapia mais durvalumabe ou quimioterapia em combinação com durvalumabe e tremelimumabe na primeira linha de tratamento. O estudo reportou dados demonstrando benefício da sobrevida livre de progressão (SLP) com a combinação de quimioterapia mais durvalumabe, mas não em sobrevida global (SG). Já a combinação tripla de durvalumabe, tremelimumabe mais quimioterapia trouxe benefícios significativos tanto na SLP quanto na SG. Todos os subgrupos se beneficiaram do tratamento. Este estudo demonstra que a combinação de quimioterpia e imunoterapia com duplo bloqueio das vias PD-1/PD-L1 e CTLA-4 pode fornecer efeitos aditivos e sinérgicos para pacientes com CPNPC metastático.
Quando se fala de terapias-alvo para o tratamento do câncer de pulmão, é importante ressaltar que a testagem ampla em pacientes com histologia não escamosa é essencial. Sendo que aproximadamente 50% dos pacientes com adenocarcinoma de pulmão vão apresentar algum tipo de mutação, que podem ter drogas-alvo. O estudo DESTINY-Lung-1, buscou suprir a necessidade de terapias-alvo para HER2 no contexto do câncer de pulmão. Este é um estudo de fase 2, que avaliou o uso de trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) em pacientes com CPNPC metastático que apresentavam a mutação de HER2. Boa parte dos pacientes já haviam recebido tratamento sistêmico prévio, como quimioterapia, imunoterapia ou inibidores tirosina quinase (TKI) anti-HER2. O estudo observou que a taxa de resposta objetiva foi de 55% independente do subtipo de mutação do HER2, a SLP de 8,2 meses e a SG de 17,8 meses. Houve altas taxas de neutropenia (35%) e pneumonite (24%), sendo que dois pacientes foram a óbito devido a pneumonite.
Na ASCO 2021 foram apresentadas uma análise de SG e análise exploratória do estudo clínico CodeBreak 100, um estudo de fase 2, que avaliou o uso de sotorasibe em pacientes com câncer de pulmão e a mutação KRASG12C. Todos os pacientes incluídos no estudo eram previamente tratados, já tendo recebido tratamento com quimioterapia e imunoterapia. A taxa de resposta objetiva foi em torno de 37%, e a taxa de controle da doença de 80%. O tempo de resposta foi de aproximadamente 1,5 meses e a duração de resposta de 11 meses. A mediana de SLP foi de 7 meses, e mediana de SG de 12,5 meses. A análise exploratória de subgrupos mostrou uma resposta consistente de sotorasibe, independente das variáveis analisadas. Além disso, sotorasibe apresentou um baixo perfil de toxicidade. Esta atualização revela que sotorasibe tem benefício em pacientes com CPNPC e mutação em KRASG12C, previamente tratados.
Ainda existe uma lacuna no conhecimento sobre qual é o melhor tratamento para pacientes que progridem ao osimertinibe, um TKI com alvo em EGFR. Para responder essa questão, foi desenhado o estudo CHRYSALIS, de fase 1, que utilizou a combinação de amivantamabe (anticorpo biespecífico com alvo em EGFR e MET) com lazertinibe (TKI de terceira geração) em pacientes com CPNPC EGFR mutados que tinham apresentado uma progressão ao osimertinibe e não tinham sido tratados previamente com quimioterapia. Além disso, havia uma previsão de avaliação de potenciais biomarcadores de resposta. A taxa de resposta objetiva foi de 36%, a duração de resposta maior que 6 meses foi em torno de 70% e a SLP de 4,9 meses. Em relação a toxicidade, 78% dos eventos estavam relacionados à infusão da droga, mas podendo ser manejados. O estudo demonstrou que essa combinação apresentou uma resposta neste grupo de pacientes, e o sequenciamento genético identificou um subgrupo que parece ter melhor resposta, que são os que tem resistência a EGFR e MET relacionados.
Para saber mais e se inteirar sobre os comentários dos especialistas, ouça o podcast!
Referências:
Apoio Educacional:
Para saber mais sobre esse câncer de pulmão, acesse: https://canceregfr.com/
Alameda Campinas, 579 – Jardim Paulista, São Paulo – SP, 01404-100
CEO: Thomas Almeida
Editor científico: Paulo Cavalcanti
Redatora: Bruna Marchetti
© 2020 Oncologia Brasil
A Oncologia Brasil é uma empresa do Grupo MDHealth. Não provemos prescrições, consultas ou conselhos médicos, assim como não realizamos diagnósticos ou
tratamentos.