Balanço do AACR: Encurtando o caminho entre a pesquisa básica e a prática clínica - Oncologia Brasil

Balanço do AACR: Encurtando o caminho entre a pesquisa básica e a prática clínica

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A principal mensagem que o Congresso da AACR deixa este ano é que o caminho entre a pesquisa básica e a prática clínica está cada vez mais curto. Durante entrevista para o Grupo Oncologia Brasil, a presidente da AACR, Elizabeth Jaffee, reconheceu a importância dessa proximidade e disse que está muito otimista com a parceria com a SBOC, para a realização no Brasil, em novembro deste ano, do primeiro Congresso Translacional, que reunirá pesquisadores clínicos e de laboratório.

Em sintonia com Elizabeth, o presidente da SBOC, Dr. Sergio Simon, disse que “a cada ano, essa interface está sendo ampliada, o que é muito importante para ambos, pois a clínica traz muita informação importante para o pesquisador de laboratório e vice-versa”.

O Congresso da AACR deste ano, realizado em Chicago, bateu recorde de público: 2.500 inscritos de aproximadamente 70 países, incluindo o Brasil, que registrou 68 presenças. Durante cinco dias, desde sábado até esta quarta-feira (18), foram mais de seis mil trabalhos apresentados.

Os maiores destaques ficaram por conta de três estudos clínicos apresentados durante a principal sessão plenária, que, justamente por representarem a quebra de paradigma no tratamento de tipos específicos de câncer de pulmão, reforçaram a constatação de que pesquisadores de laboratório e clínicos devem trabalhar cada vez mais próximos.

Na avaliação do médico oncologista Dr. Bernardo Garicochea, do Grupo Oncoclínicas/CPO, o Congresso da AACR “mostra hoje o que o oncologista clínico fará amanhã”.

Veja a declaração do Dr. Sergio Simon.

Veja a declaração do Dr. Bernardo Garicoche.

Mudando paradigmas no tratamento do câncer de pulmão.

Três estudos sobre câncer de pulmão foram apresentados na mais concorrida sessão plenária do Congresso: KEYNOTE-189, CheckMate -227 e IMpower150. O Oncologia Brasil conseguiu antecipar em algumas horas, e dentro do compliance que regulamenta a cobertura jornalística do Congresso, a divulgação de seus resultados especialmente para o público brasileiro.

KEYNOTE-189
Estudo de fase 3 randomizado, duplo-cego, que incluiu pacientes portadores de CPNPC de histologia não escamosa e virgens de tratamento, com qualquer expressão de PD-L1 nas células tumorais. Os pacientes eram randomizados para pemetrexed e quimioterapia baseada em platina associado com pembrolizumabe ou placebo. O estudo sacramenta o papel da imunoterapia na primeira linha do tratamento de pacientes com esse tipo específico de câncer.

Saiba mais em dois vídeos:

CHECKMATE -227
Trata-se de um estudo de fase 3 em pacientes com CPNPC recém-diagnosticados, randomizado, complexo em sua metodologia e estatística, que teve quatro braços de tratamento. Foram apresentados somente os dados referentes à comparação de dois braços – pacientes que possuem alta carga mutacional (> 10 mutações/Mb) eram randomizados entre combinação de nivolumabe e ipilimumabe versus quimioterapia baseada em platina.

O CheckMate -227 inova tanto pela combinação de dois imunoterápicos de ação complementar quanto pelo uso de um biomarcador como critério de seleção. Aproximadamente 45% dos pacientes recém-diagnosticados com CPNPC apresentam alta carga tumoral, que é independente da expressão de PD-L1. A carga mutacional (“tumor mutation burden”) se solidifica como biomarcador. Veja em dois vídeos:

TMB
Com grande destaque principalmente em relação ao CheckMate -227, o biomarcador TMB foi um dos principais temas do Congresso. O maior desafio agora é incorporá-lo à prática clínica, especialmente no Brasil. Acompanhe com detalhes no vídeo do Dr. Marcos André Costa

IMpower150
O estudo IMpower150 foi conduzido pelo Dr. Mark Socinski em pacientes com câncer de pulmão de não pequenas células dos subtipos não escamosos com estágio IV ou recidivado. Os pacientes foram randomizados em três braços: (A) com carbo-taxol e atezolizumabe, um inibidor de PD-L1 (imunoterapia); (B) com carbo-taxol, Avastin e atezolizumabe; (C) com carbo-taxol e Avastin.

Os dados apresentados fazem a comparação do braço B com o braço C. Foram 1.202 pacientes incluídos. O desfecho primário foi sobrevida livre de progressão. A sobrevida livre de progressão já tinha sido apresentada no ano passado e já se sabia que o estudo era positivo em sobrevida livre de progressão com hazard ratio de 0,62, ou seja, uma redução de 38% na recidiva ou progressão durante o acompanhamento. Saiba mais em dois vídeos:

Biópsia líquida
Seu uso em alguns tumores, como câncer de pulmão, já faz parte da rotina de diversos serviços médicos. Trata-se da possibilidade de diagnosticar as mutações que estão no tumor e podem ser detectadas em pequenos pedaços de DNA que caem na circulação sanguínea, chamados de DNA circulante livre. Isso pode ser feito com a coleta de sangue periférico de plasma. Saiba mais em dois vídeos:

Metaboloma, epigenética e inteligência artificial.
Um dos trabalhos apresentados no Congresso mostrou as alterações genéticas e de metabolismo que ocorrem com os obesos, que tendem a ter vários tipos de câncer, como de intestino, mama, próstata e pâncreas, trazendo uma mutação na dinâmica de como as células se comportam.

Além das oportunidades de pesquisa sobre metabolismo envolvendo arginina e glutamina, os estudos estão focando o metaboloma. Estudos de epigenética também foram apresentados. Trabalhos sobre o uso de inteligência artificial para auxiliar médicos no diagnóstico e na melhor escolha para tratamento também chamaram a atenção do público presente no Congresso da AACR. Veja em dois vídeos da Dra. Nise Yamaguchi:

Em busca do diagnóstico cada vez mais precoce.

Muitos trabalhos foram apresentados no Congresso sobre os esforços em busca do diagnóstico cada vez mais precoce do câncer. O conhecimento e desenvolvimento de novas estratégias e tecnologias permitem a caracterização do ponto de vista molecular desses diversos subtipos de doenças. Tal cenário contribui para a avaliação do grau de heterogeneidade e, assim, cada vez mais conseguimos individualizar a condução do tratamento para cada paciente. Conheça melhor o assunto no vídeo do Dr. Mariano Zalis.

KEYNOTE-054 e BLU-667
Segundo o Dr. Fernando Santini, até mesmo estudos em fases iniciais apresentados no Congresso da AACR podem ser aproveitados no dia a dia da oncologia clínica. Ele citou o KEYNOTE-054, que envolve pacientes com melanoma estágio III, com alto risco de recorrência após a cirurgia com o uso de pembrolizumabe. O estudo demonstrou importante ganho de sobrevida livre de recorrência em um ano e, devido a sua relevância, está sendo publicado concomitantemente no The New England Journal of Medicine.

Já o BLU-667 envolve um inibidor específico do RET para paciente com adenocarcinoma de pulmão, incluindo até pacientes com tumor de tireoide do tipo papilífero e medular.

Saiba mais.

A próxima edição do Congresso da AACR será em Atlanta, de 30 de março a 3 de abril de 2019.