Seguimento de 15 anos demonstra ganho de sobrevida global com capecitabina adjuvante no câncer de mama - Oncologia Brasil

Seguimento de 15 anos demonstra ganho de sobrevida global com capecitabina adjuvante no câncer de mama

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FinXX, um estudo de fase 3, contempla o maior tempo de acompanhamento dentre os ensaios randomizados que avaliaram a capecitabina no cenário neoadjuvante ou adjuvante em pacientes com câncer de mama inicial

Poucos dados estão disponíveis sobre a influência da capecitabina adjuvante na sobrevida de longo prazo em pacientes com câncer de mama inicial. Em janeiro de 2022, foi publicado no Journal of Clinical Oncology o FinXX (Finland Capecitabine Trial; NCT00114816), um estudo de fase III, randomizado, aberto e multicêntrico, que avaliou a adição da capecitabina a um regime de quimioterapia adjuvante contendo taxano e antraciclina para o tratamento do câncer de mama inicial de alto risco.  

Os pesquisadores explicam que, em modelos pré-clínicos, agentes como docetaxel, paclitaxel e ciclofosfamida aumentam a concentração de timidina fosforilase, uma enzima essencial para a conversão de capecitabina em fluorouracil dentro do tumor, sugerindo que a administração concomitante de capecitabina com esses medicamentos aumenta a eficácia em comparação à capecitabina em monoterapia.  

O recrutamento das 1.500 pacientes ocorreu em 20 locais na Finlândia e Suécia, entre 27 de janeiro de 2004 e 29 de maio de 2007. Neste estudo, considerou-se câncer de mama inicial de alto risco – aquele cujos linfonodos estavam comprometidos por neoplasia (pN+); ou quando o linfonodo era negativo (pN0), porém a lesão primária tinha ≥ 20 mm (T2) e a expressão de receptor de progesterona (RP) era negativa (definida como < 10% pela imuno-histoquímica). 

As pacientes designadas para o tratamento experimental (o grupo TX-CEX) receberam um total de 6 ciclos a cada três semanas de quimioterapia contendo capecitabina. O esquema consistia de 3 ciclos iniciais de docetaxel mais capecitabina (TX) e, em seguida, 3 ciclos de ciclofosfamida, epirrubicina e capecitabina (CEX), nas seguintes doses: 

TX: 1 hora de infusão de docetaxel 60 mg/m2 no dia 1 e capecitabina 900 mg/m2 duas vezes ao dia nos dias 1-15 de um ciclo de 21 dias.
CEX: ciclofosfamida 600 mg/m2 e epirrubicina 75 mg/m2 administradas no dia 1 e capecitabina 900 mg/m2 duas vezes ao dia nos dias 1-15 a cada 3 semanas.  

Já as pacientes designadas ao grupo controle (T-CEF) também receberam seis ciclos de quimioterapia a cada 21 dias, porém, com dose maior de docetaxel (80 mg/m2) por 3 ciclos e, a seguir, mais 3 ciclos de CEF (ciclofosfamida 600 mg/m2, epirrubicina 75 mg/m2 e fluorouracil 600 mg/m2, todos administrados no dia 1 do ciclo). Foi permitida a redução das doses de quimioterapia a depender dos eventos adversos observados.  

A terapia endócrina adjuvante foi iniciada dentro de 2 meses após a conclusão da quimioterapia sempre que o espécime apresentasse positividade para receptores de estrogênio (RE) ou progesterona (RP). As pacientes consideradas na pré-menopausa antes do início da quimioterapia receberam tamoxifeno 20 mg/dia e aquelas na pós-menopausa, anastrozol 1 mg/dia, por um total de 5 anos. A radioterapia foi administrada após o término da quimioterapia de acordo com a prática de cada instituição. 

 

RESULTADOS 

A coleta de dados foi encerrada em 31 de dezembro de 2020. O tempo mediano de acompanhamento foi de 15,3 anos no grupo TX-CEX e 15,4 anos no T-CEF. As pacientes atribuídas ao TX-CEX sobreviveram mais do que aquelas ao T-CEF (HR 0,81; IC 95% 0,66 a 0,99; P = 0,037), com taxa de sobrevida aos 15 anos de 77,6% e 73,3%, respectivamente. Segundo análises exploratórias de subgrupo, pacientes com câncer RE negativo e aquelas com câncer triplo negativo tratadas com TX-CEX apresentaram tendência de maior sobrevida em relação ao T-CEF. 

Ressaltam-se que as análises anteriores do FinXX, com base em acompanhamentos medianos de 5 e 10 anos, não apresentaram benefícios estatisticamente significativos para sobrevida global (SG) com a adição de capecitabina, embora os hazard ratios para SG (0,73 e 0,84; respectivamente) não sejam substancialmente diferentes em relação à presente análise (0,81). Provavelmente o FinXX, desenhado para avaliar a sobrevida livre de recorrência como desfecho primário, não teve poder suficiente para SG até então devido ao follow-up curto, levando a uma conclusão prematura de que a adição de capecitabina não prolonga a SG. 

Os autores concluem que a atual publicação do FinXX contempla o maior tempo de acompanhamento dentre os ensaios randomizados que avaliaram a capecitabina no cenário neoadjuvante ou adjuvante em pacientes com câncer de mama inicial. A estratégia melhorou a SG após 15 anos da data da randomização do estudo. O ganho foi estatisticamente significativo, porém modesto (19%). Pacientes com câncer ER-negativo, HER2-negativo e triplo negativo tendem a se beneficiar mais da quimioterapia contendo capecitabina, mas as essas análises de subgrupo pré-especificadas devem ser interpretadas com cautela.  

 

Referências: 

  1. Joensuu H, et al. Adjuvant Capecitabine for Early Breast Cancer: 15-Year Overall Survival Results From a Randomized Trial. Journal of Clinica Oncology. 2022 Jan. DOI: 10.1200/JCO.21.02054.